quinta-feira, 19 de agosto de 2010

MENESTREL DAS PARCAS E DAS FÚRIAS

Gerana Damulakis


Konstantinos Kaváfis nasceu em Alexandria, no dia 29 de abril de 1862, de pais descendentes de gregos tradicionais, vindos de Constantinopla, mais precisamente do bairro Fanar, daí fanariotas, onde residiam os gregos aristocratas já aburguesados no serviço ao comércio. Alexandria é personagem importante na obra de Kaváfis, uma cidade sempre louvada, que lhe impregnou o corpo e o espírito. Ali, ele viveu tudo e toda a sua vida.

Os poemas colocados na categoria hedonística ou poemas eróticos, ou ainda, autobiográficos, carregam dramaticamente a culpa por uma homossexualidade que ele não aceitou, mas não resistiu e assumiu. Contudo, é à maneira de Eliot que Kaváfis recorreu às alusões históricas ou literárias, até com a intercalação de citações. Enfim, Konstantinos Kaváfis, um simbolista, absorveu o influxo de sua época.

Original, portanto, principalmente na sua exposição conceitual do prazer, quase uma provocação, desvinculando o desejo do amor. Escolhi, no entanto, o poema “Muros”, metáfora perfeita de certas ocasiões na vida, quando não há escapatória.

MUROS
Konstantinos Kaváfis

Sem cuidado nenhum, sem respeito nem pesar,
ergueram à minha volta altos muros de pedra.

E agora aqui estou, em desespero, sem pensar
noutra coisa: o infortúnio a mente me depreda.

E eu que tinha tanta coisa por fazer lá fora!
Quando os ergueram, mal notei os muros, esses.

Não ouvi voz de pedreiro, um ruído que fora.
Isolaram-me do mundo sem que eu percebesse.

Tradução de José Paulo Paes