A grande cena de morte da literatura brasileira é também uma grande cena de amor. Num só instante: morte, desvendamento de um mistério, confirmação de um amor.
João Guimarães Rosa: o Rosa, o grande Rosa e, na minha opinião, a grande cena de amor e morte da literatura brasileira. Até hoje faço a leitura da cena tomada de emoção, até hoje ainda fico arrepiada com a intensidade da emoção que as linhas abaixo são capazes de transmitir.
Ela era. Tal que assim se desencantava, num encanto tão terrível; (...) Diadorim! Diadorim era uma mulher. Diadorim era mulher como o sol não acende a água do rio Urucúia, como eu solucei meu desespero.
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Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci, retirando as mãos para trás, incendiável: abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha, recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. Adivinhava os cabelos. Cabelos que cortou com tesoura de prata... Cabelos que, no só ser, haviam de dar para baixo da cintura... E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo:
— Meu amor!...
João Guimarães Rosa: o Rosa, o grande Rosa e, na minha opinião, a grande cena de amor e morte da literatura brasileira. Até hoje faço a leitura da cena tomada de emoção, até hoje ainda fico arrepiada com a intensidade da emoção que as linhas abaixo são capazes de transmitir.
Ela era. Tal que assim se desencantava, num encanto tão terrível; (...) Diadorim! Diadorim era uma mulher. Diadorim era mulher como o sol não acende a água do rio Urucúia, como eu solucei meu desespero.
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Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci, retirando as mãos para trás, incendiável: abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha, recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. Adivinhava os cabelos. Cabelos que cortou com tesoura de prata... Cabelos que, no só ser, haviam de dar para baixo da cintura... E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo:
— Meu amor!...
João Guimarães Rosa in Grande Sertão: Veredas
Ilustração: Detalhe de mulher diante do espelho, de Vicente do Rego Monteiro (1899-1970).
27 comentários:
gosto também da cena,gosto da surpresa do amor não revelado e não morto com o corpo que se descobre não mulher mais algo Intermediário
Pra mim, nada supera a morte de Baleia. De longe, a narrativa mais emocionante que já li.
Bellísimo...voy tomando nota de los autores.
beso*
Duas grandes estrelas...
João Guimarães Rosa...
Vicente do Rego Monteiro...
beijos
Leca
((♥̮̃♥̃))
te gosto Gerana...depois volto pra te ler!
Sim, é uma grande cena, das maiores.
O que falar dessa cena, Gerana! Muitíssimo bela. Vibra por si só.
Beijos.
Jefferson.
Tratando-se de Rosa, é covardia, Gerana. A cena é mesmo de arrepiar.
Beijo.
estou seguindo,muito bom o blog...
abraços!!
Tens razão, Gerana!
É lindo demais!
Até dói a boca do estómago...
Grande abraço, amiga!
diria que o amor apazigua a morte, e Riobaldo pode enfim viver,
abraço
Oi, Gerana,
Há muito tempo que leio quase que só poesia. Mas você garimpa tão bem os seus textos que já penso em mudar de atitude.
Em abraço,
JR.
Belíssima cena de amor e morte, realmente. Impossível não se emocionar com este quadro tocante, que só um mestre é capaz de criar.
Como sempre, você colhe e comenta com inteligência e sensibilidade o que há de melhor na literatura.
Beijo.
A morte fica muito perto do amor: habitamos no meio dos misterios.
Gerana, gosto muito da frase seguinte:
"Foi assim. Eu tinha me debruçado na janela, para poder
não presenciar o mundo."
E acho espetacular logo mais à frente:
"Ela tinha amor em mim.
E aquela era a hora do mais tarde. O céu vem abaixando.
Narrei ao senhor. No que narrei, o senhor talvez até ache mais
do que eu, a minha verdade. Fim que foi.
Aqui a estória se acabou. Aqui, a estória acabada. Aqui a
estória acaba."
Porrada atrás de porrada.
G.
Uma leitura feita por você deve ser mesmo de arrepiar!
beijo.
vc acertou "na veia".
bjs meus e de vera.
precisamos reencontrar!
É um trecho inesquecível e sempre comovente. Amor e morte sempre foram os dois pilares da vida, consequentemente da lilteratura também. Eros e Tanatos. Juntos são imbatíveis na emoção. A ilustração do grande cubista é de beleza admirável.
Como é que adivinhaste que ando a precisar que alguém me fale um pouco de Guimarães Rosa. Foi há tanto tempo que o li e vou precisar rever minhas leituras.
Se eu tivesse esta querida Gerana por perto!
Grande beijo
Toda vez que venho aqui me sinto tão adoravelmente burrilda... rsrsrs
Certeza que preciso ler mais! Bem mais!
E olha que eu mato um livro por semana quando estou no speed. Será que é pq não leito tanto os clássicos?!
Beijos
Dentro do contexto dos valores dos personagens em questão, é uma cena com um enorme impacto. Entendo e aceito, pois, a sua opinião.
Beijo :)
Maravilha, Gerana, sinto muita atração pelo universo do Rosa, pois sua busca do universal, do mito, nas origens, na terra, de alguma maneira é minha busca também. E, sem dúvida, esse trecho escolhido é de uma dor e de uma beleza infinitas. Grande abraço.
Quando iniciei a leitura, antes de ver o nome de Guimarães, só pensei nele. Acabo de vir de um evento de semana de letras em que falei sobre este amor de Riobaldo e Diadorim. Das escolhas dela entre a vida e a morte. Chorei ao fim da leitura de meu texto e os leitores apaixonados também choraram. Foi lindo!
Li, me doendo!
Muito forte Gerana
gerana,
estonteante!
realmente, agora que você destacou, a cena é a maior de todas!
um beijo, querida.
Gerana, humanamente falando,sempre pensamos na morte com certo receio, algo feio, fim de tudo. Mas a literattura chega e põe poesia, a pinta com tantas cores que o mito cai por terra e vira apenas arte, e o que era triste fica belo.
Este trecho transborda o espaço das palavras e sai do texto em forma de incenso a nos purificar, nos envolvendo até a alma. É uma dor gostosa de sentir...a dor provocada pela excelência da arte.
abraços..
É perfeita, em todos os detalhes.
abraços
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