domingo, 14 de março de 2010

MADRIGAL MELANCÓLICO

Gerana Damulakis

Um dos poemas mais belos de Manuel Bandeira. Um dos poemas mais intensos, talvez por conta da percepção, triste e bastante melancólica, do quanto é efêmera a beleza, do quanto o que vale mesmo é a vida mesma. Com seu talento ímpar para tocar o coração do leitor, Bandeira sempre seduz, mergulha em nossa essência, impregna a nossa mente de poesia.

MADRIGAL MELANCÓLICO
--------------------Manuel Bandeira


O QUE EU ADORO em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento.
Graça que perturba e que satisfaz.

O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.

O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.


Bandeira, Manuel, "Madrigal Melancólico", in Poesia Completa e Prosa (Nova Aguilar, 1993).

16 comentários:

C. Cardoso disse...

Muito bem escolhido,Manuel Bandeira, um dos meus preferidos.
Um bom domingo com Sol em sua vida.

Anônimo disse...

Ê Gerana, hoje cordei com um engasgo literal, pulando da cama, a babá esmurrando as costas... enontrar este poema para me deixar comovida e de engasgo acabado, valeu.

Unknown disse...

Bandeira no dia da poesia. Maravilha o Madrigal. Abraço.

Gisele Freire disse...

Manuel Bandeira é maravilhoso, muito boa escolha Gerana!
bjs
Gi

M. disse...

Absolutamente absoluto esse poema.

Muadiê Maria disse...

gosto imensamente de Manuel Bandeira, lembro de novinha, novinha, ter encomendado uma coletânea sua no Círculo do Livro, lembro de ir ao correio buscá-lo e a alegria de ler....

Bípede Falante disse...

E o que a gente adora nele também é a vida, minha, sua, nossas.

dade amorim disse...

Ele é maravilhoso, e tudo que deixou escrito vale a pena.

Uma boa semana pra você.

José Carlos Brandão disse...

Tem razão, Gerana. Bandeira sabia o que era poesia. Tem gente que não entende isso. Sabe que eu também não entendia quando era mais jovem. Os jovens pensam saber demais. Poesia é outra coisa.
Feliz você, que é jovem e não tem essa cegueira.
Beijo.

Fernando Campanella disse...

Maravilhoso Bandeira, Gerana. Sabe eu nunca o li muito, havia uma certo resistência em mim por conta de certas inovações modernistas que não me agradavam, ou mesmo talvez pela minha predileção por poetas mais intimistas, líricos mesmo, nostálgicos, como Pessoa, Cecília, etc....
Mas , como te disse, eu não lera o Bandeira. Este poema da postagem ,assim como muitos outros do poeta, que então conheci, são maravilhosos, na linha que gosto, herdeiros do grande lirismo da alma portuguesa.
Beleza, grande poeta.
Um abraço.

PS Reiterando, adoro este teu espaço dedicado à literatura. Aqui não temos o ranço do academicismo, a crítica vem com inspiração, criatividade, e, sobretudo, beleza.

Eliana Mara Chiossi disse...

Você é uma pescadora de pérolas.
E generosa, nos entrega.
Para amansar, para suavizar.

Beijos

Ana Tapadas disse...

Este poema é maravilhoso. O Título, por si, já é uma obra de arte. Também adoro M.Bandeira.
beijo

Ana Cecília disse...

Maravilha!

aeronauta disse...

Bandeira é da linhagem dos santos gênios. Amo esse poema.

Valéria Martins disse...

Lindo! Lindíssimo!

frô disse...

Realmente... tuuudo... quando termina, a gente tem que se lembrar de respirar.. se não.. morre!