quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

SOBRE A CEGUEIRA



Gerana Damulakis

Hoje, 29 de janeiro, comemoram aniversário: o escritor Flamarion Silva e eu. Costumo chamar Flamarion de meu afilhado literário. Chamo assim a todos os que tiveram livros publicados na Coleção Selo Letras da Bahia, da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Secretaria de Cultura e Turismo e EGBA, quando fiz parte da comissão editorial por 8 anos. É imensa a satisfação quando constato como meus afilhados e afilhadas literários seguiram escrevendo, crescendo, realizando seus sonhos. Sem ser piegas (eles sabem), a realização acaba sendo minha também.

Parabéns pelo seu dia, Flamarion: comemore muito com sua Graça e os seus queridos filhos. Segue um miniconto de Flamarion Silva, autor de O Rato do Capitão (Secretaria da Cultura e Turismo, EGBA, 2006 - Coleção Selo Letras da Bahia, v.108) e de O Pescador de Almas (no prelo, selecionado no edital da Fundação Pedro Calmon).

SOBRE A CEGUEIRA

-----------------Flamarion Silva

Diz Kafka:
— É verdade que não se pode dormir e sonhar sem se fechar os olhos. Mas não é estranho ver por aí tanta gente dormindo e sonhando de olhos abertos?
Dostoiévski responde:
— Se se tapasse a boca com a mão, a que sufoca, nem por isso, decerto os olhos saltariam, não de susto, mas de evidente denúncia, como se eles fossem uma boca e falassem.
Saramago encerra:
Um homem entrou em sua toca a esgueirar-se pelas paredes. A luz, acesa, imediatamente foi apagada.
— Ora, mas quem ousou acender a luz? reclamou indignado. Será que todos não sabem que ela cega os olhos?
E, já mesmo sem seguir tateando, o homem adentrou rápido à sala. Depois, sentou-se no sofá, abriu o jornal e só aí, então, arregalando os olhos, procurou em algum lugar onde deixara os óculos.