sexta-feira, 13 de novembro de 2009

JEAN-PHILIPPE TOUSSAINT: FAZER AMOR E FUGIR


Gerana Damulakis

Foi no começo deste novembro, no tradicional almoço, no restaurante Drouant, em Paris, que os membros da Academia Goncourt concluíram sobre o mais importante prêmio literário francês: o resultado favoreceu a escritora de origem senegalesa Marie NDiaye, pelo romance Trois femmes puissantes (Gallimard).
Marie NDiaye contou com cinco votos, contra dois para Jean-Philippe Toussaint e um para Delphine de Vigan.
Não conheço a obra de NDiaye. Preciso ler urgentemente algum livro da vencedora do Prêmio Goncourt 2009.

Conheço e admiro os dois romances que li de Jean-Philippe Toussaint. Estivemos trocando algumas palavras sobre o estilo do escritor, Mayrant Gallo e eu, ambos concordando que o romance Fugir foi uma leitura que proporcionou prazer e admiração estética.

Sobre Fugir (Bertrand Brasil, 2008), o escritor Mayrant Gallo escreveu no seu blog Não leia! (http://nonleia.blogspot.com/): “O mais recente romance do belga Jean-Philippe Toussaint elege a narrativa oriental como tom e faz da linguagem um meio para captar cores, formas, odores, sensações, espaços, épocas, objetos, atmosferas perdidas ou que vão se perder. Ao fim, descobrimos que tudo, da primeira à última palavra, do gesto mais brusco ao olhar mais sutil, forma uma aventura que vai obrigar o protagonista a tomar uma decisão, responder à pergunta: "Será que eu acabaria tudo com Marie?" Ora, ele já respondeu que sim, na segunda linha do romance: "No verão anterior à nossa 'separação', tinha passado algumas semanas em Xangai (...)". Só não sabemos como. O romance é este 'como', e passa por Xangai, Pequim e pela ilha de Elba, onde tudo se decide, em braçadas marinhas de desespero, pavor, amor e amizade. Um périplo no qual a história pouco importa. O fluxo da vida não permite organização com começo, meio e fim precisos. Apenas experiências, que ora faltam ora sobram, e com as quais, se a vida não é clara, benéfica, ao menos torna-se suportável”.

Fazer Amor (Globo, 2005), mais instigante ainda do que Fugir, traz uma metáfora que se realiza totalmente no final do livro. Como uma metáfora se realiza? Na minha opinião, é a grande nota do romance, impossível de ser aqui adiantada sem que se revele muito. O homem e a mulher, Marie, são os mesmos em ambos os livros. Ela é estilista e o casal foi a Tóquio para uma exposição dos modelos de Marie. Sabem que se amam, mas que precisam da separação. Pequenos terremotos servem à perfeição para acrescer de significado o “fazer amor” daquelas duas pessoas. Todo o romance é uma preparação para o término da relação, mas sem palavras, sem debate. E ele leva na viagem um frasco contendo ácido. Não, não há morte, senão a do amor.Há um suave toque de melancolia à moda oriental, não há alarde e peripécias, há um caminho a ser percorrido.

5 comentários:

Adriana Riess Karnal disse...

bela resenha do livro...quero ler!!!

nydia bonetti disse...

Dá mesmo vontade de sair correndo procurar os livros, Gerana. Muito bom. Beijo.

Ana Tapadas disse...

Que excelência de postagem! Obrigada por proporcionares uma coisa destas!
A cruz - em Tomar foi feita pelo Homem, mas como sempre: depende do ponto de vista - foi feita por Deus aquela que se avista recortada de luz.
Bom Domingo
beijinho

Muadiê Maria disse...

Pôxa, Gerana, infelizm,ente ainda não foi dessa vez qque nos conhecemos...cheguei em casa j´´a masi de 7 horas e não tive coragem de sair de novo.

Quanto a Gilka Machado, sim, eu sinto como vc, sua poesia é muito snsual.
Obrigada por me apresentá-la.
um beijo,
Martha

Anônimo disse...

Gosto de ler suas resenhas. Adoraria saber escrever assim. Mas só sei escrever invencionice.