Na Flip 2007, realizada neste começo de julho, a Editora Record levou o escritor baiano Antônio Torres para representar a literatura brasileira. O mais recente romance de Torres, Pelo fundo da agulha, teve, em Parati, quase que um relançamento, haja vista que foi editado em 2006. Mais do que merecido, Pelo fundo da agulha tem tratamento especial porque vem fechar a trilogia iniciada com o romance Essa terra, de 1976, hoje já definitivamente consagrado com várias reedições e traduções. Passados 20 anos surgiu O cachorro e o lobo, retomando a vida do personagem Totonhim numa volta ao sertão, partindo de São Paulo, para onde fora no final de Essa terra. No total são 30 anos, de Essa terra até Pelo fundo da agulha, de Totonhim menino e rapaz, que deixa o Junco baiano — hoje Sátiro Dias — rumo a São Paulo, até o bancário aposentado Antão Filho, ou seja, o idoso Totonhim. Tantas foram as tragédias: a ida do irmão Nelo em busca do sul maravilha e sua volta de malas vazias e seu suicídio como redenção pelo pecado de não ter vencido; a loucura da mãe com a perda do filho; a solidão do pai; a viagem de Totonhim, também para fazer uma vida fora do sertão; o retorno de Totonhim, apenas como uma vista, mas que faz o pai temer mais um suicídio; a constatação da velhice da mãe que, apesar da vida sofrida e de uma insanidade temporária, ainda é capaz de enfiar a linha pelo buraco de uma agulha. Mas Totonhim não é Nelo, não há sina registrada e, então, vem o retorno que se dá como quem passa a vida a limpo: em São Paulo, deitado a relembrar, o aposentado, separado da mulher e dos filhos, conta com uma vida inteira que, enfim, pode receber um ponto final. Pelo fundo da agulha já encontra o personagem assim, com a vida feita e refazendo o caminho através da memória, pois chega a hora de, sem sair do lugar, passar os fatos e as sensações pelo túnel do tempo. O romance leva o leitor nessa viagem de uma forma tão envolvente que, se este mesmo leitor não tiver lido Essa terra e O cachorro e o lobo, seguramente irá em busca deles. É irresistível, inclusive, uma releitura dos livros anteriores, pois queremos mais, sempre mais, após fechar o volume Pelo fundo da agulha.
Gerana Damulakis
3 comentários:
Bela leitora crítica Gerana Damulakis: sua resenha ressurge hoje, 13.09.2013, no Facebook, postada pela caríssima Silvia Menezes Leroy, de Nantes, França.
Esta bela resenha de Gerana Damulakis foi postada hoje (13.09.2013) no Facebook por Silvia Menezes Leroy, de Nantes, França.
Esta bela resenha de Gerana Damulakis foi postada hoje (13.09.2013) no Facebook por Silvia Menezes Leroy, de Nantes, França.
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