Um dos poemas mais belos de Manuel Bandeira. Um dos poemas mais intensos, talvez por conta da percepção, triste e bastante melancólica, do quanto é efêmera a beleza, do quanto o que vale mesmo é a vida mesma. Com seu talento ímpar para tocar o coração do leitor, Bandeira sempre seduz, mergulha em nossa essência, impregna a nossa mente de poesia.
MADRIGAL MELANCÓLICO
--------------------Manuel Bandeira
O QUE EU ADORO em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento.
Graça que perturba e que satisfaz.
O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.
Bandeira, Manuel, "Madrigal Melancólico", in Poesia Completa e Prosa (Nova Aguilar, 1993).
16 comentários:
Muito bem escolhido,Manuel Bandeira, um dos meus preferidos.
Um bom domingo com Sol em sua vida.
Ê Gerana, hoje cordei com um engasgo literal, pulando da cama, a babá esmurrando as costas... enontrar este poema para me deixar comovida e de engasgo acabado, valeu.
Bandeira no dia da poesia. Maravilha o Madrigal. Abraço.
Manuel Bandeira é maravilhoso, muito boa escolha Gerana!
bjs
Gi
Absolutamente absoluto esse poema.
gosto imensamente de Manuel Bandeira, lembro de novinha, novinha, ter encomendado uma coletânea sua no Círculo do Livro, lembro de ir ao correio buscá-lo e a alegria de ler....
E o que a gente adora nele também é a vida, minha, sua, nossas.
Ele é maravilhoso, e tudo que deixou escrito vale a pena.
Uma boa semana pra você.
Tem razão, Gerana. Bandeira sabia o que era poesia. Tem gente que não entende isso. Sabe que eu também não entendia quando era mais jovem. Os jovens pensam saber demais. Poesia é outra coisa.
Feliz você, que é jovem e não tem essa cegueira.
Beijo.
Maravilhoso Bandeira, Gerana. Sabe eu nunca o li muito, havia uma certo resistência em mim por conta de certas inovações modernistas que não me agradavam, ou mesmo talvez pela minha predileção por poetas mais intimistas, líricos mesmo, nostálgicos, como Pessoa, Cecília, etc....
Mas , como te disse, eu não lera o Bandeira. Este poema da postagem ,assim como muitos outros do poeta, que então conheci, são maravilhosos, na linha que gosto, herdeiros do grande lirismo da alma portuguesa.
Beleza, grande poeta.
Um abraço.
PS Reiterando, adoro este teu espaço dedicado à literatura. Aqui não temos o ranço do academicismo, a crítica vem com inspiração, criatividade, e, sobretudo, beleza.
Você é uma pescadora de pérolas.
E generosa, nos entrega.
Para amansar, para suavizar.
Beijos
Este poema é maravilhoso. O Título, por si, já é uma obra de arte. Também adoro M.Bandeira.
beijo
Maravilha!
Bandeira é da linhagem dos santos gênios. Amo esse poema.
Lindo! Lindíssimo!
Realmente... tuuudo... quando termina, a gente tem que se lembrar de respirar.. se não.. morre!
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