quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

SARAMAGO, PARA GLÁUCIA LEMOS


Gerana Damulakis

A escritora Gláucia Lemos e eu somos aficionadas pela literatura de José Saramago. Lemos toda a prosa, seja de ficção, seja a dos Cadernos de Lanzarote, também as crônicas etc.

Gláucia, todavia, não conhece a poesia de José Saramago. Escolhi do meu exemplar de poemas Provavelmente Alegria (Editorial Caminho, 1987), um dos mais melódicos e belos versos.

Para você, Gláucia, um poema de José Saramago.

AS PALAVRAS DE AMOR
---------------------José Saramago

Esqueçamos as palavras, as palavras:
As ternas, caprichosas, violentas,
As suaves de mel, as obscenas,
As de febre, as famintas e sedentas.

Deixemos que o silêncio dê sentido
Ao pulsar do meu sangue no teu ventre:
Que palavra ou discurso poderia
Dizer amar na língua da semente?

O CÉU QUE NOS PROTEGE



Gerana Damulakis

Quando escolhi O céu que nos protege (Alfaguara/ Objetiva, 2009), de Paul Bowles, com tradução de José Rubens Siqueira, para ilustrar minha lista dos livros lidos em 2009 que me marcaram, escrevi também sobre a sensação que um romance poderoso causa no leitor.


A história de O céu que nos protege enfatiza a busca pelo sentido da existência, mais aguçada nas pessoas que têm muito tempo livre, usufruem do ócio, passam a vida viajando, procurando, buscando, inquietando-se. Irremediavelmente, lançam-se em situações perigosas, porque se faz necessário um sentimento que desafie a rotina, algo próximo da morte. Port e Kit Moresby estão casados há 10 anos, não precisam trabalhar, rodam pelo mundo e no pós-guerra vão para a África. O deserto é o cenário constante. É no deserto que Port sente como o céu fica mais perto, como um manto protetor: o céu que nos protege. O desenrolar é a escalada da decadência, é triste, é trágico. Não irei contar a história.


Paul Bowles (1910-1999) faz parte da legião de escritores norte-americanos que levou a literatura dos EUA aos picos do reconhecimento no século XX. Seu estilo é fluente, apesar de não abrir mão da densidade, exatamente sentida a cada passo dado pelo casal durante a narrativa de seu fastio e de sua perdição.


Sobre O céu que nos protege, o Evening Standard diz tudo: “Um romance com toque de gênio, um livro de poder e alcance desafiadores, uma história de tensões praticamente insuportáveis”.
O livro foi adaptado para o cinema pelo próprio Bowles, com direção de Bernardo Bertolucci, e é muito fiel ao romance. O escritor começa narrando e aparece no começo e no final do filme, sentado no bar a espreitar.