quarta-feira, 4 de junho de 2008

DE TARDE


Gerana Damulakis


O que fiz com a vida?
Embrulhei para presente,
depois joguei longe, embora.
Como esquecer o passado?
Entro em casa,
pego meus livros,
meus pedaços de mim.
Passo a noite rolando,
criando esse ser poeta,
deixando pra lá
outros sonhos, até você
(imagem que se sobrepõe).
Comigo se foi a manhã,
estou em plena tarde,
tratando de não perder
o relógio de vista.
O passado volta
(no futuro) e esse
sentimento é apenas
uma reação química
reversível
e velha - automática -
dos meus sentidos.
De Guardador de mitos (Edição do autor, 1993).

2 comentários:

Anônimo disse...

Você escreve poemas niilistas e é uma pessoa tão diferente. É difícil separar sua alegria natural dos seus versos tristes.

Anônimo disse...

"A manhã se foi, estou vivendo a tarde, tratando de não perder o relógio de vista". Mas para que se preocupar tanto com o relógio? se a manhã se foi, tratemos de encompridar a tarde, e vivê-la tanto quanto possível, porque o tempo não se importa com a gente, segue como um trem embalado, mas sempre se pode conservar no espírito o sol da tarde mais brilhante, e rir do tempo.