quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A MARCHA

Luís Antonio Cajazeira Ramos



É sempre madrugada, os deuses dormem,
o céu é longe, a caminhada insana,
e vai, antes que os vórtices se formem
no pó da estrada, a lenta caravana.

Nem o ganir do cão, rasgando as fardas
deixadas para trás, quebra o silêncio
dos deuses — não se envolvem nas jornadas.
...E o dia é logo ali, na ponte pênsil.


Só a neblina esconde leve a aurora
e vê (se é dado ver ao vento frio
que sabe quanto é morna qualquer hora)
a razão do vacilo e do arrepio


contra o salto no abismo: os desenganos.
Abandonem seus deuses, homens! Vamos!




Luís Antonio Cajazeira Ramos assina a antologia de seus poemas intitulada Mais que sempre (7Letras, 2007).

3 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Para Luís, o que sonha: este poema é mesmo um nota 10. O diálogo com o de Aramis fica muito interesante e levanta uma vontade de postar mais diálogos poéticos. Quais foram os poemas que você e Gláucia fizeram?

Anônimo disse...

Luis: Eu já conhecia, você sabe, mas fiquei com vontade de lhe mandar um recadinho: estive aqui lendo seu poema pela enésima vez. Para marcar a minha indispensável presença no seu espaço. Pelo menos agradeça a visita, meu poeta!

Anônimo disse...

O poema é perfeito e o que mais me impressiona são as imagens e o ritmo com que ela vai se construindo, levando-nos a marchar pela vida afora... Parabéns, Luis.