segunda-feira, 18 de agosto de 2008

IMAGISMO

Gerana Damulakis


O "imagismo" de Sylvia Plath, devedor do imagismo de Pound, é patente em um poema intitulado "Elm" ("Olmo"): "O amor é uma sombra./ Como você chora e mente por ele./ Ouça: estes são seus cascos; fugiram, como cavalos". Ao objetivar a emoção, a poeta como que clama por uma movimentação das imagens. Acrescento um outro dado vindo da observação, da leitura e de debates sobre a capacidade que cada poema traz quanto a ser possível sua enfatização pelo ato da interpretação: a inflexão coloquial, como é chamada por Garcia Lopes.
João Cabral de Melo Neto dizia que a poesia era para ser lida em voz baixa, sussurrando. Mas não toda a poesia. A de Plath tantas vezes pede para ser lida em voz alta, interpretada. Rodrigo Garcia Lopes, supracitado, está no prefácio do volume Sylvia Plath Poemas (Iluminuras, 1991) chamando a atenção para alguns poemas quando, "pode-se falar de poesia como uma performance". E a poeta escreveu: "A lucidez que possa emanar deles (dos poemas) vem do fato de eu ter de lê-los para mim mesma, em voz alta". A exigência da persona, por outro lado, coloca Plath junto dos "poetas confessionais": deu-se o resgate do lirismo como reação às vanguardas e à poesia política. Plath beira, nesta vertente, o genial, ao usar o imagismo brilhantemente e ao conferir tal performance, seu ponto alto.
Quase não se consegue escapar à comparação: Ana Cristina César, no Brasil, vem da mesma linhagem, usando "o objeto natural como símbolo" e "a imagem como um complexo de relações emotivas lançadas na imaginação visual" (RGL).
Vou puxar o fio da linhagem e chegar aos dias atuais para trazer um exemplo, já com o palco preparado pelas poetas anteriormente citadas, para tudo que se desejava; um exemplo que aparece sem a emoção ligeira ou fácil e, sim, com a angústia tratada pelas palavras. Para ser lido em voz alta.

Intermezzo

Kátia Borges

Nunca amei deste modo...
A varanda da casa é testemunha.
Com seu olhar imóvel,
cata as roupas jogadas ao acaso,
quase na rua.
A Lua vibra, no alto.

Quero calma.
Peço silêncio ao arvoredo.
O vento é rebelde, continua mexendo...
As folhas saltam, arrebentam-se no chão, inertes.
Ninhos de aves também são derrubados,
esparramando a intimidade doméstica dos pássaros.

E, dentro do peito, o coração estremece.


Poema do volume De volta à caixa de abelhas (FUNCEB, 2001). Foto de Kátia Borges retirada do blog Madame K.