Eli Eli lama sabachthani?
Manuel Anastácio
Promete não dizeres mais nada
Entre os arcos desenhados pela minha voz.
De nós, nada mais deve restar agora
Que os dois num só, a sós.
Promete não dizeres mais nada
Enquanto durar a nossa constelação.
Promete manter o céu em silêncio
Até que venha a hora
Em que peçam explicação,
E remoam o espanto
Perante o silêncio de água e sangue
Que escorre dos meus flancos
– Depois de ter gritado a última acusação
Que ninguém compreenderá.
Porque, nessa hora, não me terás abandonado,
Mas aberto a porta
Para que, enfim, retorne, e entre de novo em mim.
Manuel Anastácio assina o blog Da Condição Humana (http://literaturas.blogs.sapo.pt/): há entrada para ele diretamente do leitoracritica.blogspot.com/, na coluna “Favoritos”.
Aqueduto de Pegões. Foto de Manuel Anastácio em Creative Commons
5 comentários:
Versos tão belos que parecem sussurros. A vontade é a de dizer cada um bem devagar, um a um, com a boca encostada ao ouvido da amada. Parabéns para o poema do mês!
Gerana, como você está homenageando João Cabral e este dizia que um poema não é para ser lido em voz alta e, sim, sussurrado, encontrei, no poema escolhido para poema do mês, exatamente o exemplo perfeito do que Cabral pregava.
Esse Manuel Anastácio existe mesmo, ou é um sonho de poesia que o inventa para os leitores acreditarem na emoção?
É verdade, Gláucia, o cara sabe entranhar o amor na poesia e vice-versa. BELEZA, compadre!
Não dá para ler uma vez só, né? O poema fica pedindo para ser relido e relido. Baita mão de poeta. Meus aplausos.
Eu já sou fã de Manuel Anastácio desde que entrei pela primeira vez no blog dele. Tanto os textos críticos, ensaios e afins, quanto os poemas e traduções são excelentes.
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