Gerana Damulakis
A genialidade de Anton Tchekhov está no conto que, a partir do simples, encerra um conteúdo de emoção muitas vezes torturante. "É que a intenção de Tchekhov se mascara de sutis subentendidos", segundo Herman Lima.
Penso que o sentido de seus contos está em nós, leitores. Uma frase - um trecho, uma história inteira - é como uma flecha que vai acertar o alvo, ou não. As duas frases do conto "O Bisbilhoteiro" acertam em mim:
(...) Mas não há felicidade absoluta nesta vida. A própria felicidade contém o seu veneno que vem de fora e a vulnera.
Tchekhov
Ilustração: Venus Verticordia, de Dante Gabriel Rossetti (1828-1882).
18 comentários:
Contigo sempre se aprende mais e mais. No blog de Lúcia Delorme (grande escritora), sempre a vejo, através de seus comentários brilhantes. A Literatura agradece tamanha dedicação.
Parabéns pelo seu blog. Sou mais um novo seguidor deste.
Beijos e saudações, Paulo Tuba.
Querida Gerana
Tens razão: flecha certeira!
Talvez a consciência que temos de sua transitoriedade seja o veneno...
Beijo, amiga!
Oi, Gerana,
Gosto quando dois escritores falam algo semelhante, mas de forma diferente.
Tenho lido muito Cecília, e no Epigrama n. 2 ela diz assim:
"És precária e veloz, Felicidade.
Custas a vir e, quando vens, não te demoras.
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir, se inventaram as horas.
Felicidade, és coisa estranha e dolorosa:
Fizeste para sempre a vida ficar triste:
Porque um dia se vê que as horas todas passam,
e um tempo despovoado e profundo, persiste."
Abraço,
JR.
Tchekhov acertou em cheio, em nós, seus leitores,
abraço
...atravessou e me atingiu.
Tua leitura incita, estimula a minha curiosidade.
grande abraço.
simpleza y emoción profunda, así es.
besos*
"Depois de se escrever um conto, deve-se cortar o início e o fim, pois é aí que nós, escritores, mais mentimos"
Anton Pavlóvitch Tchekhov (1860 - 1904).
Estamos de acordo!
Comecei a ler o autor ainda muito novinha.
Beijinho querida Gerana
Querida Gerana, esse é sem dúvida um dos meus autores favoritos. Tenho um pequenino livro de contos dele, "O violino de Rothschild" que marcou a minha vida de leitora e escritora.
E também é linda a ilustração do post. Beijos com carinho
Estava mesmo precisando de tempo para retornar aqui
O pensamento do Tchekhov provoca múltiplas interpretações. Fico com esta: a vida é um teatro de paisagens em constante mutação. Nossa felicidade depende de relações humanas, interações, e por aí vai. Mas acredito que há um veneno que vem de dentro também, nossas neuroses, carências, insatisfações. Nosso estado de felicidade é então afetado por uma série de variáveis, muitas vezes fora do nosso controle. Mas sempre vale a pena buscá-la.
Ah, já li alguns contos do Tchekhov na adolescência, e sei que Katherine Mansfield amava esse escritor, sua obra, sua sensibilidade.
Grande abraço, minha amiga.
São tantas as visões sobre felicidade. No livro em que estou lendo (Antes de Nascer o Mundo), lá pelas tantas, uma das personagens diz que felicidade é uma questão de pontaria. Ou seja, de foco, de querer ver, de se concentrar, e de ir até o alvo.
Sei lá.
Felicidade é uma ideia.
bj.
NADA É ABSOLUTO, SENÃO A MORTE. oS CONTOS DE ANTON SÃO UMA ESPÉCIE DE FELECIDADE PARA QUEM TEM A FELECIDADE DE OS LER.
jORGE mANUEL bRASIL mESQUITA
LISBOA, 29/09/2010
No caso dessas frases, fomos um alvo parecido, me atingiram ao centro.
O adjetivo sem mais para ele foi uma outra flecha bem mirada.
Belas críticas tenho lido por aqui.
Ainda escreve no "A Tarde"? Seguirei seus textos em tela e papel.
Abraço, Gerana!
O Elefante de Costas.
Gerana, eu tenho um livro dele da coleção da Folha e não consegui terminar o primeiro conto. Dei azar?
É como diz Edu: é preciso mesmo voltar aqui, sempre. Grande Tchekhov: o veneno da felicidade!
Linda ilustração....linda demais. E acho que essa ideia é tudo. Ou algo nos captura, como uma flecha, sua rapidez e precisão, ou não, segue o curso e se finca em outro coração.
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