Gerana Damulakis
Foi-se o tempo em que se comprava o livro desejado nas livrarias. É tempo de compras pela internet. Eu mesma sou assídua compradora da livrariacultura.com.br., ou da cosacnaify.com.br. Mas vou indicar a compra do livro que cito abaixo diretamente pela imagoeditora.com.br. Trata-se do mais recente livro de contos de Aramis Ribeiro Costa. Se no seu primeiro livro de contos, A nota de Rosália (Editora Marfim, 1989), predominava a situação cotidiana que retirava o indíduo de sua rotina para colocá-lo frente ao acaso, no seu segundo livro, A assinatura perdida (Iluminuras, 1996), o insólito aparecia dentro de uma plausível ironia que desestabilizava o momento, sem esquecer de mirar também circunstâncias dramáticas, elas próprias independentes do traçado previsível pelo personagem, o qual não aguardava a mão do fado. Isto tudo se adensou em O mar que a noite esconde (Iluminuras, 1999), pois que o acaso já antes apontado vai se mesclando com um quê de espefacto diante de surpresas mais distantes ainda da previsibilidade. Faz-se necessário aqui apontar alguns exemplos. Se de A nota de Rosália retiro o conto "Praia" para ilustrar o acaso interferindo na vida cotidiana, haja vista um ocorrido banal ser suficiente para estragar o clima prazeroso de uma família numa manhã divertida na praia, vejo-me conduzida a retirar de A assinatura perdida, o conto mesmo que dá título a tal volume para mostrar a forma irônica como a mente pode nos trair a qualquer instante. Já no volume O mar que a noite esconde está o conto "A rosa de Natália", para mim magistral exemplo do comportamento humano, da incapacidade de lidarmos com as forças internas que nos colocam diante de surpresas criadas pelos desejos, pela pungência desses desejos, pela urgência em quebrar regras para sentir a vida, pela necessidade até de criar o drama pessoal. Não fica por aí a caminhada: O fogo dos infernos (Iluminuras, 2002), classificado como reunião de novelas, traz textos com elaboração e carga dramáticas mais complexas, desde logo graças ao texto estruturado para o gênero, constituindo uma leitura de peso dentro do universo do autor. Por esta via tenho que citar também a novela Episódio em Curicica (Selo Letras da Bahia, 2001) e o romance Uma varanda para o jardim (Editora Marfim, 1993). Para ficar na contística, vale lembrar que Baú dos inventados (Imago, 2003) é uma reunião de contos que o autor colheu dos livros anteriores e que Os bandidos (Imago, 2005) é um marco, uma plataforma quase, visando confirmar o autor como um contista de seu tempo, inteiramente de olhos abertos para os problemas do hoje, do aqui e da maneira como se está vivendo este aqui e este agora. Chegamos a Reportagem urbana (imago, 2008): sete contos fortes, sete vezes o momento crucial diante de nós. Sete é um número que diz muito: os sete dias da criação, os sete anos que Jacob serviu Raquel, as sete portas de Tebas, os sete pecados capitais, os sete muros que cercam a cidade Celeste, as sete obras da misericórdia,, os sete dons do Espírito, os sete andares do Céu, os sete planetas e os sete metais, as sete maravilhas da Terra, as sete estrelas do grupo das Plêiades, os sete braços dos sete candelabros empunhados pelos sete anjos que rodeiam o trono divino e que soarão as sete trombetas do Dia do Juízo ( lista de Almeida Faria, autor de O conquistador). De cada conto, um interessante confronto, grandioso e impactante. E mais não digo, apenas registrarei aqui o meu conto preferido deste livro: "A interminável noite de Percival". Leia o livro, opine aqui no blog, escolha o seu conto preferido.
3 comentários:
Tenho um orgulho danado de ele ter sido meu jurado. E você, querida? Como está? Sinto saudades de seus e-mails.
Beijos,
Renata
Quando será o lançamento?
Estou lendo Reportagem urbana. Como sempre, a marca do autor lá está com a clareza e o apuro que caracterizam estilo de Aramis, pronto e sem rodeios. A Longa noite de Percival está sendo o meu conto preferido, pela estrutura que traz um formato bastante instigante, e pela emoção que comunica.
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