sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

TRADIÇÃO E CRIAÇÃO

Gerana Damulakis


Às 11h30 da manhã do dia 28 de março de 1941, Virginia Woolf foi vista pela última vez por um empregado de uma fazenda próxima ao seu refúgio no campo, Monk’s House, em Rodmell, condado de Sussex, relativamente perto de Londres. Ela usava um sobretudo e uma bengala. Perto do rio Ouse, ela largou a bengala, encheu os bolsos do sobretudo com pedras e entrou no rio. Seu corpo só foi encontrado três semanas depois, por cinco adolescentes que passeavam de bicicleta na outra margem. Ela deixou cartas dizendo que não suportava mais, sabia que estava enlouquecendo.
O livro As Horas (Companhia das Letras, 1999), de Michael Cunningham, foi levado ao cinema e teve Nicole Kidman como Virginia Woolf: estava incrível, a imagem ficou retida. É Nicole Kidman quem vejo entrando naquele rio com o sobretudo cheio de pedras.
Virginia Woolf deixou romances, contos, ensaios. O ensaio Um teto todo seu (Nova Fronteira, 1985) é quase um manual para as escritoras. Contudo e ainda sob a leitura dos textos ensaísticos de Fuentes, é do seu romance mais aplaudido, As ondas (Nova Fronteira, 1980, tradução magistral de Lya Luft), que também pinço a frase da escritora Virginia Woolf, uma romancista com total consciência do ofício, dizendo que não há criação sem uma tradição na qual se nutra, assim como a tradição é mantida pela recente criação que a aviventa.

Não posso mover-me sem desalojar o peso dos séculos.
Virginia Woolf

7 comentários:

Unknown disse...

O peso dos séculos, a tradição. Nenhum escritor é uma ilha. Barthes dizia que a literatura vive a duelar com a linguagem e suas normas, para provocar a perversão. Quem escreve vive se debatendo com toda a herança literária e debalde tentando transformá-la em pasto próprio, o sumo do ofício. Obrigado por suas gentilezas.

Anônimo disse...

Seu texto, como de costume, irretocável. A citação? merveiê!

nydia bonetti disse...

Interligadas, sem dúvida, Gerana. Na literatura e na vida. Difícil mesmo é manter o equilíbrio entre ambas. Como bem lembrou Freitas: um duelo constante.

bjo.

Marcus Vinícius Rodrigues disse...

Querida Gerana,

De Virgínia Woolf tive uma deliciosa experiência lendo PASSEIO AO FAROL. Depois, li Orlando e Entre os atos. O filme as horas é ótimo. A música do Phillip Glass vai ficar pra sempre associada a Virgínia. As três atrizes estão incríveis.

Anônimo disse...

Gerana,
o menorzinho é Leonardo, abraçado a ele, de camisa, Eduardo -o mais velho dos meninos. E finalmente, de perninhas estiradas, Bernardo. Então Aramis, com minha carta, será que parece comigo?

Muadiê Maria disse...

28 de março...o dia de meu aniversário

Anônimo disse...

Vergonhoso, mas nunca li Virginia Woolf. Confesso, tenho medo de enlouquecer como ela.