sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

SONETO DEMODÉ


Gláucia Lemos



Sangro este amor tardio que celebro.
Este bocado meu que conquistaste.
Que se rendeu sem pejos, sem disfarce,
metades de verdade e de incerteza,

que faz vigília nos murais do medo,
que da agonia faz o seu recado,
que não se basta do provar seu cardo,
e te diz tanto, sem saber dizer-se.

Por tanto ser, se consagrou nos lábios
da tua fome, e me prostrou cativa.
Na minha sede sonda o teu sobejo.

Não me tires a dor, se ele me causa.
Que se hei de ser feliz na paz vazia,
dá-me a infelicidade do teu beijo.



Gláucia Lemos é autora de 33 títulos, sendo o mais recente Bichos de conchas (Scortecci, 2008).

4 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Gláucia: soneto que despertará em Luis o desejo de responder com um dele, vc verá. Muito bonito, minha flor.
Veja lá na sua crônica sobre o livro de Wilson: está corrigido o erro de digitação no "muito obrigada", ok?

Anônimo disse...

Será? Luis faria uma bela resposta, com certeza, mas não sei se se interessará em fazê-lo. Ainda está no Rio e de lá irá a São Paulo. Grata pela emenda na crônica, a intenção nem era que emendasse, foi só comentário, quando percebi.Beijão.

Anônimo disse...

É bom encontrá-la aqui, seja com a poesia, seja com a crônica. Sempre brilhante.

Anônimo disse...

Obrigada, Pereira.Já estou mal acostumada com a frequência do seu comentário sempre generoso. Ou bem?