Gerana Damulakis
Foi no começo deste novembro, no tradicional almoço, no restaurante Drouant, em Paris, que os membros da Academia Goncourt concluíram sobre o mais importante prêmio literário francês: o resultado favoreceu a escritora de origem senegalesa Marie NDiaye, pelo romance Trois femmes puissantes (Gallimard).
Marie NDiaye contou com cinco votos, contra dois para Jean-Philippe Toussaint e um para Delphine de Vigan.
Não conheço a obra de NDiaye. Preciso ler urgentemente algum livro da vencedora do Prêmio Goncourt 2009.
Conheço e admiro os dois romances que li de Jean-Philippe Toussaint. Estivemos trocando algumas palavras sobre o estilo do escritor, Mayrant Gallo e eu, ambos concordando que o romance Fugir foi uma leitura que proporcionou prazer e admiração estética.
Sobre Fugir (Bertrand Brasil, 2008), o escritor Mayrant Gallo escreveu no seu blog Não leia! (http://nonleia.blogspot.com/): “O mais recente romance do belga Jean-Philippe Toussaint elege a narrativa oriental como tom e faz da linguagem um meio para captar cores, formas, odores, sensações, espaços, épocas, objetos, atmosferas perdidas ou que vão se perder. Ao fim, descobrimos que tudo, da primeira à última palavra, do gesto mais brusco ao olhar mais sutil, forma uma aventura que vai obrigar o protagonista a tomar uma decisão, responder à pergunta: "Será que eu acabaria tudo com Marie?" Ora, ele já respondeu que sim, na segunda linha do romance: "No verão anterior à nossa 'separação', tinha passado algumas semanas em Xangai (...)". Só não sabemos como. O romance é este 'como', e passa por Xangai, Pequim e pela ilha de Elba, onde tudo se decide, em braçadas marinhas de desespero, pavor, amor e amizade. Um périplo no qual a história pouco importa. O fluxo da vida não permite organização com começo, meio e fim precisos. Apenas experiências, que ora faltam ora sobram, e com as quais, se a vida não é clara, benéfica, ao menos torna-se suportável”.
Já Fazer Amor (Globo, 2005), mais instigante ainda do que Fugir, traz uma metáfora que se realiza totalmente no final do livro. Como uma metáfora se realiza? Na minha opinião, é a grande nota do romance, impossível de ser aqui adiantada sem que se revele muito. O homem e a mulher, Marie, são os mesmos em ambos os livros. Ela é estilista e o casal foi a Tóquio para uma exposição dos modelos de Marie. Sabem que se amam, mas que precisam da separação. Pequenos terremotos servem à perfeição para acrescer de significado o “fazer amor” daquelas duas pessoas. Todo o romance é uma preparação para o término da relação, mas sem palavras, sem debate. E ele leva na viagem um frasco contendo ácido. Não, não há morte, senão a do amor.Há um suave toque de melancolia à moda oriental, não há alarde e peripécias, há um caminho a ser percorrido.
5 comentários:
bela resenha do livro...quero ler!!!
Dá mesmo vontade de sair correndo procurar os livros, Gerana. Muito bom. Beijo.
Que excelência de postagem! Obrigada por proporcionares uma coisa destas!
A cruz - em Tomar foi feita pelo Homem, mas como sempre: depende do ponto de vista - foi feita por Deus aquela que se avista recortada de luz.
Bom Domingo
beijinho
Pôxa, Gerana, infelizm,ente ainda não foi dessa vez qque nos conhecemos...cheguei em casa j´´a masi de 7 horas e não tive coragem de sair de novo.
Quanto a Gilka Machado, sim, eu sinto como vc, sua poesia é muito snsual.
Obrigada por me apresentá-la.
um beijo,
Martha
Gosto de ler suas resenhas. Adoraria saber escrever assim. Mas só sei escrever invencionice.
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