quinta-feira, 3 de julho de 2008

O TIGRE


Gláucia Lemos


Não era para você me olhar assim
com aquele olhar de tigre
de vigília.

Todos os trens partiram.
Eu sei que houvera trens.
Mas já era tão noite!
No mundo só ficou
um banco qualquer
uma sala qualquer
um frio sem termo
num olhar de remorso.
O vazio enramou-se.

Inútil olhar atrás os trilhos secos.
Ademais é outono.
Um outono sem rumo
que jamais abrirá outra manhã.

Você não sabe
que o último olhar foi como o dente
que deixou cicatriz.