quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

OS GRANDES RECONHECEM OS GRANDES


O Sr. pergunta qual a minha opinião sobre seus contos. Qual a minha opinião? Talento indiscutível e autêntico; um grande talento. Por exemplo, no conto Na Estepe, ele se manifestou com uma força extraordinária e inclusive tive inveja por não ter sido eu quem o escreveu. O Sr. é um artista, um homem inteligente. Sente com perfeição. É um plástico, ou seja, quando descreve um objeto, o Sr. o vê e o apalpa com as mãos. Isto é arte autêntica. Eis a minha opinião e estou muito contente de poder expressá-la. Repito, estou muito contente e se nos conhecêssemos pessoalmente e conversássemos uma hora ou mais, então o Sr. se convenceria de como o tenho em alta conta e que esperanças deposito em seu talento.
Falar agora dos defeitos? Mas isto não é tão fácil. Falar dos defeitos de um talento é o mesmo que falar dos defeitos de uma grande árvore que cresce num jardim: o principal não está na árvore em si, mas no gosto daquele que olha para a árvore. Não é assim?

Trecho da carta de A. Tchékhov, datada de 3 de dezembro de 1898, destinada a Aleksiéi Maksímovitch (Górki).
in Carta e Literatura - Correspondência entre Tchékhov e Górki (Editora da Universidade de São Paulo, 2001), organização de Sophia Angelides.

MINICONTOS

Gerana Damulakis

Já tive oportunidade de postar minicontos algumas vezes. O de Ernest Hemingway não pode ficar de fora, é o meu preferido. O do guatemalteco Augusto Monterroso é tido como o mais famoso miniconto, até a Wikipédia traz este exemplo. Gosto muito do miniconto de Antônio Torres. E quantas histórias posso imaginar com o miniconto de Ronaldo Correia de Brito.


Vende-se: sapatos de bebê, sem uso.
Ernest Hemingway


Quando acordou o dinossauro ainda estava lá.
Augusto Monterroso


MAS O RIO CONTINUA LINDO
Pensa o desempregado ao pular do Corcovado.
Antônio Torres


FUMAÇA
Olhou a casa, o ipê florido. Tudo por ela. Suspendeu a mala e foi.
Ronaldo Correia de Brito

Os dois minicontos dos escritores brasileiros estão no volume Os cem menores contos brasileiros do século (Ateliê Editorial, 2004), organização de Marcelino Freire.