quinta-feira, 26 de novembro de 2009

HERMANN HESSE: NÃO LEIA!

Gerana Damulakis

Hermann Hesse (1877-1962) foi o primeiro escritor que me levou a esgotar a leitura de todos os seus livros traduzidos no Brasil: meus preferidos não eram Demian e Sidarta, eram O jogo das contas de vidro, Knulp, Gertrud (este romance é especial), Narciso e Goldmund. Até hoje, fiel a mim mesma, conservo a compulsão. Se me encanto muito com dado livro de um autor, procuro ler os demais títulos, haja vista ter sido assim com Jane Austen, Henry James, Machado de Assis, Lima Barreto, Kafka, Dino Buzzati, Hemingway, Nabokov, Kawabata, Italo Calvino, Italo Svevo, Miguel Torga, Saramago, Ian McEwan, Haruki Murakami, Philip Roth, Coetzee, Kadaré e tantos outros, bastando que eu vire a cabeça e olhe para eles, aqui atrás de mim. Em tempo: estou fazendo o mesmo com Bolaño e Millás. Adoro listas, mas não farei uma lista agora.
Há uma historinha envolvendo Hesse. Na adolescência, muito fascinada pelo escritor alemão, naturalizado suíço, Nobel de Literatura, devorava um título após o outro e estava no mesmo sofá da biblioteca de meus pais, citado na postagem abaixo, quando chegou meu tio e padrinho, irmão de minha mãe, o jornalista e escritor Flávio Costa, um dos fundadores do Jornal da Bahia, depois editor das revistas Fatos & Fotos, Senhor, autor de Além das torres do Kremlin e A China está mais perto. Muito bem, chegou meu tio, assumidamente comunista (foi inclusive para a França, exilado, mas nessa altura já havia voltado, com a abertura) e disse para minha mãe: “Ela está lendo Hermann Hesse, não deixe que ela fique lendo isso, Eliana. Ela precisa ler os russos”. Eu ouvi, mas minha mãe não me mandou ler os russos. Eu mesma, depois que ele se foi, abri as portas de vidro que protegiam os livros do pó e peguei um dos volumes da suposta obra completa de Dostoiévski: era “Noites Brancas”. A obra era traduzida do francês, entre os tradutores estava Raquel de Queiroz (por conta disso, já reli a obra de Dostoiévski nas traduções, estas sim, diretamente do russo, de Boris Schnaiderman e de outros tradutores da escola de Boris).
Resultado: levei três anos lendo apenas autores russos, porque de Fiódor passei para Tchekhov, Tolstói, Turguêniev e tantos mais. Foi difícil sair da literatura russa. Culpa de meu tio.