
Gerana Damulakis
Muitos, muitos são os versos que habitam nossos pensamentos. Bastou que M., do blog Estranhamentos (http://estranhamentos.zip.net/), fizesse uma postagem sobre a poeta ucraniana Anna Akhmátova (1889-1966) para que exatamente os dois versos iniciais da 2ª estrofe do poema "Veredicto" mostrassem a permanência de tal poesia em mim. Conheço duas traduções. Uma delas é da conceituadíssima Aurora F. Bernardini e de Hadasa Cytrynowicz, mas optei pela de Lauro Machado Coelho porque os dois versos que me tomam estão naquela tradução.
VII
O VEREDICTO
------------Anna Akhmátova
E a pétrea palavra caiu
sobre o meu peito ainda vivo.
Pouco importa: estava pronta.
Dou um jeito de agüentar.
Hoje, tenho muito o que fazer;
devo matar a memória até o fim.
Minha alma vai ter de virar pedra.
Terei de reaprender a viver.
Senão… o ardente ruído do verão
é como uma festa debaixo da janela.
Há muito tempo eu esperava
por este dia brilhante, esta casa vazia.
in Réquiem: um ciclo de poemas (1935-1940). Seleção, tradução e notas: Lauro Machado Coelho. (L&PM, 1991).
Ilustração: Natan Altman, Retrato de Anna Akhmátova, a poetisa (1914).