domingo, 7 de junho de 2009

O POETA CASSAS: CONVERSA DE DOMINGO

Gerana Damulakis

Meu amigo, o poeta Luís Augusto Cassas, telefonou pela manhã, de São Luís, Maranhão. Acho que é sempre assim, nos falamos apenas aos domingos, jamais em outro dia da semana. Adoro nossa conversa. Falamos de poesia o tempo inteiro, até porque cada frase dele é um verso. Cassas pensa poesia. Ele tem casos interessantíssimos que, seguramente, dariam crônicas, ou, com o tempero da invenção, ótimos contos. Mas, não. Ele verte tudo para a poesia.

Lembramos, então, versos de poetas que nos habitam. Sim, ele é como eu (já escrevi aqui que penso muito em versos, os que me povoam, os que martelam dentro de mim); sendo como eu, ficamos desfilando os versos que nos chegam assiduamente. Outro ponto em comum: a maioria é de Manuel Bandeira. Tecemos a apologia ao grande poeta e sua simplicidade enganosa. Cassas lembrou que o poeta e ensaísta Ivan Junqueira disse muito bem quando, em seu Testamento de Pasárgada (Nova Fronteira, 2003), apontou Bandeira como um poeta que sabia rigorosamente tudo no que toca à arte poética e aos segredos da poesia. Daí passamos para o livro Cinzas do espólio (Record, 2009), já que Ivan Junqueira analisa a poesia brasileira e destaca poetas pelo Brasil afora. Do Maranhão, meu amigo Cassas é destaque, claro! Da Bahia estão: Ruy Espinheira Filho, Ildásio Tavares, Myriam Fraga, Florisvaldo Mattos e Luís Antonio Cajazeira Ramos.

Voltando aos versos que nos arrebatam. Coincidimos em: “Este anseio infinito e vão/ de possuir o que me possui”, que estão no poema “Resposta a Vinícius”; “Na vida inteira que podia ter sido e que não foi”, em “Pneumotórax” e
“Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro,Teodora.”
do poema “Neologismo”. Manuel Bandeira é realmente uma estrela da vida inteira.

Seguindo pelos versos inesquecíveis, reproduzo, de “Leilão de poeta”, do próprio Cassas: “Quem doa amor de ouro ou prata/ àquele que à dor o coração ata/ e de amor morre mas não mata?”

Ah, Cassas, como é bom conversar com você. Esqueci de acrescentar aquele verso de T.S.Eliot que vivo me dizendo e que pertence ao longo poema “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock”: “Às colherinhas de café andei medindo a minha vida”, na tradução de João Almeida Flor para a edição da Assírio e Alvim.
Nossa sintonia espiritual, como você diz, me enche de alegria. Aguardo sua poesia reunida, sabendo desde logo (o que muito me honra) que estarei lá, na sua fortuna crítica, através de meus textos, reconhecendo a sua arte.