sábado, 13 de setembro de 2008

METADES



Gláucia Lemos


Há os que passam
e passam como os trens
que não deixam senão o eco fugidio
do seu grito sem memória.
Além, no entroncamento das estradas
nada são.
São menos que ninguém.

Há os que, passada após passada
com que marcam
a saga passageira,
deixam sinais,
deixam mãos, deixam palavras.
E levam de quem fica o menor toque
e o recado do encontro.

Levou de mim, assim,
em cada movimento
do corpo, das mãos, dos olhos,
a minha pele, o meu tato,
e tudo o que os meus olhos puderam ver,
levou de mim, consigo.

E ficou
nos meus ouvidos, em todo o som
que puderem guardar,
de todo som em que o mundo se esparrama,
ficou a sua voz .
E assim vamos, metades repartidas.


Gláucia Lemos, ficcionista premiada, está organizando um livro de poemas. Foto "Metades", de Nika Fadul.

4 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Tão belo, Gláucia!Tocou-me como apenas a tristeza do que se perdeu sabe tocar.

Anônimo disse...

Acho que cheguei a sugerir a elaboração de um livro de poemas aqui neste blog. Aguardarei ambos, o de crônica e o de poemas. Você é uma artista em todos os gêneros. Estive ontem em lançamento triplo, esperava encontrá-la.

Anônimo disse...

Obrigada, Pereira. Eu quase fui, acabei não indo e lamentei, agora estou lamentando outra vez. E olhe que eu devia essa presença a Hélio Pólvora que fez a orelha do meu livro que vou lançar em outubro (quero você lá) e a Washington, que teve a delicadeza de deixar o convite na portaria do meu prédio. Mas às vezes, não dá, não é? Pois é,não deu...(Foi, você sugeriu o livro de poesias, terei coragem?Se não publicar, mando para você.)

Anônimo disse...

Pereira, desculpe se sou indiscreta, mas estou pensando que você é o meu velho amigo Orlando, que mora em Periperi e passo eternidades sem ver nem falar.Também escritor e dos ótimos. Bingo?