quarta-feira, 21 de maio de 2008

HOMENAGEM

SALOMÃO CORRÊA, DINHA E ZÉLIA GATTAI

Goulart Gomes


Neste mês de maio de 2008 me senti um pouco Forrest Gump, testemunha do tempo que passa, e com ele leva pessoas amigas, populares e queridas. Este mês de maio – mês das noivas, das mães, das mulheres – também foi um mês de dar adeus (ou até breve!) a três pessoas com as quais, de forma próxima ou distante, convivi.
Luiz Carlos Salomão Corrêa (1947-2008), romancista e pintor, era meu colega de trabalho e de letras, um homem versátil, extrovertido, cordial, participativo. Conversávamos sempre, nos corredores da empresa, entre um cafezinho e um copo d’água. Participávamos dos eventos culturais internos, trocávamos informações e impressões. Ilheense, com um riquíssimo curriculum acadêmico, publicou quatro romances: Geraldo, o boi (1996); O segredo de Noca (1997); O vôo de Ícaro (1998) e Os Calores de Viridiana (2001) e preparava um novo livro para 2008. Em férias, na Europa, foi vitimado por problemas cardíacos. Sempre em busca de novos desafios, estava contente, ultimamente, com a sua inclusão em duas obras de referência enciclopédica na Bahia, nas quais aparecia como romancista contemporâneo. Em seus livros, o retrato das personagens populares, em histórias contadas com descontração e fluência. Um grande camarada, que nos deixou repentinamente.
Dinha (Lindinalva de Assis, 1952-2008), a famosa baiana do acarajé, foi fazer seus quitutes para São Pedro. Com certeza, a exemplo daquela famosa personagem de Manoel Bandeira, será recebida de braços abertos, por seus orixás, nas terras de Aruanda. Figura alegre, simpática, assim com um jeito da Tia Nastácia, de Monteiro Lobato, encontrávamos com ela todas as semanas, no “caixa” da sua tenda, no estacionamento de um supermercado, no bairro do Costa Azul, cobrando de nós o delicioso acarajé (com camarão e pimenta, claro!), que as suas discípulas preparavam: “Cobre aí, três e cinquenta”.
Já sobre a Zélia Gattai (1916-2008), quem sou eu para falar, diante de tantos intelectuais que com ela conviveram! Apesar de vivermos na mesma cidade, o mais próximo que estive dela foi como verbete, no Dicionário de Autores Baianos. Mas não tenho a menor dúvida que essa baiana de São Paulo era mesmo de Oxum: esbanjava simpatia, carinho, felicidade, harmonia. Quando comecei a publicar meus primeiros livros e antologias, sempre enviava, pelos Correios, um exemplar para o casal Amado. Não sei se os liam, mas tinham a gentileza de, por intermédio de suas secretárias, agradecer o envio, em papel timbrado. E vocês não sabem o quanto isso, para um escritorzinho em começo de carreira, como eu, era importante! Saber que aqueles que “chegaram lá” têm um mínimo de atenção e respeito pelos das novas gerações que, inclusive, são também seus leitores.
Nesses momentos, o pouco que podemos fazer é agradecer a essas pessoas pelo que elas foram e pelo que representaram em nossas vidas, pelo que nos legaram, pelo que de bom contribuíram, por algum instante que seja, para a nossa própria existência, seja conversando e trocando risadas; nos proporcionando o prazer de degustar um maravilhoso acarajé, após um dia cansativo de trabalho ou “perdendo” um pouco do seu tempo para nos escrever algumas linhas (em um tempo em que e-mail nem existia!). Fica aqui o meu muito obrigado a todos eles e que Deus os abençoe, hoje e sempre.
Salvador, Bahia, 20 de maio de 2008.