
Luís Antônio Cajazeira Ramos construiu um paralelo interessante entre o pintor Paul Cézanne (1839-1906) e o poeta Cesário Verde (1855-1886). Cajazeira disse que Cesário Verde foi, para a poesia de língua portuguesa, o que Cézanne representou para a pintura européia. Tal representação do francês tem fundamento na sua “concepção arquitetônica da composição”, como dizem as palavras do próprio Paul Cézanne. Resultado: sua obra funcionou como uma ligação entre o impressionismo e o cubismo, daí Matisse e Picasso terem considerado Cézanne “o pai de todos nós”.
Cajazeira Ramos lembrou que, embora Cézanne não tenha fundado escolas, escolas foram fundadas graças ao seu legado. E concluiu: assim como, sem Cesário Verde, não existiria Pessoa, Augusto dos Anjos, Drummond, pois ele abriu o caminho para o futuro. O poeta-pintor, como foi rotulado, Cesário Verde colocou em palavras suas imagens visuais plenas de realismo.
DE TARDE
Cesário Verde
Naquele piquenique de burguesas,
Cajazeira Ramos lembrou que, embora Cézanne não tenha fundado escolas, escolas foram fundadas graças ao seu legado. E concluiu: assim como, sem Cesário Verde, não existiria Pessoa, Augusto dos Anjos, Drummond, pois ele abriu o caminho para o futuro. O poeta-pintor, como foi rotulado, Cesário Verde colocou em palavras suas imagens visuais plenas de realismo.
DE TARDE
Cesário Verde
Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela;
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aquarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Lisboa, O Livro de Cesário Verde, 1887
Poema de Cesário Verde retirado do volume Cesário Verde – Todos os Poemas – Organização, Introdução e Bibliografia: Jorge Fernandes da Silveira (Rio de Janeiro: Sette Letras, 1995).
Ilustração da postagem: de Paul Cézanne, Baigneuses 1874/1875 – Metropolitan Museum Nova Iorque.