terça-feira, 29 de junho de 2010

"DOIS CORPOS", DE OCTAVIO PAZ



Gerana Damulakis

Octavio Paz (1914-1998), poeta mexicano, excelente crítico e ensaísta, não precisa mais do que alguns versos para atestar sua contribuição entre as grandes vozes da lírica hispano-americano. Escolhi a tradução de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Há outras. Quem tem uma tradução preferida, que opine e traga para apreciação; nunca será demais.



DOIS CORPOS
Octavio Paz

Dois corpos frente a frente
às vezes duas ondas
são, e a noite é oceano.

Dois corpos frente a frente
às vezes duas pedras
são, e a noite deserto.

Dois corpos frente a frente
são às vezes raízes
na noite enlaçadas.

Dois corpos frente a frente
são às vezes navalhas,
e é relâmpago a noite.

Dois corpos frente a frente
são dois astros que caem
num céu ermo e vazio.


Ilustração: O beijo, de Henri de Toulouse-Lautrec.