Uma série de acontecimentos: eu já estava com vontade de levantar algumas questões sobre literatura e realidade, literatura e mentira. Tenho que explicar a razão para evitar conclusões erradas. Tudo surgiu por conta de indagações sobre a necessidade da verossimilhança na literatura. Isto surgiu discutindo com Hélio Pólvora em uma ocasião, depois com Luís Antonio Cajazeira Ramos — portanto, não tem relação com outras pessoas, claro está.
O outro ocorrido veio da releitura dos livros de Állex Leilla. Reli todos os contos dela. Admiro muito a literatura de Állex: prosa madura, vigorosa, fruto de seu total domínio e conhecimento da arte literária. Pois aí, nas “orelhas” do volume Urbanos, de Állex Leilla, encontrei uma colocação de Ruy Espinheira Filho, ao saudar a escritora, completamente de acordo com o que eu gostaria de plasmar aqui.
Em seguida, em conversa com Ruy, na sexta-feira, na ALB, disse tudo isto para ele. Ruy repetiu as palavras que estão abaixo, retiradas das “orelhas” do livro de Állex, quando ele suscitou a mesma questão para enfatizar o tanto que há de vida pulsando nas páginas de nossa escritora. A reprodução das palavras de Ruy respondem e arredondam todas as indagações sobre o assunto.
Tchekhov exigia verdade e honestidade na elaboração da obra literária. Sim, porque o escritor não pode ser desonesto, não pode falsificar os seus personagens, não pode trair a verdade da vida. Nunca entendi os que dizem — e até escritores já flagrei neste equívoco imperdoável (!) — que os ficcionistas são mentirosos porque contam histórias que não são reais.
Ora, como não são reais — apenas por que nunca aconteceram? São reais, sim, e aconteceram, e acontecem — só que num outro pavimento da existência, ou paralelamente a ela. Só seriam falsas se não fossem verossímeis — e aí também não seriam literatura. Não, os ficcionistas não são mentirosos: eles falam da vida — e com tanta verdade e honestidade que às vezes é bem mais cômodo pensar que tudo não passa de invencionice, que tais coisas só existem nos livros, pois é sempre delicado — para dizer o mínimo — perguntar por quem os sinos dobram. REF
4 comentários:
este texto lavou minha alma.
e obrigado pelo comentário lá no noticias do interior; um elogio seu é um atestado de viabilidade para meu blogue.
O que é preciso é entender que quando se fala de verdade e honestidade em um texto, nâo se está
dizendo que o personagem é real nem que os fatos aconteceram, como talvez possam supor os menos avisados. Fala-se sobretudo de coerência, além de outras coisas correlatas. E assino embaixo do texto publicado.
Gerana, adoro este tema, trabalhei-o também nas relações entre história e literatura. Maravilhosa a perspectiva de Ruy Espinheira, concordo inteiramente com ela.Duas dimensões do mundo, a concreta e a literária. Que se tocam, interagem, mas são diversas na natureza. Ambas verdadeiras. Ambas verossímeis.
Abraço!
Como já disse o Pe. Manuel Bernardes, séc. XVII: "(...) sendo a verdade a alma das histórias, ninguém duvide desta." Para ficarmos nas citações, esta muito conhecida tanto que vulgarida, de F. Pessoa: "(...) que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente." E dando continuação ao seu post anterior, a realidade, esta do entorno ou da distância, observada ou não, é sempre maior que nossa vã tentativa de "enquadrá-la".
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