quinta-feira, 4 de setembro de 2008

COLETÂNEA ARTESANAL - CONVITE

PELE & ALMA

Lunna Guedes


Encara agora a pele
Ouça!
É possivel ouvir as inquetações todas
Mesmo enquanto reza seu sono
… e expulsa a consciência de sua alma
Ouça!
É possivel ouvir os resmungos todos
É possivel sentir a vontade de rasgar-se!


Convido vocês a participarem da próxima edição do Coletânea Artesanal - intitulada Pele & Alma. Para tal, enviem seus textos para lunnaguedes@gmail.com ou
leticia.lo.coelho@gmail.com até o dia 20 de setembro de 2008.

A Décima Quinta Edição do Coletânea Artesanal estará on line no dia 30 de setembro de 2008.

Informações adicionais:
Não esqueçam de adicionar o nome que será postado junto ao texto enviado e link de blog ou site, caso tenham disponível.
O envio dos textos não assegura a publicação - uma vez que todos os textos serão lidos e selecionados.
Os autores selecionados serão informados por e-mail.


Edição Letícia Coelho e Lunna Guedes

DOIS SONETOS: CAJAZEIRA E GLÁUCIA


MUSA

Luís Antonio Cajazeira Ramos

Nenhum perfume disse que chegaste.
Não houve sobressalto nem sinais.
Chegaste, assim como quem chega. E parte
de tudo parte, para nunca mais

achar o rumo, longe do que fui.
Resta de mim somente algo de novo,
muito antigo e completo, feito fogo
ou verdade, tão novo como luz,

cidade, paz, necessidade, pão...
Algo tão novo como tudo em vão.
E segue meu delírio a te seguir.

Nenhum perfume disse que partiste.
“E não partiste”, meu delírio insiste.
Perdido em ti, jamais dou trégua a mim.



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MUSA E SOMBRA

Gláucia Lemos

Nenhuma mágoa disse que partiste.
Não houve despedidas, ademais.
Partiste, assim como quem parte. E fica
em tudo um certo élan de não ter mais

outro rumo, distante do que é.
Resta de mim o antigo, ontem perdido,
já desfeito e incompleto, quase cinza
ou mentira, tão velho como fé,

travo e tristeza, dor e treva chã.
Algo que foi como esperança vã.
E busco em meu vacilo te buscar.

Nenhum sorriso disse que voltaste.
“E não voltaste”, impõe-se-me a verdade.
Perco-me em mim, na perda de te achar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

OUTROS 10 TÍTULOS


Gerana Damulakis


DA LISTA

21- Pais e filhos, de Turguêniev

22- Os tambores da chuva, de Ismail Kadaré

23- O deserto dos tártaros, de Dino Buzzati

24- Meu nome é vermelho, de Orhan Pamuk

25- Se um viajante numa noite de inverno, de Italo Calvino

26- A consciência de Zeno, de Italo Svevo

27- Belos e malditos, de Scott Fitzgerald

28- Riso na escuridão, de Vladimir Nabokov

29- Padre Sérgio, de Tolstói

30- O bom soldado, de Ford Madox Ford

TRECHO de O deserto dos tártaros, de Dino Buzzati (foto).

Aos poucos a fé se enfraquecia. Difícil é acreditar numa coisa quando se está sozinho e não se pode falar com ninguém. Justamente naquela época Drogo deu-se conta de que os homens, ainda que possam se querer bem, permanecem sempre distantes; que se alguém sofre, a dor é totalmente sua, ninguém mais pode tomar para si uma mínima parte dela; que se alguém sofre, os outros não vão sofrer por isso, ainda que o amor seja grande, e é isso que causa a solidão da vida.


MANTRA

Fred Matos


para Isis


este frio que cresce no meu plexo
é léxico de uma língua antiga e rara
almenara tatuada na minha pele

a noite é de lã um manto negro
o meu mais cálido agasalho
de saudades e ausências salpicado

nenhuma palavra perfura o aço
nenhuma açoita o tempo
nenhuma funda a eternidade

mas aquele léxico diuturno
forasteira luz do meu vocabulário
penetra cada fresta do manto

e canto um monótono mantra
trama sânscrita desta escrita
negra etérea noite infinita.


Fred Matos é autor de Melhor que a encomenda (FUNCEB, 2006). Foto "There's that Mantra again", por biffybeans, retirada do Flickr.

CRUZAMENTO


David Nobrega



Olha moça, eu posso até contar como aconteceu, mas não vai adiantar nada.Sou apenas um traste, um dos muitos neste cidadão imenso, a tal capital, lotando cruzamentos com nossas bala, flor e carregador de celular. Ninguém dá valor prá gente - a não ser quando a gente tem garrafinha de água para vender e o trânsito pára -, quanto mais ouvidos.Naquele cruzamento deveria ter um semáfro. Eu já havia dito isso antes, mas não mando nada e ninguém presta atenção na gente.Vai aparecer em que jornal isso? Preciso lembrar de pedir pro meu moleque gravar isso pra mim. Famoso por um dia, né? Coisa de pobre. Mas sou pobre e honesto e não custa nada deixar gravado pra mostrar pros vizinho.Bom, voltando ao assunto: O caminhão desembestou lá em cima, perto daquela placa amarela que a senhora pode ver ali em cima, ó. Tá vendo, seu câmera? Não, do outro lado! Essa mesma!Pois é...ele veio correndo de um jeito que a gente, acostumado a ver acidente aqui já sabia que ia dar mer...quer dizer...ia dar pobrema. Não, não acho que tenha perdido os freio ou qualquer coisa assim, não.O carro da madama ali tava certo sabe? A preferencial é dela e quem cruzou foi o caminhão. Mas também não custava nada o motorista dar uma paradinha e espiá antes de cruzar.Não, moça. Ninguém sabe direito onde o motorista do caminhão foi parar. Assim que ele viu a mer...quer dizer...a besteira que ele aprontou, deu no pé.É, fui eu que tirei a criança do banco de trás sim. Tinha muito sangue, mas quando me enfiei no meio dos ferro deu pra ver que o sangue todo era da mãe, Deus a tenha.Os bombeiro estavam ali ó, do outro lado do rio. Até eles dar o retorno e voltar aqui, com esse trânsito todo fud...quer dizer...parado, a menininha podia ter morrido. Já pensou se pega fogo nisso tudo aí?Ah sim...eles me disse que está tudo nos conforme agora. A mãe não viveu mesmo. O motorista também não.Mas a menininha, essa eu salvei. Deus tava comigo no momento se é que a senhora me entende.Parece que o pai dela já foi lá pras Clínicas buscar ela.Recompensa? Não moça. Não quero nada não. A gente faz o que a gente pode e se não for para ajudar os outro, melhor nem viver não é mesmo?Mas bem que a senhora podia ajudar a gente e comprar umas balinha...prum sobrinho talvez?A caixa toda?!Por quê você tá chorando moça?



David Nobrega criou e escreve nos blogs coletivos, pseduo-poemas http://www.pseudo-poemas.blogspot.com/ e no Canto dos contos http://contodecanto.blogspot.com/.
Este conto está no blog http://scriptus-david.blogspot.com/. A foto que acompanha o texto foi realizada por David Nobrega.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

MAIS 10 TÍTULOS INESQUECÍVEIS


Gerana Damulakis


O poeta Goulart Gomes gosta tanto de listas quanto eu, e ficou ansioso com a minha decisão de colocar os romances inesquecíveis de 10 em 10 títulos. Ele disse que isto fica parecendo capítulo de novela e, assim, iria ter que acompanhar. Só para aplacar a curiosidade dele, que é um leitor muito respeitado por mim, vou adiantar mais 10 títulos. Os 100 já estão listados mas, creio, ficariam como algo excessivo para um blog, ninguém iria ter paciência para ler 100 títulos (apenas Goulart). Há outra razão para não apresentar a lista total: a idéia (de Kátia Borges) de reproduzir trechos de alguma das 10 obras se perderia.


DA LISTA


11- Pé na estrada, de Jack Kerouac


12- O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger


13- O jovem Törless, de Robert Musil


14- Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa


15- Adolpho, de Benjamin Constant


16- A Colmeia, de Camilo José Cela


17- Os Buddenbrooks, de Thomas Mann


18- Crime e castigo, de Dostoiévski


19- Petersburgo, de Andrei Biéli


20- O zero e o infinito, de Arthur Koestler


TRECHOS DE Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa (foto).


Ela era. Tal que assim se desencantava, num encanto tão terrível; (...) Diadorim! Diadorim era uma mulher. Diadorim era mulher como o sol não acende a água do rio, como eu solucei meu desespero.


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Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci, retirando as mãos para trás, incendiável: abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha, recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. Adivinhava os cabelos. Cabelos que cortou com tesoura de prata... Cabelos que, no só ser, haviam de dar para baixo da cintura... E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo:
— Meu amor!...


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A mulher lavou o corpo, que revestiu com a melhor peça de roupa que ela tirou da trouxa dela mesma. No peito, entre as mãos postas, ainda depositou o cordão com o escapulário que tinha sido meu, e um rosário, de coquinhos de ouricuri e contas de lágrimas-de-nossa-senhora. Só faltou – ah! – a pedra ametista, tanto trazida... o Quipes veio, com as velas, que acendemos em quadral. Essas coisas se passavam perto de mim. Como tinham ido abrir a cova, cristãmente, pelo repugnar e revoltar, primeiro eu quis: — Enterrem separado dos outros, num aliso de vereda, adonde ninguém ache, nunca se saiba...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

SETEMBRO DE 1908: PARA MACHADO, O AMOR

Gerana Damulakis

Machado de Assis morreu no dia 29 de setembro de 1908.
Minha homenagem será trazer, sobre alguns temas, algumas frases do Bruxo do Cosme Velho (epíteto que, consagrado a Machado, ficou conhecido no meio literário por conta do poema de Carlos Drummond de Andrade, "A um bruxo, com amor", quando o poeta refere-se à casa número 18 da rua Cosme Velho, Rio de Janeiro, onde morou Machado de Assis.

Do AMOR, por Machado de Assis

Cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar. (Ressureição)

O amor é uma carta, mais ou menos longa, escrita em papel velino, corte-dourado, muito cheiroso e catita; carta de parabéns quando se lê, carta de pêsames quando se acabou de ler. (A mão e a luva)

O amor nasce muita vez do costume. (A mão e a luva)

Iaiá ignorava tudo; não soletrava o amor, aprendera-o de um lance. (Iaiá Garcia)

Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis (...). (Memórias póstumas de Brás Cubas)

Os melhores amores nascem de um minuto.
(do Epistolário, carta a Salvador de Mendonça)