quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A BELEZA E A VERDADE



Gerana Damulakis

Nunca lhe apareci de branco (Rocco, 1998), de Judith Farr, foi um livro que me trouxe imenso prazer de leitura. Lembrei-me dele porque estava tentando recordar certos versos de Emily Dickinson, mais especificamente aqueles que travam uma conversa entre a beleza e a verdade. Estive debatendo sobre a beleza, eis o ponto de partida. A beleza, essa pseudo-virtude, efêmera e, primeiramente, relativa. Tão relativa quanto a verdade.
Voltando ao livro da poeta Judith Farr, trata-se de uma recriação de algumas das cartas que Emily Dickinson supostamente teria escrito a suas amigas íntimas, além de cartas recebidas de amigos e da família. Saímos da leitura com a sensação de termos conhecido um tanto de uma das maiores poetas americanas do século XIX.


Morri pela beleza e mal estava
Ao túmulo ajustado
Alguém veio habitar a sepultura ao lado.
(Defendera a verdade.)

Baixinho perguntou: “Por que morreste?”
“Pela beleza”, respondi.
“E eu pela verdade. São ambas uma só.
Somos irmãos”, me disse.

E assim como parentes que à noite se encontram
Entre os jazigos conversamos.
Até que o musgo alcançou nossos lábios
E cobriu nossos nomes.

Tradução de Idelma Ribeiro de Faria para Poemas - Emily Dickinson (Editora Hucitec, 1991).