segunda-feira, 26 de maio de 2008

POEMA DO MÊS


Eli Eli lama sabachthani?



Manuel Anastácio


Promete não dizeres mais nada

Entre os arcos desenhados pela minha voz.

De nós, nada mais deve restar agora

Que os dois num só, a sós.

Promete não dizeres mais nada

Enquanto durar a nossa constelação.

Promete manter o céu em silêncio

Até que venha a hora

Em que peçam explicação,

E remoam o espanto

Perante o silêncio de água e sangue

Que escorre dos meus flancos

– Depois de ter gritado a última acusação

Que ninguém compreenderá.

Porque, nessa hora, não me terás abandonado,

Mas aberto a porta

Para que, enfim, retorne, e entre de novo em mim.




Manuel Anastácio assina o blog Da Condição Humana (http://literaturas.blogs.sapo.pt/): há entrada para ele diretamente do leitoracritica.blogspot.com/, na coluna “Favoritos”.
Aqueduto de Pegões. Foto de Manuel Anastácio em Creative Commons

5 comentários:

Anônimo disse...

Versos tão belos que parecem sussurros. A vontade é a de dizer cada um bem devagar, um a um, com a boca encostada ao ouvido da amada. Parabéns para o poema do mês!
Gerana, como você está homenageando João Cabral e este dizia que um poema não é para ser lido em voz alta e, sim, sussurrado, encontrei, no poema escolhido para poema do mês, exatamente o exemplo perfeito do que Cabral pregava.

Anônimo disse...

Esse Manuel Anastácio existe mesmo, ou é um sonho de poesia que o inventa para os leitores acreditarem na emoção?

Carlos Vilarinho disse...

É verdade, Gláucia, o cara sabe entranhar o amor na poesia e vice-versa. BELEZA, compadre!

Anônimo disse...

Não dá para ler uma vez só, né? O poema fica pedindo para ser relido e relido. Baita mão de poeta. Meus aplausos.

Gerana Damulakis disse...

Eu já sou fã de Manuel Anastácio desde que entrei pela primeira vez no blog dele. Tanto os textos críticos, ensaios e afins, quanto os poemas e traduções são excelentes.