
Tenho paixões. Duas paixões norte-americanas são: o pintor Edward Hopper, cujo exemplo acima, Noctívagos, tenho uma reprodução, ou melhor, tenho duas reproduções pela casa, e o Poet Laureate Robert Frost (1875-1963). Há um poema de Frost, cuja beleza é impar, que nada se perde na tradução de Jorge Wanderley, inclusive a música dos dois últimos versos - na verdade, um mesmo verso repetido por necessidade do poeta; de saída, uma necessidade que sinto, como leitora.
PERTO DO BOSQUE, NUMA NOITE DE NEVE
-------------------Robert Frost
O dono dos bosques conheço, creio.
No entanto, mora na cidade, alheio,
E não verá que me detenho aqui
Olhando a neve que de noite veio.
A meu cavalo parece um engano
Que eu pare nestes ermos, sem um plano,
Entre bosques e lagos congelados
No entardecer mais sombrio do ano.
Agita a rédea, sinto seu chamado
Que me pergunta se está algo errado.
Além dele, ouço apenas a passagem
Da brisa leve e os flocos repousados.
O bosque escuro e fundo é bom de ver,
Mas eu tenho promessas a manter,
E há que andar muito, antes de adormecer,
E há que andar muito, antes de adormecer.
Ilustração: Edward Hopper (1882-1967), Nighthawks, 1942. Art Institute of Chicago