quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

RECEITA DE ANO NOVO


Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

00: A DÉCADA DE BOLAÑO

Gerana Damulakis

Uma ilustração incrível estava no The New Yorker: dois homens com pás nas mãos, na beira de um morro, onde já se encontravam vários bustos devidamente instalados em seus lugares. Um busto novo vinha caindo, todavia ainda no ar, assim como se estivesse chegando para ganhar seu lugar merecido, quando um dos homens com a pá diz para o outro: “Aí vem mais um para o cânone”. A ilustração era do artigo que avalia o escritor Roberto Bolaño.

Pensei em fazer uma lista com os livros da década 00, a disposição passou, não tem cabimento, há muitos escritores que brilharam, que encantaram, que acrescentaram à literatura, só que há um escritor que realmente assegurou seu lugar: sem dúvida, trata-se de Roberto Bolaño. Não há espaço para uma lista quando um escritor da envergadura de Roberto Bolaño despontou na década.

O chileno que publicou pela primeira vez nos anos 80, depois publicou na década de 90 do século passado, morreu em 2003, com apenas 50 anos. Seus títulos, a grande maioria deles, foram lançados nos anos 00, ainda em vida e postumamente. O grande romance 2666, um “tijolo” que primeiramente suscita uma associação com Ulisses, de Joyce, ainda não chegou ao Brasil, mas já saiu em Portugal. Muitos títulos, tais como A pista de gelo, Os detetives selvagens, Amuleto, o incrível Noturno do Chile, o volume de contos Putas assassinas (com o conto inesquecível “Últimos Entardeceres na Terra”), Estrela distante saíram pela Companhia das Letras.

O que há em Bolaño? Precisamos seguir sua linhagem? Cervantes, Twain, Melville? Há Bolaño, que estarreceu a crítica, que virou mania, que nos envolve, que adentra a alma humana dos seus personagens para que encontremos nós mesmos.

Ilustração: Roberto Bolaño, por Riccardo Vecchio, retirada do The New Yorker (http://www.newyorker.com/), no artigo assinado por Daniel Zalewski.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

"PAPA" HEMINGWAY


A única coisa que deves fazer é escrever uma oração verdadeira.
Ernest Hemingway (1899-1961)

domingo, 20 de dezembro de 2009

GRANDE OZ

Gerana Damulakis


A aldeia centenária de Israel, a “antiga e sonolenta” Tel Ilan, é o palco de Cenas da vida na aldeia (Companhia das Letras, 2009) do escritor israelense Amós Oz, com tradução do hebraico de Paulo Geiger.

Num período entre o fim do verão e o início do inverno, as histórias acontecem. O leitor vai percebendo que os personagens passeiam: se focados em certo conto, aparecem em outro, só que, desta feita, apenas como um “figurante”. Mas, claro, a aldeia é a mesma, os moradores são poucos e se encontram, se cruzam.

O palco, a aldeia, não se ausenta das narrativas, não apenas por conta das belas pinceladas com as quais Oz coloca o leitor para sentir o feérico calor da tarde, por exemplo, ou a chuva fina que acompanha a médica voltando para casa (imagem de um dos mais belos textos), mas porque a aldeia é a guardadora daquelas vidas e suas cenas.

São oito cenas com títulos sugestivos: “Os que herdam”, “Os que esperam”, “Os que perdem” etc. Como são independentes, os textos podem ser lidos em qualquer ordem, mas estão interligados pela aldeia - o espaço –, pelo calor e pela chuva de certa época - o tempo – e pelos personagens.

No conto “Os que cavam”, um jovem árabe vive na casa de um pai com sua filha. O pai é um homem idoso, ex-deputado, Pessach Kedem, enquanto a filha é uma quarentona viúva, Rachel, dedicada ao pai e que pensa, no desespero de sua vida vazia e já entrando no outono da existência, que deveria ter coragem e ir embora dali. O pai sempre sente que ela está pensando em outra possibilidade de vida e joga-lhe na cara que ela torce para que ele morra. O árabe Adel vive com eles, conserta algumas coisas da casa, em troca de moradia, e é visado pelo velho como um inimigo em potencial. Eles conversam sobre a origem da tristeza humana num momento magnífico.

Meu preferido, contudo, foi o conto “Os que são próximos”, com imagens tão profundas que convencem totalmente sobre o heroísmo do simples viver: a médica Guili Steiner vai buscar seu sobrinho que chegará no ônibus vindo da capital, mas ele não aparece; em casa, antes de ir para o ponto do ônibus, ela, uma mulher solitária, deixou o peixe e as batatas no forno, a cama do rapaz sendo aquecida, a luz da sala num tom bem aconchegante, mas passa a noite pensando que o sobrinho desceu na parada errada, ou dormiu e continua dentro do ônibus. Ela vai até a casa do motorista, entram e procuram o rapaz nos bancos do ônibus, encontram um casaco, ela segue para casa com o casaco nas mãos, tecendo mais alternativas para o ocorrido. A intensidade do conto é algo que apenas um grande escritor consegue plasmar.

Amós Oz estava na lista de apostas para ser vencedor do Prêmio Nobel de 2009. Há vários títulos editados pela Companhia das Letras. Li o belíssimo De amor e trevas (2005), De repente, nas profundezas do bosque (2007) e, no ano passado, Rimas da vida e da morte (2008). Posso sentir, depois deste tanto de leitura,e mais ainda depois da leitura de Cenas..., que Oz prefere a história do cotidiano e suas pequenas grandes tragédias. Com relação a estes contos e suas pontes, tal edificação parece trazer a intenção de uma homenagem a Winesburg, Ohio, de Sherwood Anderson, uma admiração de Amós Oz.

Nascido em Jerusalém, em 1939, Oz é considerado um dos melhores escritores israelenses da atualidade. Sua obra já foi traduzida para mais de 22 línguas. Mora em Arad, no deserto de Neguev, e leciona literatura hebraica na Universidade Ben-Gurion.

sábado, 19 de dezembro de 2009

LIVROS 2009: MAN BOOKER PRIZE



Gerana Damulakis

O Man Booker Prize existe desde 1969, sendo considerado um dos mais prestigiados prêmios para obra de ficção publicada no ano. O escritor deve ser do Reino Unido, da República da Irlanda ou dos países da Commonwealth.

Hilary Mantel é a escritora britânica vencedora do Man Booker Prize 2009 com o romance histórico Wolf Hall. O romance se passa em 1520 e conta a história de Thomas Cromwell, conselheiro do rei Henrique VIII da Inglaterra.

Pela Record, há os seguintes títulos de Mantel: Mudança de Clima (1997), Oito meses na rua Gaza (1999), Experimento amoroso (1999), O gigante O’brien (2001), A sombra da guilhotina (2009).

Os outros finalistas foram:

The Children’s Book, A.S. Byatt
Summertime, J.M. Coetzee
The Quickening Maze, Adam Fould
Wolf Hall, Hilary Mantel
The Glass Room, Simon Mawer
The Little Stranger, Sarah Waters

Não se pode nem se deve opinar sem ter lido, mas sempre torceria por J. M. Coetzee, dada sua maestria em vários títulos e haja vista a obra prima Desonra.
Esperei bastante para comentar este prêmio porque gostaria de ter lido o romance, todavia aguardamos a tradução.

Ilustração retirada do Google, não consegui encontrar os créditos; caso contrário, aqui certamente estariam.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

LIVROS DE 2009: ESTREIA EM DESTAQUE

Gerana Damulakis


Nilson Pedro tem um blog, o Blag, http://nilsonpedro.wordpress.com/, onde coloca seus poemas. Os leitores que acompanham sua produção pediam um livro que reunisse aqueles versos envolventes.
Pela Coleção Cartas Bahianas, da P55 Edições, saiu o Caixa Preta, trazendo 50 poemas do blog.
Considero, na minha humilde opinião de leitora, a melhor estreia em poesia do ano de 2009. A poesia de Nilson Pedro sabe conjugar o verso cerebral na dose saudável, assim como sabe fazer jorrar o lirismo com mão atenta, ambas as tendências mescladas e dosadas com tal equilíbrio como se fosse um químico das palavras a preparar uma solução de dada concentração.
Não se pode fazer uma leitura: no Blag, ao ler um poema novo lá postado, há o ímpeto de escrever logo um comentário, mas imediatamente surge a necessidade da releitura. Sabemos que ele diz mais do que se absorveu de primeira.
Há um jogo mental bem mensurado, como já foi apontado, contudo há uma escolha de palavras que, quando não são “poéticas”, na poesia de Nilson Pedro passam a ser. Sua sintaxe é pessoal e toda ela é significativa, daí a pungência alcançada. É difícil conferir uma forma explícita que traduza completamente as sensações causadas por uma leitura: o melhor, sempre, é ler.

MORTE
Nilson Pedro

A morte, intransponível, no entanto nos visita.
E dizemos deus, e dizemos tempo,
e dizemos nada.
E nada não é coisa que se diga, se ela existe.

A morte, incontrastável, entretanto nos
-------------------------------------[conforma.
E ganhamos deus, e ganhamos tempo,
e ganhamos nada. E nada não podemos obter,
se ela é plena.

ALEIVOSIA
Nilson Pedro

Cuidado com tudo isso
que não te espera,
que tudo isso que não
te espera nada mas é
que teu fado: e eis que
vem vindo algo mais
que à noite não se vê, não se
distingue na floresta
das visagens, das insônias,
dos meandros deste ser
que se desvela.
Cuidado sobretudo com
as palavras que deixaram
de existir.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

RESUMO

Gerana Damulakis

As melhores crônicas de todos os nossos cronistas, sem exceção, resultaram da famosa “falta de assunto”. Isto se deu, seja por parte do grande Rubem Braga, ou do nosso igualmente grande Adroaldo Ribeiro Costa, seja por parte de qualquer outro da legião de escritores que fizeram da crônica - que nasceu num veículo efêmero, como o jornal ou a revista - um gênero brasileiro por excelência, com moldes muito próprios.

Não é sobre a crônica que quero escrever, mas sobre a falta de assunto. Na falta de assunto uma coisa puxa a outra. E o que surgirá disso aqui? Olho para a parede desta minha biblioteca e os olhos param num quadro com um poema. Só um irmão muito querido para fazer um projeto gráfico, reproduzir o poema dividindo em 5 estrofes que o poema não tem, colocar cada estrofe dentro de uma cor (e todas as cores são as preferidas da pessoa que escreveu), jogar cada uma para um lado, mandar imprimir, colocar moldura.

Tudo caminhava para uma crônica e deu em poesia de superfície. E defasada porque a autora tem, atualmente, livros publicados e, inclusive, este poema está no livro desprezado, o único de poemas O Guardador de Mitos - os demais são ensaios e/ou organização de antologias. Que seja. Ah, e já plantei uma árvore.

RESUMO

Não cheguei na lua.
Andei apenas pelas ruas
molhadas, cheias de buracos
que transbordam de pedras.
Não plantei uma árvore,
nem colhi frutos,
mas não arranquei rosas.
Não escrevi um livro.
apenas passei páginas,
lisas e lidas.
Não conquistei meu chão,
meu corpo é pequeno,
grande minha solidão,
e apenas consigo
abrir meu coração no tímido pedaço
do meu espaço;
Semeio de paz o meu redor,
tento criar ilusões para
a difícil realidade da vida.


A foto foi tirada por Gerácimos Damulakis, meu pai, já colocada aqui em outra ocasião, num dos seus arroubos de fotógrafo artístico: em preto e branco para enfatizar o raio de luz sobre nós dois, meu irmão e eu.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

ANGÚSTIA: UNIVERSALISMO CONVERGENTE

Gerana Damulakis

O menino é o pai do homem
E eu hei de atar meus dias,
cada qual, com elos da piedade
natural.
--------William Wordsworth


Um momento forte une dois contos de mestres desta arte. Trata-se de “Angústia”, de Tchekhov, e “Bicuíba: uma biografia”, conto de Hélio Pólvora, incluído no livro O Grito da Perdiz (Difel, 1983). A aproximação entre as duas prosas pretende não apenas localizar e pôr em foco a situação que os une, mas trazer algo mais sólido e pertinaz ao tempo: o próprio texto que encerra o pensamento.

São dois contistas de procedências tão diversas — um pertence ao cabedal portentoso da literatura russa, o outro faz parte da não menos poderosa (para nós, pelo menos) literatura grapiúna, cuja existência é fato, separada e distinta no seu pathos em relação ao restante da arte literária baiana —, procedências diferentes, como eu dizia, a ponto de levar nossa convergência entre ambos para um grau maior, governado pelo que se costuma chamar de temática universalizante.

“Coisa esquisita: a morte se enganar de porta” — palavras do pobre cocheiro, cujo filho morrera. É assim em “Angústia”, de Tchekhov: embora entorpecido pela dor, o cocheiro se via obrigado a trabalhar servindo a uma freguesia alheia a seu pesar, incapaz até de escutar sua história; por fim, o cocheiro acaba desabafando com o próprio cavalo, enquanto este mastigava o feno, também alheio. Os episódios, ou melhor, as tentativas de desabafo e atenção por parte do cocheiro não passam de um reforço à dor verdadeira, que é a perda do filho, porque o conto tem no seu conteúdo esta emoção maior e nada mais interessa. Interessa apenas o erro da morte, o engano da batida na porta. O cocheiro diz que o filho deveria substituí-lo agora que está velho; o cocheiro quer a ordem natural das coisas. A partir do momento em que a ordem natural não se dá, o que se dá é o mais trágico acontecimento da existência, a maior perda: a tortura que a alma não aceita.

Em “Bicuíba” o objetivo é semelhante dentro de suas técnicas narrativas: a opressão com o paradigma temporal invertido da existência. O apelido Bicuíba, do personagem de Pólvora, é explicado apenas no final, esclarecendo ser uma árvore de pau nobre, semelhante aos cedros e jacarandás. “Você caiu como cai a árvore lascada pelo raio” — constatação da morte de Bicuíba. E o pai escuta o filho mais velho dizer: “José era boa pessoa”, e fecha a cara em sinal de amuo, olha para os filhos e netos, e acrescenta, “julga-se no dever” de acrescentar: “E trabalhador. Muito trabalhador. Saía de madrugada, às vezes passava a noite fora. Sim, senhor, ele cavava a vida”. Para o pai, a morte do filho “foi um choque, (...), um baque no peito”. Terminam dormindo juntos, pai e filho, lado a lado, “por coincidência na fila de gavetas anônimas”.

É tão “normal” que o pai morra primeiro que o filho, que Hélio não relata a morte de Bicuíba; ele narra primeiramente a morte do pai, embora fique claro que Bicuíba morreu antes do velho. O conto de Pólvora, consistente e denso, deseja a vastidão de uma vida, ao tempo em que interroga sua validade e remete o leitor ao final, ainda buscando o enigma mais entranhado que a arte pode revelar. Nessa fusão de culturas e mesmo nessa mescla de vidas e cotidianos comuns, conciliados num pesadelo perseverado de perdas, o propósito é exceder a mortalidade e sorver a morte na vida, converter o efêmero e o transitório em intemporal.

À guisa de complemento: o paralelo se deu entre os personagens, o cocheiro tchekhoviano e o pai do grapiúna Bicuíba, deixando divisar a mesma angústia, a da descrença diante do espetáculo da vida — e da morte, com sua fina ironia.


Tu, que és filho do Gozo,
Grita em volta de mim, deixa-me
ouvir teus gritos.
---------------William Wordsworth


Texto retirado, mas com cortes para adaptar ao blog, de O Rio e a Ponte — À Margem de Leituras Escolhidas. Damulakis, Gerana. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, Fundação Cultural, EGBA, 1999. (Coleção Selo Editorial Letras da Bahia, 48)

Ilustração: O sinal da angústia (1932), de Salvador Dali.

LISBOA NOS HABITA

Gerana Damulakis

A revista Serrote nº 2, uma publicação do Instituto Moreira Salles, traz ,entre outras jóias, um texto do livro El viento ligero em Parma, de Enrique Vila-Matas. O texto está intiulado “Já estivemos em Lisboa, sem jamais ter estado”. É um belo texto e traz uma sensação compreendida por mim e, creio agora, por muitos que em Lisboa já estiveram.
Ele diz: “Você caminha pela primeira vez pelas ruas de Lisboa e, tal como ocorrera ao poeta Valente, sente a cada esquina a lembrança difusa de já tê-la dobrado. Quando? Não sabemos. Mas já estivemos aqui antes de ter vindo”. A tradução é de Cide Piquet e o texto está ilustrado com cartões-postais antigos de Lisboa, exemplares da coleção do Instituto Moreira Salles.
Quis registrar isto aqui porque também senti, na primeira vez que estive em Lisboa, que já conhecia tudo aquilo. Pensei que a razão fosse o fato de ser baiana de Salvador, uma cidade que herdou muito de Portugal; depois pensei que, embora muito mais próxima do meu lado grego haja vista a minha família paterna ter vindo da Grécia - portanto sem geração intermediária - o meu tanto de Portugal não está tão longe, já que meu avô materno era português: seria a força da ancestralidade.
Constato, com Vila-Matas: aquela impressão de então não foi apenas minha. E fiquei feliz. Que maravilha uma cidade passar para as pessoas uma sensação de conhecimento, de intimidade e, inclusive, se nos aprofundarmos, de pertencimento, pois reconhecemos o que nos habita.
Sobre este escritor espanhol, cujo estilo é fascinante, lembro que o blog O bem, o mal e a coluna do meio (http://obemomaleacolunadomeio.blogspot.com/) tem uma excelente postagem, em 25 de novembro deste ano, que trata de Enrique Vila-Matas: o texto é “Uma pequena história do Não”, quando Dade Amorim escreve sobre o livro Bartleby e companhia, um dos mais aplaudidos títulos de Vila-Matas.
De saída, fica a minha intenção de escrever mais demoradamente sobre os livros do autor do igualmente aplaudido O mal de Montano. Temos traduzidos pela Cosac Naify cinco títulos. Voltarei a eles, a ele.

sábado, 12 de dezembro de 2009

DEZEMBRO: CLARICE E MANOEL













Gerana Damulakis

Nos anos 80, Millôr Fernandes começou a mostrar ao público, em suas colunas nas revistas Veja e Isto é e no Jornal do Brasil, a poesia de Manoel de Barros. Outros fizeram o mesmo: Fausto Wolff, Antônio Houaiss, entre eles. Os intelectuais iniciaram, através de tanta recomendação, o reconhecimento dos poemas que a Civilização Brasileira publicou, em quase a sua totalidade, sob o título de Gramática expositiva do chão, em 1990. Daí em diante Manoel de Barros seguiu encantando.

Com pelo menos 30 livros publicados, desde 1937, e muito aclamado pela crítica, vencedor de, no mínimo, 10 prêmios literários, certamente o autor da Gramática... entrou na história da poesia nacional ocupando um lugar semelhante ao que ocupa Clarice Lispector na prosa brasileira, seja pelo que há de comum entre os dois escritores, nas suas lutas com as palavras para que digam além do que elas podem, seja pela proposta movida por uma intensa insatisfação quanto à ordem natural das coisas.

Atentando para frases do tipo: “Eu escrevo com o corpo/ Poesia não é para compreender, mas para incorporar”, em Arranjos para assobio, ou para a pequena estrofe: “Caracol é uma casa que se anda/ E a lesma é um ser que se reside”, do Retrato..., tem-se, de saída, a originalidade pela qual o vate do Pantanal seduziu seus aficionados. Os temas são a infância, a natureza e o Pantanal, registrados no universo verbal que lhes confere sentidos diversos, sentidos oníricos, por vezes fantásticos.

Repito: o que fez Clarice Lispector (10 de dezembro de1920 - 9 de dezembro de1977) com palavra na prosa parece ser o que faz Manoel de Barros (19 de dezembro de 1916- ) com a poesia. Estilo feito de invenções e de achados, substantivos são adjetivados, adjetivos e verbos são substantivados, violenta-se a regência verbal e neologismos ornamentam os versos, ou melhor, as frases. Como saber qual dos dois escritores disse:

Ri de novo, em leves murmúrios como os da água
e estupefato como uma parede branca ao luar.

Ambas são frases de Clarice Lispector.

É preciso ir mais adiante um pouco para constatar o paralelo:

O silêncio piscava nos vaga-lumes (...) os vaga-lumes abriam pontos lívidos na penumbra.

Mais uma vez, Clarice Lispector. Estou certa de que houve quem pensasse que esta última frase era de Manoel.

Agora estas frases:
Os silêncios me praticam (...) Sou livre para o desfrute das aves (...) Quero cristianizar as águas, e mais estas: Só não desejo cair em sensatez./ Não quero a boa razão das coisas./ Quero o feitiço das palavras. De Manoel de Barros, do Retrato do artista quando coisa (Record, 1998).

O estilo de achados - flagrantes poéticos e iluminações - acaba comovendo mais ainda quando presente no gênero que lhe fica melhor, que é a poesia. Primeiramente é encantador, mas o risco é o de que possa descair em verbalismo, do que, vale ressaltar, Lispector livrou-se justamente devido ao gênero por ela praticado.

Uma outra pedra de toque da poesia de Manoel é o efeito da frase. Muitos, os que torcem o nariz para sua obra, rotulam-no de mero “frasista”. Pode-se dizer e classificar o poeta de vários modos, até de ecologista da palavra, mas é certo que ele chegou num momento do século passado que parecia totalmente sem perspectivas de algo diferente daquele “grafismo”, já tão longa e fartamente em moda, e deslumbrou.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

TRADIÇÃO E CRIAÇÃO

Gerana Damulakis


Às 11h30 da manhã do dia 28 de março de 1941, Virginia Woolf foi vista pela última vez por um empregado de uma fazenda próxima ao seu refúgio no campo, Monk’s House, em Rodmell, condado de Sussex, relativamente perto de Londres. Ela usava um sobretudo e uma bengala. Perto do rio Ouse, ela largou a bengala, encheu os bolsos do sobretudo com pedras e entrou no rio. Seu corpo só foi encontrado três semanas depois, por cinco adolescentes que passeavam de bicicleta na outra margem. Ela deixou cartas dizendo que não suportava mais, sabia que estava enlouquecendo.
O livro As Horas (Companhia das Letras, 1999), de Michael Cunningham, foi levado ao cinema e teve Nicole Kidman como Virginia Woolf: estava incrível, a imagem ficou retida. É Nicole Kidman quem vejo entrando naquele rio com o sobretudo cheio de pedras.
Virginia Woolf deixou romances, contos, ensaios. O ensaio Um teto todo seu (Nova Fronteira, 1985) é quase um manual para as escritoras. Contudo e ainda sob a leitura dos textos ensaísticos de Fuentes, é do seu romance mais aplaudido, As ondas (Nova Fronteira, 1980, tradução magistral de Lya Luft), que também pinço a frase da escritora Virginia Woolf, uma romancista com total consciência do ofício, dizendo que não há criação sem uma tradição na qual se nutra, assim como a tradição é mantida pela recente criação que a aviventa.

Não posso mover-me sem desalojar o peso dos séculos.
Virginia Woolf

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

LENDAS AFRICANAS


A poeta Martha Galrão, do blog Maria Muadiê (http://mariamuadie.blogspot.com/) fez uma rifa (é a segunda rifa que ela faz no blog, adoro a ideia, o prêmio é sempre um livro), cujo ganhador foi o poeta africano Namibiano Ferreira (http://poesiangolana.blogspot.com/). Uma bela coincidência, pois o prêmio foi o livro da mãe de Martha, Iray Galrão, intitulado Lendas Africanas, que será lançado amanhã, dia 11 de dezembro. Basta clicar no convite para obter detalhes.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

"TEU NOME É PARA NÓS, MANUEL, BANDEIRA"

Gerana Damulakis

Somos tão complexos. Ao mesmo tempo: pareço viver sob a necessidade de ler todos os escritores, de ler os livros do mundo e, logo, pareço ser repetitiva, vivendo sob as mesmas necessidades. É o que ocorre quando se trata de Manuel Bandeira: uma necessidade recorrente. Já fiz três postagens com o centão intitulado “Antologia”, de Manuel Bandeira. Escrevi:

Um centão é uma composição poética (ou musical) elaborada com versos de vários autores ou de apenas um autor, assim como diz o nome: “manta de retalhos”, que vem do latim “cento”. A origem do centão é greco-latina: o poeta de então clamava por poemas homéricos e virgilianos como ponto de partida para construção de seu centão. No caso de Bandeira, o poema “Antologia” é um centão com seus versos.
Certa noite, resolvi me dedicar ao centão e procurei a origem de verso por verso, todos pertencentes a poemas memoráveis de Manuel Bandeira. Primeiramente seria maravilhoso sentir “Antologia”, perfeito como se sua feitura não tivesse nada de uma “colcha de retalhos”: fruto da magia do mestre.

Depois coloquei todos os poemas, evidenciando qual verso foi retirado para a composição do centão. Não repitirei, ficaria longo. Mas a necessidade de uma leitura dos versos de Bandeira resulta na repetição, mais uma vez, do poema que guarda, digamos, um resumo.


ANTOLOGIA
------------Manuel Bandeira

A vida
Com cada coisa em seu lugar
Não vale a pena e a dor de ser vivida.
Os corpos se entendem mas as almas não.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Vou-me embora p’ra Pasárgada!
Aqui não sou feliz.
Quero esquecer tudo:
— A dor de ser homem...
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possui.

Quero descansar
Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei...
Na vida inteira que podia ter sido e que não foi.

Quero descansar.
Morrer.
Morrer de corpo e alma.
Completamente.
(Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir.)

Quando a Indesejada das gentes chegar
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa.
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

O título da postagem está entre aspas porque se trata de um verso de Carlos Drummond de Andrade: "Ontem, hoje, amanhã: a vida inteira,/ teu nome é para nós, Manuel, bandeira".

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"A LITERATURA É O NAVIO"

Gerana Damulakis

Conversando com Hélio Pólvora sobre a excelência dos ensaios críticos do escritor peruano Mario Vargas Llosa (1936- ), lembrei-me, logo que desligamos, que o escritor nascido no Panamá, naturalizado mexicano, Carlos Fuentes (1928- ), é outro exemplo de excelente prosador e ensaísta. Tenho especial apreço pelo romance Diana ou a caçadora solitária, de Fuentes, cuja resenha que fiz para o jornal A Tarde, à época, trazia todo o meu entusiasmo pela narrativa, embora A morte de Artemio Cruz seja visto como um romance superior (ambos os romances de Fuentes citados foram editados pela Rocco).

Retirei da estante o volume Geografia do romance (Rocco, 2007), já passando para a lembrança direta de um trecho no qual Carlos Fuentes escreve sobre a questão do deslocamento quando lemos. Neste trecho está exatamente o que se passa comigo, o transporte para o local da narrativa, a ponto de precisar de um instante para, ao fechar um livro, voltar completamente para meu lugar, para meu tempo.

O deslocamento é a ação da literatura. Abandonamos nossa aldeia e saímos para descobrir o mundo. Abandonamos os mortos e seus mitos, abandonamos o mundo dos deuses, saímos para viajar e lutar e criar os mitos do homem. Tentamos regressar ao lar e nem sempre chegamos. Abandonamos nossa própria pele para converter-nos em outros. Viajamos, como Xavier de Maistre, ao redor do nosso quarto; ou, como Julio Verne, ao centro da Terra. Até o farol, até a montanha mágica: a literatura é o navio, afinal, da viagem interna em que, como assinala Freud, o trabalho da vida se transforma no trabalho dos sonhos, e as substituições entre o que fomos, o que somos e o que seremos têm lugar (ou antes o deixam).
Carlos Fuentes
in Geografia do romance

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

PAIXÃO AVASSALADORA

















Gerana Damulakis


São incontáveis os romances, grandes romances, que narram uma paixão avassaladora. Mas quando trato deles, os dois primeiros títulos que chegam à memória são invariavelmente os mesmos. Por mais que eu leia, os romances emblemáticos do tema permanecem.

A atmosfera do desespero amoroso é o centro dos romances Servidão Humana e Um Amor. Creio que o leitor, diante de um sentimento tão avassalador, que apaga todos os demais interesses da vida do personagem, acaba criando menos cumplicidade e mais piedade para com o coitado sofredor. Ainda que compreendamos a intensidade da loucura da paixão, fica instigante procurar sua razão. Não há razão, dirão os mais românticos. Há perguntas.

Em Servidão Humana (Globo, 2005), de Somerset Maugham (1874-1965), o personagem Philip Carey, estudante de medicina, sente que, por ser manco, é rejeitado. Quando aparece a mulher sedutora, Mildred, conquistá-la passa a ser o seu grande desafio. Philip se presta a tudo, sua vida é a total servidão ao amor, mesmo que fira sua dignidade. Paixão é desafio?

Outro exemplo está em Um amor (Nova Fronteira, 2003), de Dino Buzzati (1906-1972), história de um desenhista de cenários tímido e extremamente solitário, Antonio Dorigo, que se apaixona por uma prostituta chamada Laide. Cada vez mais ele vai conhecendo detalhes sobre a vida da moça, sente-se enredado por mentiras que ela cria, que ele sabe que são mentiras e nelas se perde. A obsessão de Dorigo é tirar Laide daquela vida, sem perceber que, na verdade, esta ânsia apaixonada vem da busca por um sentido para a sua própria vida. Paixão é uma forma de preencher o vazio?

Leitor: qual título de romance, que narra uma paixão avassaladora, surge primeiramente na sua memória?

sábado, 5 de dezembro de 2009

O LEITOR


TRECHO
Para um leitor, esta pode ser a razão essencial, talvez a única justificativa para a literatura: que a loucura do mundo não nos tome por completo, mesmo que invada nosso porão (a imagem é de Machado de Assis) e depois, lentamente, vá tomando nossa copa, nossa sala e a casa inteira. Joseph Brodsky, prisioneiro na Sibéria, encontrou essa justificativa nos versos de W. H. Auden. Reinaldo Arenas, confinado nos cárceres de Castro, encontrou-a na Eneida; Oscar Wilde, preso em Reading, nas palavras de Cristo; Haroldo Conti, torturado pelos militares argentinos, nos romances de Dickens. Quando o mundo se torna incompreensível, quando atos de terror e respostas aterrorizantes para tal terror enchem nossos dias e nossas noites, quando nos sentimos desorientados e desconcertados, procuramos um lugar no qual a compreensão (ou a fé na compreensão) tenha sido expressa em palavras.
Alberto Manguel
in À mesa com o Chapeleiro Maluco - Ensaios sobre corvos e escrivaninhas (Companhia das Letras, 2009)
-Manguel’s personal library pictured above from the NYT h/t Alan Jacobs

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SEXTA-FEIRA: MYRIAM FRAGA NOS ENCONTROS LITERÁRIOS DA ALB


HELENA
-------------Myriam Fraga

Ele estava parado
À entrada da sala.

Olhos postos no chão,
Os pés unidos,
E a seda da túnica
Flutuando
Sobre o torso flexível.

Das sandálias de couro
Alongavam-se as pernas
Como mastros de um navio.

Tanta beleza, meu Deus!

Em mim cavou-se o abismo.
Recuaram, como onda na praia,
Os artifícios
Que ainda me mantinham,

E o precipício
Atraiu-me com um som
Claro de sinos.

Deixei para trás o lar,
O marido e os filhos,
A chama da lareira
Mudou-se em pedra fria.
Mas a deusa foi cruel.

Cada beijo de amor
Transformava-se em crime,
Por cada instante de paixão
Cobrava-se o dízimo.

Tróia foi apenas um sonho.

Resta a sombra do cavalo,
Como uma estátua,
Na praça.
Restam ruínas, destroços...
A morte no meu leito
E o vingador à porta.

in Poesia Reunida (Salvador: Assembléia Legislativa do Estado da Bahia, 2008).

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

SEXTA-FEIRA: ILDÁSIO TAVARES NOS ENCONTROS LITERÁRIOS DA ALB

RÉSTIA DE LUZ
----------------------Ildásio Tavares


Para Gerana




Ainda ontem, entrei sem querer
naquela
pensão barata (mas limpa e asseada)
onde nos encontrávamos felizes nos
finais de tarde. Entrei sem querer,
eu juro. Procurava uma peça de carro
numa daquelas lojas perto da estação
e quando dei por mim, estava bem na porta.
Resistir, quem havia de?

Na penumbra furtiva do corredor,
o coração descarrilou até o quarto
17 que me aguardava calado como uma
verdade eterna. Tudo igual. A cama
imaculadamente branca; um criado mudo;
duas cadeiras de palhinha puídas; e a
bacia de louça cor de rosa em que te lavavas depois,
ocultando teu gesto,constrangida,
para não te banalizares – tua aura de
deusa profanada por uma intimidade prosaica.

Quanta vez este teu recato ante a promiscuidade
me excitou, te enlacei por detrás
e te trouxe de volta ao vendaval da cama!
Tu sempre resistias. Você é louco, menino? Ele chega
cedo do trabalho. Olhe aquela réstia de luz na persiana
que engatinha sorrateira a caminho da noite. Mas
resistias um resistir indeciso, querendo mesmo te
entregar, e desta vez com mais volúpia.

É um amor bem mais amor esse amor
que me fazes depois, tu murmuraste
um dia, abaixando os olhos, com esse
teu jeito envergonhado e tímido de
tudo fazer e nada comentar. Foi num desses dias em que
sentimos a terra tremer embaixo de nós e até pensamos
que era o trem. La estava a réstia de luz que engatinhava
pela persiana, prestes a engendrar a noite.

Não sei se foi ele, se fui eu ou que foi.
Ninguém entende a lógica das mulheres.
Faz bastante tempo que nos vimos.
Foi no meio da rua, por acaso. Tu nem
quiseste sentar para tomar alguma coisa, conversar.
Era um final de tarde. Tinhas pressa.
O que a gente tem pra conversar,
conversa aqui mesmo, rapaz, diga.

Eu tentei reviver em minhas trôpegas palavras
nossos momentos de esplendor, cerzir retalhos do passado
como uma colcha de delírio.
Tu ouviste calada e no final
disseste. Acabou, menino, passou, esqueça.
Com um sorriso didático e nada teu.

Com um ar preocupado, consultaste
teu relógio e foste embora, sem um adeus,
pisando nas nuvens num passo curto
e ligeiro. Eu via uma pessoa mas era outra
pessoa. No quarto imóvel da
pensão barata, a réstia de luz desenhava
preguiçosamente as horas diminutas do
final da tarde, recorrente indiferença
de todos os dias. Sinete azul da eternidade.


Este poema está no livro 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (Ildásio Tavares - Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2006). O poeta dedicou-me o poema porque eu ouvi todas as modificações que ele fez ( e foram muitas) por vezes até altas madrugadas, quando ele telefonava por conta de uma nova solução. Valeu a pena, ganhei, em papel, todas as versões que o poema teve ao longo de sua feitura. E, assim, ele a mim foi dedicado.
Ildásio Tavares é graduado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, fez o Mestrado na Southern Illinois University, o Doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Pós-Doutorado na Universidade de Lisboa.

ENCONTROS LITERÁRIOS 4


COM A PALAVRA O ESCRITOR NA ALB


AVISO IMPORTANTE

A palestra do escritor Antonio Miranda vai ser deslocada para a Academia de Letras da Bahia por conta de uma programação inesperada em comemoração ao dia do samba no Largo do Pelourinho.
Endereço: Avenida Joana Angélica, 198 - Nazaré, Salvador-Bahia
Data: 02 de dezembro/2009
Hora: 17hs

COM A PALAVRA O ESCRITOR


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O TEMPO É A SOMBRA...

Gerana Damulakis

No dia 7 de abril deste ano, fiz uma postagem intitulada “Persistência do espírito grego”, para trazer o primeiro prêmio Nobel atribuído a um escritor de língua grega, ocorrido em 1963: Giórgos Seféris (1900-1971). Para encerrar, momentaneamente, com a poesia escrita pelos gregos, deixo a referência a Seféris e passo diretamente ao segundo prêmio Nobel para a literatura neogrega, em 1979: Odisséas Elýtis (1911-1996).

O TEMPO É A SOMBRA CÉLERE DOS PÁSSAROS
Odisséas Elýtis

O tempo é a sombra célere dos pássaros
Meus olhos escancarados em meio às suas imagens

Por sobre o verde ditoso das folhas
As borboletas vivem grandes peripécias

Entrementes a inocência
Despe sua última mentira

Doce, doce peripécia
A Vida.

--------------in Orientações

Tradução de José Paulo Paes
Foto: Odisséas Elýtis