domingo, 10 de outubro de 2010

COISAS DO DIREITO


Gerana Damulakis

O que se segue foi contado pelo poeta Sidney Wanderley por e-mail, mas é oportuno, ainda que fora do contexto da nossa conversa virtual. Gostei tanto que pedi sua autorização para reproduzir aqui.

Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um
barulho estranho vindo do quintal. Indo até lá, constatou ha-
ver um ladrão tentando levar seus patos de estimação. Apro-
ximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao
tentar pular o muro com suas amadas aves, disse-lhe:

− Ó bucéfalo anácroto! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos
emplumados bípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de pro-
fanares o recôndito de minha residência, levando meus ovíparos
à socapa e à sorrelfa. Se fazes isso por necessidade, transijo;
mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cida-
dão digno e altaneiro, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem
no alto de tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei
à quinquagésima potência do que o vulgo denomina a partícula in-
significante do átomo!!!

E o ladrão, sem pestanejar, respondeu ao mestre baiano:
− Doutor, não entendi: eu deixo ou levo os patos?

Conto essa história, inutilmente, para ver se consigo reduzir um
pouquinho a pedanteria e a linguagem empolada dos "operado-
res do Direito". Como disse, inutilmente.

SIDNEY WANDERLEY