quarta-feira, 14 de abril de 2010

"DO I DARE/ DISTURB THE UNIVERSE?"



Gerana Damulakis

Virginia Woolf escreve em Um teto todo seu (Nova Fronteira, 1985) sobre as reações diante de uma prosa, ou de um poema, e exemplifica com um momento de êxtase, ou seja, com um momento de reconhecimento. Lemos e dizemos: "Mas isso é o que sempre senti e soube e desejei!", uma exclamação que condiz com o texto escrito ao modo de uma confissão.

Nem eu sei o que quero com tal lembrança. Encontrar linhas que me encontrem. Vontade de colher trigo, de ler poesia? Vontade de "rodar a baiana"?

Vou correr o risco

de perturbar o universo?

Num só minuto há tempo

Para decisões e revisões, a revogar noutro minuto.

Pois já as conheço todas bem, todas -

Sei as noites, as tardes, as manhãs,

Às colheres de café andei medindo a minha vida;

Sei que se esvaem as vozes em breve agonia

Abafadas na música de um quarto mais além.

Como havia eu de ousar, assim?

Trecho do longo poema de T. S. Eliot, "A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock", tradução de João Almeida Flor para a edição de Assírio e Alvim, 1985.

Ilustração: Colhendo Trigo, de Papas Stéphanos.