segunda-feira, 30 de novembro de 2009

KÓSTAS KARYOTÁKIS

ÁRVORE
-----------Kóstas Karyotákis


Com rosto indiferente e ar de pouco caso,
saúdo as madrugadas, os ocasos.

Árvore, hei de olhar, com mirada isenta,
o céu azul ou a fúria da tormenta.

A vida, digo, é féretro no qual
dor e alegria do homem têm o seu final.

-----------------in Nepente [Nipénthi, 1921]

Tradução de José Paulo Paes
Kóstas Karyotákis (1896-1928) e sua poesia ficaram como representativos da geração dos anos 20 do século passado na literatura grega.
Poesia Moderna da Grécia. Seleção, tradução direta do grego, prefácio, textos críticos e notas de José Paulo Paes. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986.

domingo, 29 de novembro de 2009

FUI


Konstantinos Kaváfis

Não me deixei prender. Libertei-me de todo e fui

em busca de volúpias que em parte eram reais,

em parte haviam sido forjadas por meu cérebro;

fui em busca da noite iluminada.

E bebi então vinhos fortes, como

bebem os destemidos no prazer.

Tradução de José Paulo Paes diretamente do grego, ou melhor, do neogrego, o grego coloquial herdeiro da koiné (a língua comum). Kaváfis nasceu em 1863 e morreu em 1933 em Alexandria no mesmo dia e mês, 29 de abril.

Konstantinos Kaváfis/ Poemas. seleção, estudo crítico, notas e tradução por José Paulo Paes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1990. (Coleção Poiesis)

PRESENTE DE GEORGIO RIOS


GIRASOL
-----------Georgio Rios

Para Gerana Damulakis

A flor do poema pede pássaros
Pede a música rara dos imensos temporais
Suas asas plásticas

(Seus solos)

Há música na flor do poema.
É possível ouvir os ventos
Invadirem os ouvidos,
leves...

Aqui , junto aos pardais,
é possível ouvir
o insistente silvar do vento
que anuncia:

Eis que vem Gerana
Com espadas de metáfora.

Georgio Rios tem o blog Modus Operandi (http://georgio-rios.blogspot.com/)

sábado, 28 de novembro de 2009

NOSSO CRISTO SALVADOR: MEU OLHAR DIÁRIO PARA ELE

















Gerana Damulakis

O Rio de Janeiro tem o seu Cristo Redentor (à esquerda da tela) e Salvador, Bahia, tem seu Cristo Salvador.
Adoro admirar ambos, mas o meu (nosso, dos soteropolitanos) recebe um olhar diário. Daquela sinaleira ali perto, não resisto a lançar-lhe uma mirada. E fiquei sabendo por Aramis Ribeiro Costa que o nome Cristo Salvador, assim como o do Cristo Redentor, tem relação com a postura da figura.
O nosso Cristo, na Barra, foi esculpido pelo italiano Pasquale De Chirico em Gênova e chegou na Bahia a pedido do desembargador José Botelho Benjamin como uma doação, um presente para a cidade. Em decorrência disso, o Cristo é propriedade da prefeitura municipal de Salvador.
O monumento chegou pelo navio Cervino. Sua inauguração, com solenidade, se deu em 24 de dezembro de 1920. Houve discurso do orador sacro de então, padre Luiz Gonzaga Cabral.
O Cristo está feito em mármore de Carrara, mede 7m no total, sendo de 2,80m a estátua. Ela fica sobre um pedestal de concreto, revestido de placas de mármore escuro.
Contudo, o Cristo não esteve sempre no morro do Ipiranga, Avenida Oceânica - trecho da Barra. Primeiramente foi colocado no Monte de Jesus, morro da Aeronáutica, em Ondina. No ano de 1967 deu-se a transferência por causa da pedreira que havia ali e que estava pondo em risco o Cristo.
Eu, confesso, não sabia tais dados e já conheci o Cristo onde ele está, para onde olho, para onde olhei hoje, quase agora, admirando-o sempre.

ENTREVISTA COM ARAMIS RIBEIRO COSTA



A revista Verbo21 de novembro traz uma entrevista com o escritor Aramis Ribeiro Costa, respondendo ao poeta Luís Antonio Cajazeira Ramos. http://www.verbo21.com.br

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A MÃO DO AMO




Gerana Damulakis


Esta vertente narrativa do escritor argentino Tomás Eloy Martínez (1934- ) presente em A mão do amo ( Companhia das Letras, 2008), com tradução de Sérgio Molina e Lucas Itacarambi, foge completamente do que se conhece de títulos seus, tais como Santa Evita, O cantor de tango e O romance de Perón, chamados "ficções-verdade".
O “grande” personagem da história é um anti-herói chamado Carmona, cantor lírico porque a mãe assim decidiu. A mãe é a clássica castradora, fonte de uma vida arruinada.
Os personagens são: "Mãe", "Pai", as "Gêmeas", a valorizada sra. Doncella e a presença real ou ilusória dos gatos, estes últimos motivo do ódio de Pai e motivo da idolatria de Mãe; além destes há os "turcos" (vizinhos), há as Montanhas Amarelas, onde os pais de Carmona começaram a namorar e onde, pela primeira vez, os gatos já mostram sua importância na história, seja com seu "coro", seja como razão da negação de Pai, quando não de seu ódio explícito.
Martínez não deixa de colocar o quanto o verbo "amar" e o substantivo "amo" são semelhantes a "mama", "mãe", descoberta feita por Carmona ainda criança e inocente, talvez trazida pelo inconsciente, que já captava o poder daquela mãe, daquela mão dominadora, mão de amo. Carmona nasceu com "voz absoluta", mas não conseguirá realizar os sonhos de Mãe, seguirá dependendo do seu amo.
A Mão do Amo quer-se um "romance de formação", com toques surrealistas, mas com uma finalização clara porque, contas feitas, nos lembra que as pessoas só nos fazem aquilo que deixamos que elas façam.

"FAZENDO POESIA,VAMOS, OS DELICADOS"

Gerana Damulakis

Kátia Borges não precisa mais de avaliações. Sua poesia já está inserida na literatura baiana contemporânea como uma das vozes mais singulares. Voz enriquecedora, pois que aumenta a quilatagem que a nossa poesia alcança. No implacável conteúdo emocional, nas constatações que procuram a cumplicidade do leitor, a poeta alicia.
O segundo livro de poemas de Kátia Borges, Uma balada para Janis (P55 Edições, 2009), da Coleção Cartas Bahianas, traz algumas mudanças substancias se comparado com De volta à caixa de abelhas (SCT/ FUNCEB/ EGBA, 2001), da Coleção Selo Editorial Letras da Bahia. Primeiramente por tratar, já no título, de uma empreitada maior do que a anterior, a qual reunia poemas sem enlaçar, digamos, um determinado tema. Daí que, seja apenas devido à essência poética, seja pelo necessário movimento sequencial do texto de agora em cima de um personagem (vida e morte), carregando-o ou sobrecarregando-o de maior responsabilidade, um acréscimo se deu em relação ao livro de estreia.
A escrita poética foi tecida com precisão para que se saiba exatamente sobre o que deve ganhar reflexão. Vem, portanto, ajudada por sua dicção peculiar, como se um prisma fosse, deixando a integração por conta da combinatória temática sugerida desde o título.
Sim, porque A balada para Janis não é o título de um poema que foi parar na capa como título do volume: o volume mesmo tem quatro poemas, todos relacionados ao mundo de Janis Joplin, do nascimento até a morte.
O primeiro poema é “Port Arthur, Texas”. A cidade Port Arthur, onde nasceu Janis, no Texas: seus 10 cantos – sim, vou chamar de cantos – falam de uma menina ( a poeta, há um “eu”), de uma infância, de sua mãe e de seu pai e do medo do que há por vir. Lugares são frisados, o título fala no Texas, mas os cantos falam da Baía de Todos os Santos, de Barra Grande.
1.
Mãe, não ponha a mesa,
parece que sou visita,
parece que sou princesa.
Ah, é, sim, ela me diz,
naquele seu jeito terno dela,
para mim, você é princesa.
Depois de recordar, de lembrar uma festa sem herói, no canto 10, encerrada está a infância: “Minha infância é um país/ destruído, do qual parti em sobressalto,/ numa noite sem sonhos”. Mas é como num sonho que o leitor encontra atrás daquele “eu” que falava com a mãe, uma voz de mulher que vai partir: “não sei dos outros,/ mas cheguei aturdida/ - sem adolescência que desse conta,/ do passaporte e da bagagem - / numa outra espécie de vida”.
Assim a viagem interior começa e o título nos deu a pista de que não se deve perder de mira a ambiguidade; as mulheres são duas, apenas uma pode olhar para a outra, uma delas já não existe.
O segundo poema é “High Ashbury, San Francisco”. Quando Janis se aproximou de uma comunidade hippie em Haight-Ashbury, San Francisco, sua carreira finalmente se iniciou e logo ela gravou um disco. Três anos depois, Janis esteve no Brasil e foi expulsa do Copacabana Palace, quando nadou nua na piscina do hotel. São 11 cantos.
1.
Nossa Senhora de Copacabana,
daí-nos o Sol todos os dias,
mesmo no Inverno. Dai-nos
o seu calor sem termo,
Nossa senhora de Copacabana.
Há sombras, uma história de um piquenique, de novo a Baía de Todos os Santos, a Carlos Gomes, a Praça Castro Alves: não há dúvida, o poema continua também em Salvador. Ao fundo, toca um rock. O mais sublime prevalece:
7.
Espero
com a paciência dos desesperados
que o destino teça seus dramas

Dama
ás que Deus guardou na manga
para provar que existe e é bom.

[quando eu já duvidava]
Não existem mais mistérios
o meu aparelho é stereo e vai do jazz ao
[rock n’roll

[e ouço poesia, todo dia, no volume máximo]
Neste ponto, confesso que senti o quanto o lado da contadora Kátia está aparecendo, sobrepondo, por vezes, a lírica com gosto de mel (mas não melosa, atentar na diferença, pois Kátia jamais fez poesia água com açúcar) daquela caixa de abelhas. Quanto engano. Já no 8 e seguindo o 9, o 10 e o 11, encontro “coração aberto”, “olhos brilhantes” e amor.
Em 9, a referência é clara, estamos a sós com Janis: “Só lembro dos olhos brilhantes/ da moça dentro da piscina,/ bebendo uísque numa caneca”, enquanto a outra aparece na estrofe seguinte: “Só lembro dos olhos brilhantes/ da boneca, desfilando, seminua,/ na Carlos Gomes...” Um jogo, a poeta vê, ela vê Janis em alguém. Vale apontar uma homenagem merecida para o poeta Damário Dacruz, citado no terceiro verso do canto 11.
O terceiro poema, “Pearl”, título do álbum de JJ, lançado 6 meses após sua morte. Talvez o poema que mais me encantou. São 15 cantos. O de número 14 é especialmente interessante e novamente conta, pois vemos um aeroporto, uma alfândega, uma moça e, no entanto, é poesia, pura poesia. Este o mistério de Kátia Borges, seu jeito de dizer, cada vez mais próprio.
O quarto, “Landmark Hotel”, nome do hotel em cujo quarto Janis morreu de overdose. O 11 aborda um suicídio planejado. Os poemas com os números 5 e 7 e a sensação do 14 leitura e releitura. O 15 traz de volta a poeta, ela mesma e sua memória. Enfim, do jeito de KB: reviver através da poesia.
5.
Fazendo poesia, vamos, os delicados,
sendo triturados pelas engrenagens
desta grande máquina. Alguns,
mais selvagens, farão versos com sangue,
escrevendo impropérios com a ponta das unhas.
Outros, mais tranquilos, perseverarão
no lirismo com o que lhes restar de sanidade.
Fazendo poesia, vamos, os delicados,
sendo triturados pela grande máquina
(até que Deus nos salve).

FRASES NECESSÁRIAS

Gerana Damulakis

Mario Quintana (1906-1994) deixou uma poesia que geralmente é rotulada como simples. Eis algo que me intriga. Assim ocorre também no caso de Manuel Bandeira, profundo conhecedor de poesia, poeta capaz de um soneto ou de versos saídos de uma notícia de jornal: nada há de simples na poesia de Manuel Bandeira, pelo menos não no sentido pejorativo atribuído a esse “simples”.
Mario Quintana – o Mario é sem acento – tem poemas belíssimos e frases belíssimas. A construção, poema a poema, verso a verso, frase a frase (como querem alguns), deixa evidente a elaboração e o talento.

Igualmente um grande tecedor de frases é o poeta Manoel de Barros (1916- ). Já ouvi alguém dizer sobre Manoel de Barros: "É um 'frasista' apenas". Que tal "apenas" reconhecermos que as frases são achados poéticos, que nos encantam, que nos fazem refletir? E, às vezes, precisamos de uma frase, precisamos repetir uma frase até a exaustão, precisamos ser convencidos... ah, como precisamos!

De Mario Quintana:

O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...

De Manoel de Barros, um verso lido há muito tempo, mas inesquecível:

Caracol é uma solidão que anda na parede...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

HERMANN HESSE: NÃO LEIA!

Gerana Damulakis

Hermann Hesse (1877-1962) foi o primeiro escritor que me levou a esgotar a leitura de todos os seus livros traduzidos no Brasil: meus preferidos não eram Demian e Sidarta, eram O jogo das contas de vidro, Knulp, Gertrud (este romance é especial), Narciso e Goldmund. Até hoje, fiel a mim mesma, conservo a compulsão. Se me encanto muito com dado livro de um autor, procuro ler os demais títulos, haja vista ter sido assim com Jane Austen, Henry James, Machado de Assis, Lima Barreto, Kafka, Dino Buzzati, Hemingway, Nabokov, Kawabata, Italo Calvino, Italo Svevo, Miguel Torga, Saramago, Ian McEwan, Haruki Murakami, Philip Roth, Coetzee, Kadaré e tantos outros, bastando que eu vire a cabeça e olhe para eles, aqui atrás de mim. Em tempo: estou fazendo o mesmo com Bolaño e Millás. Adoro listas, mas não farei uma lista agora.
Há uma historinha envolvendo Hesse. Na adolescência, muito fascinada pelo escritor alemão, naturalizado suíço, Nobel de Literatura, devorava um título após o outro e estava no mesmo sofá da biblioteca de meus pais, citado na postagem abaixo, quando chegou meu tio e padrinho, irmão de minha mãe, o jornalista e escritor Flávio Costa, um dos fundadores do Jornal da Bahia, depois editor das revistas Fatos & Fotos, Senhor, autor de Além das torres do Kremlin e A China está mais perto. Muito bem, chegou meu tio, assumidamente comunista (foi inclusive para a França, exilado, mas nessa altura já havia voltado, com a abertura) e disse para minha mãe: “Ela está lendo Hermann Hesse, não deixe que ela fique lendo isso, Eliana. Ela precisa ler os russos”. Eu ouvi, mas minha mãe não me mandou ler os russos. Eu mesma, depois que ele se foi, abri as portas de vidro que protegiam os livros do pó e peguei um dos volumes da suposta obra completa de Dostoiévski: era “Noites Brancas”. A obra era traduzida do francês, entre os tradutores estava Raquel de Queiroz (por conta disso, já reli a obra de Dostoiévski nas traduções, estas sim, diretamente do russo, de Boris Schnaiderman e de outros tradutores da escola de Boris).
Resultado: levei três anos lendo apenas autores russos, porque de Fiódor passei para Tchekhov, Tolstói, Turguêniev e tantos mais. Foi difícil sair da literatura russa. Culpa de meu tio.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ZÉ LINS: O ANUNCIADOR


Gerana Damulakis


Não, não foi por causa da literatura de José Lins do Rego (1901-1957) que virei leitora. Já lia muito e muito antes do que vou contar. Estava lendo na biblioteca dos meus pais, contava com 13 ou 14 anos, e, terminada a última página de Pedra Bonita, fechei o livro, virei o livro para alisar a capa e senti, mas senti de uma maneira forte e sem volta: ler é uma das coisas mais prazerosas da vida.
Encontrei no Google exatamente a foto da edição de Pedra Bonita que foi acarinhada enquanto conscientemente fiquei sabendo que jamais conseguiria parar de ler. Minha mãe tem a obra completa de Zé Lins e até hoje eu não trouxe tais livros para mim, assim como não li Pedra Bonita em um dos volumes dela. Eu comprei o meu exemplar de Pedra Bonita, pois naquele tempo já começava a minha biblioteca. Hoje, posso dizer sem falsa modéstia que o bom gosto era notório (estou brincando, não existe “bom gosto”, existe o gosto de cada um): havia comprado, guiada por meu próprio juízo de valor: A paixão segundo GH, de Clarice, Antologia de poemas de João Cabral de Melo Neto, A volta do parafuso, de Henry James e tudo, mas tudo mesmo, que havia em tradução para a nossa língua, de Hermann Hesse (e não eram poucos os títulos). Sobre este último, Hermann Hesse, há uma historinha também. Ainda contarei. Hoje é dia de rotular Zé Lins como o anunciador.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

GÊNIO É GÊNIO



Gerana Damulakis

Guardo na memória inúmeras conversas literárias com o escritor Hélio Pólvora e uma delas foi justamente sobre Vladimir Nabokov (1899-1977). Creio que na época eu estava lendo Pnin. Hélio me disse que ao ler Nabokov, sentimos a genialidade do escritor, há inteligência "borbulhando" no texto. Íamos para a Academia de Letras da Bahia. Estranho como guardamos até o local onde foi dito algo tão definitivo e com o qual concordamos.
Sou tão fanática por Nabokov que tenho até raridades, tais como Somos todos arlequins, A verdadeira vida de Sebastião Knight, O mago, todos precisando reedições.
Mas a Alfaguara Brasil está lançando hoje O original de Laura, com tradução de José Rubens Siqueira. Trata-se de um romance a partir de fichas deixadas por Nabokov. Nas instruções para sua mulher, Vera, ele pedia para o romance não ser publicado. Ela não teve coragem de destruir o livro que a morte do grande escritor russo interrompeu. Não destruiu e não publicou. Depois da morte de Vera, a decisão passou para o filho, Dimitri, que somente este ano resolveu publicar.
Como Nabokov foi um gênio, decerto valerá a pena a leitura do texto inacabado. Simplesmente porque o estilo estará presente, a inteligência "borbulhando" nas páginas estará presente; enfim, a genialidade estará presente.

domingo, 22 de novembro de 2009

MESTRE DO MINIMALISMO? FOI ENGANO



Gerana Damulakis

Bastante oportuna a reedição dos contos do americano Raymond Carver (1938-1988) para evidenciar o quanto suas narrativas estão longe da corrente literária - o minimalismo -, na qual estavam incluídas.
Vítima do seu editor, Gordon Lish, da editora Knopf (Nova York), a coletânea de 1981, Do que estamos falando quando falamos de amor, foi reduzida à metade; tal corte, ao fim e ao cabo, modifica completamente os textos de um escritor.
Iniciantes (Companhia das Letras, 2009), com tradução de Rubens Figueiredo, traz o verdadeiro escritor, com contos longos, sem lacunas, sem finais súbitos.
Conto de mestre: "Uma coisinha boa". Inesquecível, para mim.

O MAIOR DA NOSSA LÍNGUA

Trechos diversos que me ocorreram por conta da leitura de O seminarista, de Rubem Fonseca, que cita Camões, e que faz o personagem dizer versos de Camões.

Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças

.........................................................................

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

....................................................................................

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...

Camões

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

VASTAS EMOÇÕES

Gerana Damulakis

Cheguei da rua (do shopping, melhor dizendo, porque os baianos andam em shoppings – quantos, não é verdade? Alguém já parou para pensar a razão da existência de tantos em uma cidade tão bela, com um clima maravilhoso, céu azul, mar azul e nós, baianos, sempre andando dentro dos shoppings) com meu exemplar de O seminarista (Agir, 2009), pretendendo fazer minha postagem diária, a qual, como Kátia Borges já percebeu, é feita depois das 22, ou 23 horas. Muito bem, penso Vou apreciar o livro, pegar, cheirar... mas, sem resistir, acabei abrindo. Resultado: embora a pilha alta na cabeceira – Bolaño é o mais alto (vale atentar no duplo sentido) -, embora a hora adiantada, penso Lerei um capítulo, apenas um. Muito bem, de novo e de novo o resultado: não apareci aqui para fazer a postagem, preferi ficar com Zé.
Zé é sedutor. Não se começa a ler José Rubem Fonseca impunemente. O preço é ir até o fim. O personagem, o seminarista, Zé como seu autor – depois ele mudará para José Joaquim Kibir, homenagem aos avós portugueses e à batalha de Alcácer-Quibir -, seduz completamente.
Rubem Fonseca abriu um caminho na literatura brasileira ao trazer as ruas de uma forma diferente - com mais realidade?-, ruas por onde andam o tipo cruel e o tipo inocente, a mulher bondosa e a vadia. Fundamental, portanto.
Sua prosa é ágil, parece que está falando com o leitor. Zé é como todos nós; nós somos complexos, múltiplos, mas Zé tem a clareza que o faz distinguir entre o poder de suas ações “profissionais” e o poder das suas palavras e das palavras alheias (ele cita muito, geralmente em latim – foi seminarista).
Será sempre reducionista o juízo de valor que disser que O seminarista é apenas uma história policial, pulp, de bandido. A grande questão é o ser humano, a busca de salvação através do amor, a tentativa de emergir de um poço que já parece muito fundo.
Maria Muadiê escreveu um comentário para dizer o quanto gosta do título de um romance de Rubem Fonseca, Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Uma enorme coincidência! Assim como os versos dos meus poetas preferidos surgem do nada (do nada?) nos meus pensamentos, também os grandes títulos são lembrados. Sem mais nem menos, por alguma associação, digo Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Romance excelente, por sinal.
Qualquer livro de Rubem Fonseca nos traz vastas emoções.

Foto: divulgação/ Zeca Fonseca. Retirada do site http://www.oseminaristaolivro.com.br/

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

RUBEM FONSECA: FUNDAMENTAL

O seminarista (Agir, 2009), de Rubem Fonseca, tem um site onde se pode ler um trecho do livro, assistir um vídeo ouvindo a voz do escritor a ler um trecho do conto "A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro" e muito mais.
http://www.oseminaristaolivro.com.br/

OS 5 PIORES LIVROS DA DÉCADA


No Times on line estão os 5 piores livros da década. O Código Da Vinci, de Dan Brown, é o nº 1.
Concordo plenamente. E não sou da linha do "não li, não gostei". No máximo, posso começar com certo preconceito. E comecei, mas li 50 páginas. Senti que estava pagando uma penitência: refleti, não encontrei pecados que justificassem o martírio e parei a leitura.
Basta clicar no endereço abaixo para conferir.

POESIA VIVA


terça-feira, 17 de novembro de 2009

2666

GD
Eu já li todos os títulos de Bolaño em português BR. Já escrevi aqui sobre Bolaño. Mas não aguentei esperar por 2666. A língua é a mesma, então a leitura será no volume da Quetzal.
Palavras? Páginas e páginas depois, direi.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

NINGUÉM MEU AMOR

Foi através do blog Hiphergetto (está nos meus favoritos) do poeta e contista João Filho, que fiquei conhecendo o poeta português Sebastião Alba.
Procurei, então, na antologia Quinze Poetas Portugueses do Século XX, seleção e prefácio de Gastão Cruz (Assírio & Alvim, 2004), presente de um amigo que voltou de Portugal, mas não encontrei o poeta Alba.
João indica, na sua postagem, um site ótimo para quem gosta de poesia e foi de lá que ele retirou os poemas de Sebastião Alba. Escolhi “Ninguém Meu Amor”, habitante de mim desde a primeira leitura. GD

NINGUÉM MEU AMOR
Sebastião Alba

Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos.

Sebastião Alba nasceu em Braga, Portugal.

domingo, 15 de novembro de 2009

SUÍTE DAMA DA NOITE



Pois como poderia eu dizer sem que a palavra mentisse por mim? como poderei dizer senão timidamente assim: a vida se me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo. E então adoro.——————”
Clarice Lispector in A Paixão Segundo GH

Não saberia responder se alguém lhe perguntasse, afinal, quem era ela de verdade naquele momento, tampouco se seria capaz de prolongar aquele estado até sua plenitude, mas estava ali, e mais, maior que isso: estava sendo. Estava sendo e tinha curiosidade. Uma curiosidade infinita. Finalmente Júlia Capovilla vivia, e apenas, em profundidade,
---------------------------como nunca, desejava viver.
Manoela Sawitzki in Suíte Dama da Noite


Gerana Damulakis

Uma revelação, para mim. A vírgula merece atenção. O romance Suíte Dama da Noite (Record, 2009) foi uma revelação, para mim. O romance da escritora Manoela Sawitzki não é uma revelação, pois já não se trata de uma voz nova que se revela. Ela tem uma estrada caminhada: seu primeiro romance foi Nuvens de Magalhães (Mercado Aberto) e a peça Calamidade (Funarte) rendeu-lhe o Prêmio Açorianos de Melhor Dramaturgia de 2006. Jornalista, colaboradora das revistas Bravo! e Aplauso, trabalhou em roteiros de cinema e televisão.
A história de Suíte Dama da Noite é uma história de amor, mas a ênfase está na expectativa da realização desse amor. E ele se realiza, não sendo, por tal, o que mais importa. A escritora mira a alma transtornada de uma mulher, Júlia Capovilla, plena de perturbações: a obsessão por um homem que conheceu menino (ela também menina) e que atravessa sua juventude, a satisfação por mentir tão bem, a perdição de seus pensamentos.
Porém, ainda não disse a razão do livro ter sido uma revelação. Eis: a elaboração do romance é engenhosa e a história fica bem urdida por conta da edificação do texto. Cada capítulo traz, no início, na página direita, uma mentira; de saída, mentiras que ouvimos no cotidiano, tais como Estou com pressa, Está tudo bem, mas quando a narradora está tratando de Júlia Capovilla ainda criança, as mentiras são típicas daquelas usadas por crianças, sobre o pai, sobre a mãe, sobre a avó, sobre a tia - um cuidado a mais da autora. Na página esquerda, algumas palavras encabeçam e serão relidas, as mesmas, encerrando o capítulo. São quatro partes, cada uma com seus capítulos e seu ritmo. Os pensamentos de Júlia estão sempre entre parêntesis e não obedecem às regras da pontuação, como costumam ser os pensamentos.
Única ressalva: ecos de Clarice Lispector; ainda bem que nem sempre os ouvi. Creio que a literatura brasileira escrita por mulheres chegou a um ponto que, embora Clarice tenha sido e seja fundamental, já é hora de largar sua mão. E Manoela pode seguir com as mãos livres. Ainda escreverei sobre o assunto: Clarice Lispector e Rubem Fonseca, fundamentais, mas...
O escritor angolano Ondjaki, que assina “as orelhas” do livro, registra a importância do romance de Manoela no momento literário: “Manoela Sawitzki inscreve assim, na literatura contemporânea brasileira, um poderoso retrato das querenças, relações e contradições humanas, partindo do olho de um oculto furacão chamado Júlia Capovilla.”

Suíte Dama da Noite, de Manoela Sawitski: uma revelação, para mim.


Foto de Manoela Sawitzki retirada do blog Máquina de escrever.

sábado, 14 de novembro de 2009

ILUSÕES DA VIDA

GD

São 5 os volumes da Antologia dos Poetas Brasileiros (Nova Fronteira, 1996) com organização de Manuel Bandeira. Abro o volume Poesia da fase romântica e vou ao poeta que desejo. Não sei a razão nem quero pensar sobre ela. São versos que surgem e pedem por releitura. Só isso.

ILUSÕES DA VIDA

----------------Francisco Otaviano

Quem passou a vida em branca nuvem,

E em plácido repouso adormeceu;

Quem não sentiu o frio da desgraça,

Quem passou pela vida e não sofreu;

Foi espectro de homem, não foi homem,

Só passou pela vida, não viveu.



Ilustração: "Meu vestido pendurado ali", de Frida Kahlo, 1933.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

JEAN-PHILIPPE TOUSSAINT: FAZER AMOR E FUGIR


Gerana Damulakis

Foi no começo deste novembro, no tradicional almoço, no restaurante Drouant, em Paris, que os membros da Academia Goncourt concluíram sobre o mais importante prêmio literário francês: o resultado favoreceu a escritora de origem senegalesa Marie NDiaye, pelo romance Trois femmes puissantes (Gallimard).
Marie NDiaye contou com cinco votos, contra dois para Jean-Philippe Toussaint e um para Delphine de Vigan.
Não conheço a obra de NDiaye. Preciso ler urgentemente algum livro da vencedora do Prêmio Goncourt 2009.

Conheço e admiro os dois romances que li de Jean-Philippe Toussaint. Estivemos trocando algumas palavras sobre o estilo do escritor, Mayrant Gallo e eu, ambos concordando que o romance Fugir foi uma leitura que proporcionou prazer e admiração estética.

Sobre Fugir (Bertrand Brasil, 2008), o escritor Mayrant Gallo escreveu no seu blog Não leia! (http://nonleia.blogspot.com/): “O mais recente romance do belga Jean-Philippe Toussaint elege a narrativa oriental como tom e faz da linguagem um meio para captar cores, formas, odores, sensações, espaços, épocas, objetos, atmosferas perdidas ou que vão se perder. Ao fim, descobrimos que tudo, da primeira à última palavra, do gesto mais brusco ao olhar mais sutil, forma uma aventura que vai obrigar o protagonista a tomar uma decisão, responder à pergunta: "Será que eu acabaria tudo com Marie?" Ora, ele já respondeu que sim, na segunda linha do romance: "No verão anterior à nossa 'separação', tinha passado algumas semanas em Xangai (...)". Só não sabemos como. O romance é este 'como', e passa por Xangai, Pequim e pela ilha de Elba, onde tudo se decide, em braçadas marinhas de desespero, pavor, amor e amizade. Um périplo no qual a história pouco importa. O fluxo da vida não permite organização com começo, meio e fim precisos. Apenas experiências, que ora faltam ora sobram, e com as quais, se a vida não é clara, benéfica, ao menos torna-se suportável”.

Fazer Amor (Globo, 2005), mais instigante ainda do que Fugir, traz uma metáfora que se realiza totalmente no final do livro. Como uma metáfora se realiza? Na minha opinião, é a grande nota do romance, impossível de ser aqui adiantada sem que se revele muito. O homem e a mulher, Marie, são os mesmos em ambos os livros. Ela é estilista e o casal foi a Tóquio para uma exposição dos modelos de Marie. Sabem que se amam, mas que precisam da separação. Pequenos terremotos servem à perfeição para acrescer de significado o “fazer amor” daquelas duas pessoas. Todo o romance é uma preparação para o término da relação, mas sem palavras, sem debate. E ele leva na viagem um frasco contendo ácido. Não, não há morte, senão a do amor.Há um suave toque de melancolia à moda oriental, não há alarde e peripécias, há um caminho a ser percorrido.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

BANDEIRA E JUNQUEIRA


A noite... O silêncio...
Se fosse só o silêncio!

"Noturno da Mosela" in O Ritmo Dissoluto


Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do
------------------------------------------horizonte?
-O que vejo é o beco. --------------------------------------- --

"Poema do Beco" in Estrela da manhã



Sempre com Bandeira porque necessito de Bandeira. Seus versos vão e voltam em meus pensamentos. Já escrevi aqui muitas vezes sobre o poder dos versos de Manuel Bandeira no meu cotidiano.

Um modo de chegar mais diretamente aos "poemas necessários" é pegar o livro do poeta, tradutor e ensaísta Ivan Junqueira, Testamento de Pasárgada (Nova Fronteira, 2003). Seleta para morar na cabeceira. O modo como Ivan Junqueira construiu a antologia por seções, abrindo cada uma com epígrafes do poeta, seguindo com seu texto crítico e poemas de diferentes fases de Bandeira - de saída, tal originalidade neste tipo de trabalho é ousada e enriquecedora - resulta no traçado dos perfis da poesia bandeiriana e, enfim, resulta num intinerário das sensibilidades do poeta.

Assim, são primorosas as obras de crítica escritas por poetas sobre poetas, sem a burocracia acadêmica, pois esta - a burocracia acadêmica - na maior parte das vezes traz uma obra que está no topo da montanha para a planície (expressão de Aramis Ribeiro Costa, que gosto muito - da expressão e do escritor que a diz).

Na mesma linha, além do Testamento de Pasárgada, de Junqueira, encontro a obra crítica que engrandece e abrilhanta a poesia de Manuel Bandeira em Humildade, Paixão e Morte - A poesia de Manuel Bandeira, de Davi Arrigucci Jr. (Companhia das Letras, 1990), Manuel Bandeira: uma poesia da ausência, de Yudith Rosenbaum (Imago, 1993) e Forma & Alumbramento - Poética e poesia em Manuel Bandeira, de Ruy Espinheira Filho (José Olympio, 2004).
GD


Monumento Escultório Manuel Bandeira
Av. Presidente Wilson, Centro, Rio de Janeiro
Escultor Otto Dumovich
19/04/2007

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

NUNO RAMOS VENCE O PRÊMIO PORTUGAL TELECOM DE LITERATURA

Gerana Damulakis

Diretamente de Portugal, fico sabendo por minha amiga Maria Helena, que Nuno Ramos venceu o Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, na sua sétima edição, com o livro Ó, editado pela Iluminuras.

O livro de Lourenço Mutarelli, A arte de produzir efeito sem causa, ficou em terceiro lugar, atrás do veterano João Gilberto Noll, com o romance Acenos e Afagos.
Júri final do Telecom: Antonio Carlos Secchin, Beatriz Resende, Benjamin Abdala Júnior, Leyla Perrone- Moisés, Regina Ziberman, Sérgio Sá.

Sugestão: na Copa de Literatura (http://copadeliteratura.com/) há excelentes avaliações críticas para os livros: de Mutarelli, vencedor do jogo 7, lido por Luís Francisco Carvalho Filho, e de Noll, participante do jogo 6, lido por Fabio S. Cardoso.
Lembremos que o vencedor do mesmo prêmio no ano passado foi Cristovão Tezza, com O filho eterno.

HOMENAGEM PARA O POETA GREGO DA BAHIA NA ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS

Sosígenes Costa nasceu no dia 14 de novembro de 1901, em Belmonte, Bahia. Há exatos 108 anos, portanto.


Eu faço versos/ para espantar meus males./ Para espantar os tigres que vivem me rondando./ Para afugentar os monstros/ que não me deixam nunca./ Para me livrar dos espectros/ que sempre me aparecem.
Sosígenes Costa in "Quem Canta, Seus Males Espanta".

ENCONTROS

GD

Estivemos, Aramis e eu, no lançamento do segundo livro de poemas de Kátia Borges, Uma balada para Janis, realizado no mesmo momento em que Maxim Malhado também lançava o seu Apenas uma lata, na livraria Tom do Saber; ambos os livros foram editados pela P55 Edições, na Coleção Cartas Bahianas.
Vou escrever uma espécie de crônica social do evento, obedecendo cronologicamente uma sequência dos encontros. Recebemos as dedicatórias de Kátia e de Maxim nos seus respectivos livros. Perguntei para minha afilhada literária se encontrarei poemas que me induzam a constatar que sua poesia mudou desde De volta à caixa de abelhas, então aprovado por mim, com grande entusiasmo, quando participei da comissão do Selo Editorial Letras da Bahia.
Trocamos umas impressões com Cíntia e Claudius Portugal. Aramis seguiu conversando com eles. Encontrei os escritores Suênio Campos de Lucena e Luís Antonio Cajazeira Ramos e louvamos o prêmio que Marcus Vinícius ganhou com seu conto de mestre. Estamos os três encantados e contentes com a vitória de MV. Lembramos, Kátia, o poeta Adelmo Oliveira e eu, a excelente antologia de poesias organizada por Ildásio Tavares. Abracei Florisvaldo Mattos, meu padrinho literário, o primeiro editor de meus textos.
Fomos sentar para comer uma pizza, Aramis e eu, quando tive um prazer enorme: conheci Maria Sampaio, do blog Continhos para cão dormir. Não me contentei com um abraço, fiquei abraçando-a, quatro vezes ao todo. A blogosfera tem esse lance para o qual ainda não achei a palavra certa, definitiva, que carregue o significado do encontro de pessoas que parecem que se conhecem muito, trocam comentários, fazem leituras umas das outras e, no entanto, jamais se viram no mundo de cá. Preciso de uma palavra nova para algo novo assim.
Sentou-se conosco o poeta Cajazeira Ramos, falamos exaustivamente dos Encontros Literários na ALB. Chegou um dos casais mais simpáticos da literatura baiana: os escritores Mônica Menezes e Carlos Barbosa, ambos com boas notícias. Coisa boa mesmo: ouvir novidades que são fatos felizes, sonhos realizados. Outro casal entrou, aproveitei para pedir uma dedicatória a Adelice Souza no seu mais recente livro de prosa curta, todavia não adquirido antes, por ocasião do lançamento. Revi, abracei e beijei algumas pessoas do meu tempo no jornal A TARDE, como Josélia. Estive com mais uma afilhada literária, a poeta Lúcia Carneiro.
Voltamos para o local do lançamento. Beijei Állex Leilla, ficcionista que tem a minha admiração alicerçada há mais de uma década. Perguntei por João, encontrei-o com Padilha, este último me prometeu o envio de seu romance e lembrou uma resenha que fiz na revista Neon sobre seu livro de contos. Vi que João parece restabelecido, falamos um pouco sobre blogs, elogiei seu mais recente poema no blog Hiperghetto.
Outra satisfação enorme: conheci Nilson Pedro, um poeta que também já publicou na Coleção Cartas Bahianas e que impressiona pela qualidade de sua poesia. Comecei a ler seus poemas no blog Blag e não parei mais. Érica tirou fotos nossas com Kátia.
Creio que não sei discorrer muito bem sobre eventos, quis apenas registrar encontros. Leitura boa vem abaixo.

High Ashbury,
San Francisco
------Kátia Borges

7.
Espero
com a paciência dos desesperados
que o destino teça seus dramas

Dama
ás que Deus guardou na manga
para provar que existe e é bom

[quando eu já duvidava]
Não existem mais mistérios
o meu aparelho é stereo e vai do jazz ao
----------------------------[rock n’roll

[e ouço poesia, todo dia, no volume máximo]



Todos os blogs aqui citados estão nos meus "Favoritos".

domingo, 8 de novembro de 2009

REVISTA GRANTA -VOL. 4


GD

Granta, editada pela Alfaguara, é uma revista em forma de livro. Em português, ela já está no volume 4: todos com textos de primeira, pois que a marca da revista é sempre trazer o melhor dos melhores.
Os autores de Granta, vol. 4, são: Haruki Murakami, Luis Fernando Verissimo, Joyce Carol Oates, Sérgio Sant’Anna, George Steiner, Miguel Sanches Neto, Annie Proulx, Elena Lappin, Edward Platt, Kathleen Jamie, João Wainer, Milton Hatoum, Eucanaã Ferraz, Adriana Lisboa e João Paulo Cuenca.
Tive o prazer da leitura do conto "Tailândia", do escritor que tem minha intensa admiração, Haruki Murakami, cuja produção que conheço é composta de romances. Nem sei dizer qual o romance que prefiro, se Dance Dance Dance, se Kafka à beira-mar, se Após o anoitecer, se... (tenho 6 romances de Murakami, todos traduzidos para nossa língua; qualquer um deles é leitura certa). Ele esteve como um dos mais cotados para receber o Nobel no último outubro.
Outro ponto alto da revista: o conto de Sérgio Sant'Anna, "O texto tatuado". Inesquecível.
"Então você quer ser escritor", traz uma história saborosa de Miguel Sanches Neto.
Nos textos da parte intitulada "Ambição de Escritor", destaco o de Milton Hatoum.

sábado, 7 de novembro de 2009

CESÁRIO VERDE E PAUL CÉZANNE: UM PARALELO TECIDO

Gerana Damulakis


Luís Antônio Cajazeira Ramos construiu um paralelo interessante entre o pintor Paul Cézanne (1839-1906) e o poeta Cesário Verde (1855-1886). Cajazeira disse que Cesário Verde foi, para a poesia de língua portuguesa, o que Cézanne representou para a pintura européia. Tal representação do francês tem fundamento na sua “concepção arquitetônica da composição”, como dizem as palavras do próprio Paul Cézanne. Resultado: sua obra funcionou como uma ligação entre o impressionismo e o cubismo, daí Matisse e Picasso terem considerado Cézanne “o pai de todos nós”.
Cajazeira Ramos lembrou que, embora Cézanne não tenha fundado escolas, escolas foram fundadas graças ao seu legado. E concluiu: assim como, sem Cesário Verde, não existiria Pessoa, Augusto dos Anjos, Drummond, pois ele abriu o caminho para o futuro. O poeta-pintor, como foi rotulado, Cesário Verde colocou em palavras suas imagens visuais plenas de realismo.


DE TARDE
Cesário Verde

Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela;
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aquarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

Lisboa, O Livro de Cesário Verde, 1887

Poema de Cesário Verde retirado do volume Cesário Verde – Todos os Poemas – Organização, Introdução e Bibliografia: Jorge Fernandes da Silveira (Rio de Janeiro: Sette Letras, 1995).
Ilustração da postagem: de Paul Cézanne, Baigneuses 1874/1875 – Metropolitan Museum Nova Iorque.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A LEITURA: UMA VIAGEM


Gerana Damulakis

Li, faz algum tempo, no ótimo Bibliotecário de Babel (http://bibliotecariodebabel.com/) sobre a leitura ser algo tão apaixonante que se pode até andar lendo. Lembro que, nos comentários, houve quem aconselhasse a José Mário Silva a ter cuidado para não acabar sendo atropelado. Não esqueci da postagem que era, obviamente, muito melhor do que a minha reprodução aqui resumida.
Ao entrar hoje no blog O silêncio dos livros (http://osilenciodoslivros.blogspot.com/) olhei para o belíssimo Franco Matticchio acima postado e fiquei pensando. É isto mesmo, o mundo fica invisível, as pessoas passam para lá e para cá, mas o que importa, naquele momento da leitura, independente do lugar, está no livro. Um outro mundo nas páginas. Qual? Também não importa qual, são tantos, tantas as possibilidades. Só a viagem importa: que seja bela!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

ADELICE E LUÍS HENRIQUE NA ALB


MARCUS VINÍCIUS VENCE O CONCURSO NEWTON SAMPAIO



Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio 2009 -
Resultado



A Secretaria de Estado da Cultura do Paraná e a Comissão Julgadora, constituída por MARINA COLASANTI E MIGUEL SANCHES NETO, FLOR DE MARIA SILVA DUARTE, apresentam os vencedores do Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio – 2009.

Os contos premiados foram:

Em primeiro lugar: inscrição nº : 1055
Autor: Marcus Vinícius Couto Rodrigues - Salvador - BA
com o conto: A omoplata

Em segundo lugar: incrição nº: 397
Autor: Douglas Kim - São Paulo - SP
com o conto: O homem envolveu a menina com o braço direito

Em terceiro lugar: inscrição nº: 466
Autor: Walther Moreira Santos - Vitória de Santo Antão - PE
com o conto: Uma esperança

Indicado para receber a menção honrosa:
Inscrição nº: 170
Autor: Lucas Jerzy Portela - Salvador - BA
Conto: Os galos

Foto de Marcus Vinícius retirada do blog Café Molotov, entrada pelos meus favoritos.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

MINICONTO


O CORPO CAÍDO NO CHÃO
Aramis Ribeiro Costa

Tinha quarenta e três anos, era forte e saudável, mas sentiu uma forte dor no peito, suou frio, caiu no chão desmaiado, e lá ficou na calçada, em plena avenida movimentada. Uma senhora passava com a filha, comentou:
- Que vergonha. A essa hora.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

ALGUÉM DIZ POR MIM


Ser feliz é não precisar se lembrar.

J. M. G. Le Clézio ( Prêmio Nobel 2008), em Refrão da Fome (Cosac Naify, 2009. Tradução de Leonardo Fróes).



Eis um dos motivos da minha paixão pela literatura: encontro o que sinto, mas que não sei dizer.
Em tempo: não há relação com auto-ajuda, mas com o êxtase diante da beleza do “como dizer”.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ELIAS CANETTI: SOBRE OS ESCRITORES

Gerana Damulakis

Elias Canetti é o autor do romance Auto-de-fé, incluído na minha lista dos 100 romances que considero mais grandiosos. Não fica por aí, no entanto, a minha admiração por Canetti: os volumes A língua absolvida, Uma luz em meu ouvido e O jogo dos olhos merecem releitura e ainda os contos de Vozes de Marrakech e O todo-ouvidos - Cinquenta caracteres, os quais trataram de estabelecer certa intimidade com o autor de O outro processo- As cartas de Kafka a Felice quando, então, definitivamente eu coloquei Canetti em um lugar muito precioso nas minhas lembranças de leitura. Apenas Massa e poder (ensaio filosófico-etnológico), um livro importante e que chamou a atenção para Canetti, não encontrou em mim a capacidade necessária para o entendimento, pois foge da minha seara, sou assumidamente limitada.

Nobel de 1981, Canetti morreu em 1994 e deixou inéditos com ordem para publicação apenas 30 anos depois da sua ida. Todavia, estão aparecendo os inéditos de Canetti. Foi com grande expectativa que comprei meu exemplar de Sobre os escritores (José Olympio Editora, tradução de Kristina Michahelles) com apresentação do admirável Ivo Barroso. A erudição de Canetti é alicerce seguro para escrever sobre escritores. Contudo, há momentos em que certo desdém está misturado com admiração; de saída, isto também foi percebido por Ivo Barroso, o qual vai além, associando o desdém, não com a inveja, mas com a identificação e a autocrítica de Canetti. Seja lá qual for a explicação, o certo é que, em dadas passagens críticas, pensei que os textos de Sobre os escritores poderiam continuar inéditos. O melhor Canetti já foi publicado.