
Olhando a hora como quem sorrisse...
Fernando Pessoa
O poeta disse que há um Deus em mim...
E o disse sem dizer, ou não dissesse.
Ah, poeta, eu sou o Deus de tua prece,
erva daninha axial de teu jardim.
Melhor: eu sou o totem do esconjuro
que satisfaz a teu mundéu de fé.
Inda melhor: sou tudo que não é
senão o escuro que disfarça o escuro.
Que Deus te disse! Tua própria voz
abre horizontes que se fecham nós,
e o fado triste alegra-se em destino.
Eu creio, poeta (pois que Deus me disse,
da Sua efêmera e espectral ledice):
tu és meu bálsamo do desatino.
Luís Antonio Cajazeira Ramos tem cinco volumes reunindo seus poemas, sendo o mais recente Mais que sempre (7Letras, 2007).