
Gerana Damulakis
Bernardo Linhares faz o que deseja com as palavras, com os versos e com as estrofes, com seus poemas: se resolve escolher o soneto porque o conteúdo condiz com a forma fixa, então, será um soneto perfeito — sempre penso que Sosígenes Costa adoraria os sonetos de Bernardo; se quer sutilmente usar o humor e a ironia, recorre a recursos finos, para o bom entendedor; se, mais uma vez, resolve encantar totalmente o leitor, recorre ao lirismo mais envolvente.Em quatro versos, o poema “Menina dos olhos” cria uma imagem tão rica e bela, que fiquei tentada a colocar aqui. Depois, pensei em “Sonho de valsa”, que já li várias vezes, pela criação especial. Mas, há ainda um dos perfeitos sonetos, há o "Pássaro dourado", para Hélio Pólvora etc, só que acabei escolhendo o poema que me toca mais de perto, porque antes de tudo o sentimento. De As Flores do Ocaso (Via Litterarum, 2010):
PRECE
-------Bernardo Linhares
Escutei o silêncio meu amor
da sua oração, celebrando a vida
num altar de espelhos.
Senti na sua boca
a ressurreição da carne
comungada num beijo.
Em devota posição, seu amor,
meu amor, me provaste de joelhos.
Ilustração: Cutting Origami, de Edmund Charles Tarbell (1862-1938).