domingo, 24 de maio de 2009

TERRACOTA


Gerana Damulakis


Durante os 8 anos na comissão editorial Selo Letras da Bahia (Fundação Cultural do Estado, Secretaria da Cultura e Turismo e EGBA) passaram pelas minhas mãos uma quantidade impressionante de originais. Aprovei vários, reprovei outros tantos. Alguns ficaram marcados. Continuei acompanhando a produção literária de muitos daqueles autores, mas não sei sobre todos, se o livro aprovado na comissão ficou sendo o primeiro e único, se o escritor era escritor de uma estação.

Fiquei bastante contente com o número de livros que recebi (todos juntos) de Vladimir Queiroz, exemplo de um escritor que teve o original aprovado no Selo, seguiu publicando e, hoje já tem uma bela lista de títulos.

No entanto, quando aprovei o volume de poesias Terracota, em 2001, Vladimir, que estreou em 1996 com o livro Seres & Dizeres, já havia recebido alguns prêmios e foi o primeiro colocado no Projeto Cultural Petrobras, na categoria poesia, em 1998. Sua obra traz: Infantilis: um manifesto à criança, de 2003, Apokálupsis do sertão, de 2006 e Luminescência, de 2008, além dos já citados.

Pensei em colocar um poema de Terracota, só que este livro tem uma organicidade tal, fazendo-se necessário por inteiro, daí busquei os versos de "Mar" em Lumininescência:

O sol auscultou o mar:
o mar bateu bateu bateu
arrebentou-se.

Sujou a cara de areia
seguiu pegadas
foi em busca do nada
infiltrou-se.

Trouxe a brisa rouca
ouviu murmúrios: coisas (de) vagas
aquietou-se.

Enraiveceu-se, espumou
viu o sol (tão lindo!)
expirou.

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morreu na praia.