Gerana Damulakis
Ignacio Vázquez, no seu blog Lisarda Baila Cumbia (http://lisarda.blogspot.com/), fez uma postagem para me apresentar a poesia de Robero Juarroz. Traduzi ligeiramente o poema que segue abaixo. Vale a pena adentrar e conhecer a poesia do argentino. Logo depois, lembrei que Gonçalo M. Tavares tem um volume intitulado O Senhor Juarroz (Casa da Palavra, 2007), da série: O senhor Calvino, O Senhor Kraus, O Senhor Walser, O Senhor Breton. Também vale a pena, a série é uma homenagem aos escritores.
Roberto Juarroz, Poesía vertical XI, 25 (1988)
Cada poema faz olvidar o anterior,
apaga a historia de todos os poemas,
apaga sua própria historia
e até apaga a história do homem
para ganhar um rosto de palavras
que o abismo não apague.
Também cada palavra do poema
faz olvidar a anterior,
se desprende um momento
do tronco multiforme da linguagem
e depois se reencontra com as outras palavras
para cumprir o rito imprescindível
de inaugurar outra linguagem.
E também cada silêncio do poema
faz olvidar o anterior,
entra na grande amnésia do poema
e vai envolvendo palavra por palavra,
até sair depois e envolver o poema
como uma capa protetora
que o preserva dos outros dizeres.
Tudo isto não é raro.
No fundo,
também cada homem faz olvidar o anterior,
faz olvidar a todos os homens.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são últimas coisas.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são também as primeiras.
A poesia de Roberto Juarroz (1925-1995) constitui uma presença indispensável nas letras argentinas. Publicou treze volumes de poesia, todos com o mesmo título de Poesía Vertical, mais o número da série. Em 1997, em edição póstuma, saiu Poesía Vertical XIV. Entre 1958 y 1965 dirigiu a revista Poesía=Poesía, onde, além do próprio Juarroz, publicaram Octavio Paz, Manuel del Cabral, Alejandra Pizarnik etc.
Ignacio Vázquez
16 comentários:
Gerana, devo confessar minha ignorancia a respeito do poeta Roberto. Por isso gosto de te ler. Ainda bem que tenho tempo de suprir essa lacuna e me penitenciar. Abraço.
Faz tempo que não vinha ao seu espaço e aoutros de que gosto, por mera desorganização. Falho de ideias, cheio de cansaço, não dei o devido acompanhamento aos espaços que prexzo. Agora, com tudo arrumado, vim deliciar-me com a poesia e com a crítica literária, sóbria, incisiva, pedagógica. Gosto das suas análises. Muito!
Gerana:
Vibro com poesia do sul da América e conheço tão pouco!
Obrigada pela dádiva! Excelente.
Beijinhos
Às vezes a poesia anda de mãos dadas com a filosofia. Não conhecia o poeta.
PS: A ideia do(s) livro(s) me passa pela cabeça. Mas as editoras são duras na queda. E das independentes, nem quero mais ouvir falar.
Olá, Gerana,
É a primeira vez que escuto falar de Robero Juarroz.
"cumprir o rito imprescindível
de inaugurar outra linguagem."
É isso mesmo.
Abraço,
JR.
Querida Gerana, muito obrigado pela traduccão do poema assim como da ínfima nota que escribí.De haber previsto tu generosidad, la hubiera escrito con mayor detenimiento...
Gracias a vos y a tus muchos y variados lectores.Un abrazo.
Linda Amiga:
Um conjunto de poesias que se vão anulando sucessivamente e formam a ternura, encanto e beleza imensos.
As suas!
Excelente!
Beijinhos amigos de respeito imenso.
Sempre a admirá-la e ao seu talento ímpar.
Bem-Haja pela ternura expressa no meu cantinho.
Maravilhado
pena
Adorei!
as palavras são um caminho, percorrê-lo faz esquecer o que passou, olhando apenas para o que vem imediatamente depois do que já passou.
A meta-linguagem dessa poesia foi bem posta pelo o autor, é complicado sempre falar da própria linguagem e do ato de escrever...
Ps-Escreva algo sobre Murilo Rubião
Muito bom esse poema do Robero Juarroz. Tem uma lógica, uma certa linha filosófica que segue. Este pensamento também já me passou pela mente:
'também cada homem faz olvidar o anterior,
faz olvidar a todos os homens.'
Talvez nossa eternidade tão sonhada seja esta: nosso fim,nosso esquecimento em nós próprios, nosso começo, nossa continuidade em outros.
Grande abraço.
Que lindo, como ele nos leva suavemente à sua conclusão de que tudo é novo na vida.
Ah, que alma possuem certos seres, capazes de tanta delicadeza. E que alma a sua que me brinda assim, seja com palavras alheias, seja com suas próprias. Obrigada Gerana!
Gostei, ele é originalíssimo, diz a simplicidade das coisas sem grande pretensão, gostei mesmo.
Lindo poema, Gerana! Belo.
Não deixei de pensar nesses versos do mestre Alberto Caeiro:
"Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..."
Obrigado pelo poema!
Beijos.
Jefferson.
gostei muito deste poema Gerana.peço autorização para o levar para o meu blog, com os devidos créditos.
[tem, no Mínimo, um texto que lhe dedico. por ter ficado a saber da sua admiração por Sophia de Mello Breyner Andresen...]
abraço
Gerana,
Não gosto muito deste tipo de poema de definições, que diz o que é uma coisa. Prefiro algo mais sutil, que leve o leitor a concluir o que se quer dizer ao invés de se dizer, por mais belo que seja a forma que se diga.
Talvez por não gostar deste gênero, meu impulso é sempre contestar o que se diz. rsrs
Beijos
Gerana.
Parabens por dar a conhecer a este poeta..
Roberto Juaroz
Um ilustre desconhecido por cá.
Um abrazo e feliz dia ( por ontem, né)
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