sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O AMOR MESMO PEQUENO É GRANDE


Ildásio Tavares



Dos meus pequenos amores, talvez
tenhas sido o maior. Ainda te vejo
esvoaçar viçosa pela calçada
na saída do cinema, atirando
o cabelo ao vento, com tua graça
atrevida de adolescente precoce
que gostava muito de ler poesia;
de desenhar; de discutir a razão
das coisas, das pessoas, dos
gestos e das atitudes e que me
desafiava com seu desdém de
jovem deusa. Mal acreditei quando
te vi, primorosamente nua no
desvario de minha cama de poeta
largado do destino – mais de
quarenta anos, contemplando
a flor de dezessete e abrindo
as suas pétalas de par em par.
Mal acreditei. Até hoje eu me
pergunto se não foi um sonho
aquela viagem, glória fugaz
e luminosa; capricho teu que
que não tiveste outra vez -
tão voluntariosamente foste
quão vieste e me abriste tua
corola, Ó ninfa fugidia.



Ildásio Tavares, poeta e ficionista, tem vários títulos premiados. Foto do Flickr, de John Monteiro.

3 comentários:

Letícia Losekann Coelho disse...

nossa que coisa linda isso! Adorei.

abraços

Gerana Damulakis disse...

Este é o tom de Ildásio. Aí ele pergunta: que tom? Tom Jobim, Tom Cavalcante....? - fazendo graça.
Sem brincadeira, estes poemas, com o tal "tom" de " O domador de mulheres" (título de um livro dele) são especiais.

Anônimo disse...

Se é questão de tom, Gerana, que tal o dó-maior, como lhe falei ao telefone? Aquele tom que não apresenta sustenidos nem bomóis na armadura, portanto, mais fácil para execução, no entanto sempre lindo, limpo, melodioso como mais esse poema de Ildásio.