Kátia BorgesTão pouco, este meu suado salário,
pelo qual agradeço, cada centavo,
cada moeda de dez, cada níquel
que sobra no bolso.
Tão pouco, este meu teto, abençoado,
sobre o qual se sustentam outros sete,
mesmo que ainda deva uns tostões à CEF,
e a vizinha de cima faça barulho.
Tão pouca, esta minha poesia,
pela qual agradeço, cada verbo,
cada palavra rimada, ritmada,
cada verso que escapa.
Tão pouca, esta minha vida,
pela qual agradeço, cada órgão
que funciona a contento. Cada um dos meus olhos,
caçando beleza, achando mistérios.
Tão pouco, este meu talento,
pelo qual agradeço, estas mãos,
que aprenderam cedo a ganhar o pão.
E esta língua, que não sabe de línguas, mas fala de amor.
E este amor, meu amor, este amor.
Tão pouco, este amor,
pelo qual agradeço.
E tão imenso.
Este poema de Kátia Borges está nos blogs Madame K e Blag. Kátia Borges é autora do volume de poemas
De volta à caixa de abelhas (FUNCEB, 2001).