quarta-feira, 22 de julho de 2009

LITERATURA E CHORO

Gerana Damulakis

É incrível constatar como as pessoas que se manifestaram nos comentários sobre A Metamorfose, tiveram reação impactante. Que força tem a danada da literatura.
E hoje eu pretendia colocar um pouco de poesia aqui no meio de tanta prosa e pretendia escrever sobre aquele livro de Judith Farr, Nunca lhe apareci de branco, uma pesquisa sobre a vida de Emily Dickinson, com a reunião da correspondência da poeta e de pessoas que escreviam para ela ou sobre ela. Mas, ao buscar o livro na estante (li este livro em 1998), ele estava junto da biografia de George Eliot, A voz de um século, de Frederick R. Karl, e o pensamento foi imediatamente para o romance Daniel Deronda (Paz e Terra, 1997), da própria George Eliot.
Vou continuar, portanto, relacionando a literatura com o que é gerado dentro de nós após a leitura.
Daniel Deronda: ele costuma encabeçar todas as listas sobre os melhores romances que já li, sobre os mais emocionantes, sobre os mais estarrecedores, seja lá que lista eu possa inventar. O mais certo, no entanto, é que ele encabece a lista dos romances que me fizeram chorar. A lista será pequena, não costumo chorar com os livros, antes me indigno, antes me enraiveço, e, antes de tudo, admiro o estilo, vibro com a aplicação de recursos literários postos a serviço da obra. O crítico literário Harold Bloom incluiu George Eliot (pseudônimo de Mary Anne Evans, foto) no cânone da literatura Ocidental. Ela sabia tudo com seu domínio total na escrita de romances.
Apreciei a arte, verdade. Todavia chorei e muito. Chorei e comparei o choro às cascatas. Foi um choro torrencial. Jamais reli o romance. Tenho receio de não chorar outra vez. As poucas vezes que fiz uma releitura foram decepcionantes, com exceções. Eugênia Grandet, de Balzac, é a vencedora, reli 4 vezes, em épocas bem distintas e sigo gostando muito. Já Madame Bovary, de Gustave Flaubert, foi uma decepção estrondosa.
Pois bem, se alguém quiser chorar, sentir o corpo balançar, soluçar, chorar copiosamente mesmo, a sugestão é a leitura de Daniel Deronda. Ao fechar o livro, bastará enxugar as lágrimas. Esta é a grande diferença em relação à vida.