sexta-feira, 4 de julho de 2008

CREDO I


Manuel Anastácio


Creio num só corpo,
Numa só onda,
Numa só corda,
Num só fim.

Creio, acredito
No sal bendito das lágrimas
Na concreta nudez
Da limpidez das águas
Na urgência do florir da terra
E em cobrir telas e folhas brancas
Com as transparências em que acredito.

Creio,
Num só grito.
Num só corpo,
Numa só onda,
Numa só corda.

E, por fim,
Num só múltiplo princípio.


Manuel Anastácio é um poeta português que vem nos encantando, seja pela firmeza de sua poesia, de cada verso logrado, de cada palavra escolhida, seja pelo que resulta em nós após cada leitura: aquele algo indizível, apenas reconhecido e aplaudido. Ele assina o blog Da Condição Humana: http://literaturas.blogs.sapo.pt/, ou diretamente com entrada nos meus favoritos.
A foto é “Uma furtiva lágrima”, de Silvia de Luque, retirada do Flickr.
Também retirada do Flickr foi a foto que ilustra o poema de Gláucia Lemos, “O Tigre”, intitulada “Tarde de outono”, de Tatiana.

6 comentários:

Anônimo disse...

Realmente é um poeta de primeira. E crer no que é concreto é o credo nº 1 do ser no mundo. O resto é sonho, ilusão. Como dizia o outro, la vida es sueño.

Anônimo disse...

Aí está uma profissão de fé cheia de verdade. Creio no que vejo, no que pego, no que tenho, e que tudo parte de um só princípio que se multiplica.
Uma tese, um princípio, uma verdade própria. Como sempre Manuel Anastácio e sua FORMA pessoal e marcante.

Anônimo disse...

Da terra de Pessoa não nos surpreende um talento como este. Parabéns pelo poema.

Gerana Damulakis disse...

Complementando: da terra de Pessoa, de Mário de Sá-Carneiro (que eu idolatro), de tantos mais....arredondando, da terra de Camões.
O Manuel Anastácio é um poeta excelente!

Anônimo disse...

Uau! Adorei o poema, Gerana. Muito forte.. gostaria de ler mais... ele publicou algum livro no Brasil?

Anônimo disse...

Caro Lima Trindade:

já respondi aqui a essa mesma questão: não tenho livro publicado no Brasil nem em Portugal... Mas se algum editor brasileiro quiser apostar em mim... Não me importaria nada de me estrear com um livro no Brasil... Só creio (tantos credos) que nem eu mesmo acreditaria (não vêem?) no caso, se acontecesse... :)

Abraço grande, amigos. Cada vez mais sinto o Brasil como, não segunda Pátria, mas algo mais que isso. Algo que merece um mergulho profundo na minha alma para saber o que é que há de tão tropical em mim, que nunca pisei terras de Vera Cruz, que nunca comi Vatapá, nunca...