terça-feira, 26 de maio de 2009

CARDO


Gláucia Lemos


Escolheste ser cardo.
Tua lenda se inscreve no traço
das cicatrizes em sangue
que desenhas.
Do espinheiro a dádiva é a dor.

Escolherias ser chuva
afago da vida sobre sementeiras
redenção ao sedento.
Escolherias fruto,
serias ao faminto mais que seiva,
polpa madurecida.

Escolheste ser cardo,
cardo te fizeste.
Não me venhas dizer que minha dor
feriu o teu espinho.


Foto: Cardo, por Juliovet, retirada do Flickr.

5 comentários:

Gerana Damulakis disse...

A última estrofe arremata o poema com uma força, como se a voz se elevasse em alguns tons. A simbologia soube ser terna e dura ao mesmo tempo. repito: a última estrofe dá vontade de ler em voz alta.

glaucia lemos disse...

Obrigada, amiga.Tem muito cardo que tenta se defender invertendo os papéis. Também serve para inspirar.Este poema tem uns 20 anos, não é recente.

Manuel Anastácio disse...

Bravo, Gláucia. O poema é lindo do ponto de vista sonoro, mas a realidade humana que lhe subjaz é intocável.

pereira disse...

Belos símbolos como disse nossa amiga, fortes, poéticos. Um poema-cardo.

glaucia lemos disse...

Pereira e Manuel, gratíssima. Manuel,é uma análise interessante a questão da intocabilidade da realidade humana, que você colocou.Mas não me ficou clara.Que tal por email, se possível?