quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

POR QUE VOCÊ FICA LENDO ROMANCES?

Gerana Damulakis

Por que eu leio tantos romances? Seguramente não é pela mesma razão que Emma Bovary. Ao contrário de Flaubert, Madame Bovary, c'est pas moi!
Quem me deu a resposta foi o escritor argentino Tomás Eloy Martínez (1934 - ), no romance Purgatório (Companhia das Letras, 2009):

As coisas que não existem são em número muito maior do que as que chegam a existir. O que nunca existirá é infinito. As sementes que não encontraram sua terra nem sua água e não se transformaram em planta, os seres que não nasceram, os personagens que não foram escritos. As rochas que voltaram a ser pó? Não, essas rochas, em algum momento, chegaram a ser. Falo apenas daquilo que podia ser e não foi. O irmão que não existiu porque você existiu no lugar dele. Se o tivessem concebido alguns segundos antes ou alguns segundos depois, você não seria quem é e não saberia que sua existência se perdeu no ar sem que você mesmo se desse conta disso. Aquilo que não chega a ser nunca sabe que poderia ter sido. Os romances são escritos para isso: para compensar no mundo real a ausência perpétua daquilo que nunca existiu.

Os romances servem para preencher uma falta, o que não chegou a existir.
E você, por que fica lendo romances, quando poderia fazer outra coisa?

Foto: Tomás Eloy Martínez, do periódico el País.