terça-feira, 8 de setembro de 2009

DA REALIDADE II

Gerana Damulakis

Uma série de acontecimentos: eu já estava com vontade de levantar algumas questões sobre literatura e realidade, literatura e mentira. Tenho que explicar a razão para evitar conclusões erradas. Tudo surgiu por conta de indagações sobre a necessidade da verossimilhança na literatura. Isto surgiu discutindo com Hélio Pólvora em uma ocasião, depois com Luís Antonio Cajazeira Ramos — portanto, não tem relação com outras pessoas, claro está.

O outro ocorrido veio da releitura dos livros de Állex Leilla. Reli todos os contos dela. Admiro muito a literatura de Állex: prosa madura, vigorosa, fruto de seu total domínio e conhecimento da arte literária. Pois aí, nas “orelhas” do volume Urbanos, de Állex Leilla, encontrei uma colocação de Ruy Espinheira Filho, ao saudar a escritora, completamente de acordo com o que eu gostaria de plasmar aqui.

Em seguida, em conversa com Ruy, na sexta-feira, na ALB, disse tudo isto para ele. Ruy repetiu as palavras que estão abaixo, retiradas das “orelhas” do livro de Állex, quando ele suscitou a mesma questão para enfatizar o tanto que há de vida pulsando nas páginas de nossa escritora. A reprodução das palavras de Ruy respondem e arredondam todas as indagações sobre o assunto.

Tchekhov exigia verdade e honestidade na elaboração da obra literária. Sim, porque o escritor não pode ser desonesto, não pode falsificar os seus personagens, não pode trair a verdade da vida. Nunca entendi os que dizem — e até escritores já flagrei neste equívoco imperdoável (!) — que os ficcionistas são mentirosos porque contam histórias que não são reais.
Ora, como não são reais — apenas por que nunca aconteceram? São reais, sim, e aconteceram, e acontecem — só que num outro pavimento da existência, ou paralelamente a ela. Só seriam falsas se não fossem verossímeis — e aí também não seriam literatura. Não, os ficcionistas não são mentirosos: eles falam da vida — e com tanta
verdade e honestidade que às vezes é bem mais cômodo pensar que tudo não passa de invencionice, que tais coisas só existem nos livros, pois é sempre delicado — para dizer o mínimo — perguntar por quem os sinos dobram. REF