sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

SE ESCRITORA FOSSE


Gerana Damulakis

Não sei dizer com segurança o estranho efeito que Orhan Pamuk exerce sobre mim. São tantos os escritores que admiro e, aqui, estou bem restrita ao mundo dos escritores vivos em plena produção. Com Pamuk é mais do que admiração pelo estilo, prazer com a leitura de seus livros, êxtase diante de determinado título. Com Pamuk é algo no plano do imponderável, diferente da minha tietagem quando se trata de Saramago, de minha estupefação quando tiro o chapéu para Philip Roth , da consciência sobre a maestria de Coetzee ou Le Clézio, Ian McEwan ou Enrique Vila-Matas ou Juan José Millás, Haruki Murakami, Mario Vargas LLosa, Tomás Eloy Martínez, Amós Oz e assim por diante.
Um pouco de Pamuk:

Mesmo quando esses infortúnios desabam todos ao mesmo tempo sobre nós, já sabíamos havia muito que estavam de tocaia à beira de nosso caminho: já os esperávamos, já estávamos prontos para ele; ainda assim, no momento em que a nova nuvem de problemas nos avassala, como um pesadelo, sentimo-nos estranhamente sós, irremediavelmente sós, desesperadamente sós; e, incrivelmente, continuamos a sonhar com a felicidade que ela poderia nos trazer, se pelo menos conseguíssemos compartilhar a nossa dor com outras pessoas.

Enquanto digitava o trecho do romance O livro negro (Companhia das Letras, 2008), de Pamuk, lido mais de um ano atrás e, por urgência, retomado agora (releitura apenas das páginas, cujas pontinhas marquei), creio que compreendi que se escritora fosse, gostaria de ter esse modo de dizer, essa linguagem, esse estilo.

A medalha é para lembrar que Pamuk é Nobel de Literatura de 2006. Dele são os títulos: Meu nome é vermelho, Neve, O castelo branco, Istambul, O livro negro. A maleta do meu pai, discurso de recebimento do Nobel, é um texto que me fez derramar lágrimas 2 vezes, quando li e quando reli para Aramis. Todos os títulos foram editados pela Companhia das Letras, inclusive o discurso.

4 comentários:

Janaina Amado disse...

Gerana, tornei-me uma leitora apaixonada de Pamuk desde que ele foi à Flip, um ano antes do Nobel.
Adorei o título do seu post.
Eu acho que seria Nabokov (principalmente o dos contos).
Beijo carinhoso. Muito obrigada pelo seu comentário no blog.

Anônimo disse...

só li Istambul. Sabia que eu passei uns dois anos sem ler? Ou três? E quando estou no auge da escrevinhação(criação) não leio. PÔ! como dira meu paia: estou atrasada!

Unknown disse...

"Escrevo porque é animador transformar todas as belezas e riquezas da vida em palavras. Escrevo não para contar uma história, mas para compor uma história." Tenho uma lista de Pamuk para quando eu me tornar um escritor. Abraço.

Ana Cecília disse...

Gerana, eu li apenas "Neve", e assim fiquei, fascinada pelo escritor e pela escritura. A analogia - raríssima - que me ocorreu então foi entre Pamuk e Dostoievski. Tenho apenas a intuição (da leitora que fui quando adolescente), não um conhecimento minimamente sistematizado, mas foi como senti.
Que bom que você nos faz começar o ano com ele!
grande abraço.