Goulart Gomes
O livro AS CEM MELHORES CRÔNICAS BRASILEIRAS (Ed. Objetiva), organizado por Joaquim Ferreira dos Santos, merece uma crônica. Poucas são as coletâneas organizadas nos últimos anos que reuniram uma amostra tão bem selecionada quanto esta obra. Classificada cronologicamente, por décadas, o organizador teve o cuidado de escolher trabalhos muito representativos de cada período, numa precisa e deliciosa mostra do que de melhor já se escreveu nesse gênero, no país.
Um gênero que, aliás, já traz em si mesmo um desafio. É que algumas crônicas são evidentes, não deixam a menor dúvida quanto ao seu “caráter”. Mas outras são de difícil classificação, espreitando os limites do conto, das quais são primas. Esse é o caso de alguns textos inseridos na obra: “Os dois bonitos e os dois feios”, de Rachel de Queiroz; “O inferninho e o Gervásio”, de Stanislaw Ponte Preta; “Viúva inconsolável”, de Nelson Rodrigues e “Uma boneca ao relento”, de Ivan Lessa. Mas isso não tira o valor da antologia, ao contrário, enriquece-a e provoca a discussão, para quem gosta de uma boa briga.
A leitura das mais de 300 páginas é só prazer, desde “O nascimento da crônica”, de Machado de Assis até a sensacional “Bar ruim é lindo, bicho”, de Antonio Prata, passando por João do Rio, Lima Barreto, José de Alencar, Rubem Braga, Vinicius, Oswald e Mário, Graciliano, Paulo Mendes Campos, Drummond, Nelson Rodrigues, Fernando Sabino, Millôr, Clarice, João Ubaldo, Cony, Ferreira Gullar, Jabor e tantos outros craques da nossa literatura. Confesso que comprei o livro meio desconfiado, ainda “escaldado” pela série “Para Gostar de Ler”, que era “obrigado” a ler na juventude e me deixou alguns traumas. Mas, feridas cicatrizaram: fui resgatado por essa bela obra.
Rachel de Queiroz, em “Talvez o último desejo”, desabafa por todos nós, premidos entre o beijo e o escarro, entre mandar tudo para o inferno e cair de joelhos ante o humano. Em “A Sra. Stevens”, Mário de Andrade nos apresenta uma das suas mais patéticas personagens. Humberto de Campos destrói toda a bucólica ilusão dos casamentos de contos de fadas em “A mosca azul”. Mas, ao contrário, Rubem Braga realiza o sonho de todos os apaixonados em “Os Amantes”. Nelson Rodrigues mais uma vez devassa a alma do brasileiro em “Complexo de vira-latas”. O inimitável Campos de Carvalho retrata toda a desolação de um estrangeiro em “Londres, novembro de 1972” . João Ubaldo faz o desabafo que todo escritor que já viveu situação semelhante gostaria de fazer em “Dialogando com o público leitor” e Arnaldo Jabor faz um terno e cômico relato pessoal em “Meu avô foi um belo retrato do malandro carioca”. Isso só para falar de alguns, não necessariamente os melhores, mas aqueles que mais me encantaram.
Além de extinguir o pouco que me restava de antipatia a crônicas e a seleções de “melhores”, a leitura de AS CEM MELHORES CRÔNICAS BRASILEIRAS me proporcionou horas de verdadeiro prazer, viajando na criatividade e talento dos nossos verdadeiros “heróis”.
O livro AS CEM MELHORES CRÔNICAS BRASILEIRAS (Ed. Objetiva), organizado por Joaquim Ferreira dos Santos, merece uma crônica. Poucas são as coletâneas organizadas nos últimos anos que reuniram uma amostra tão bem selecionada quanto esta obra. Classificada cronologicamente, por décadas, o organizador teve o cuidado de escolher trabalhos muito representativos de cada período, numa precisa e deliciosa mostra do que de melhor já se escreveu nesse gênero, no país.
Um gênero que, aliás, já traz em si mesmo um desafio. É que algumas crônicas são evidentes, não deixam a menor dúvida quanto ao seu “caráter”. Mas outras são de difícil classificação, espreitando os limites do conto, das quais são primas. Esse é o caso de alguns textos inseridos na obra: “Os dois bonitos e os dois feios”, de Rachel de Queiroz; “O inferninho e o Gervásio”, de Stanislaw Ponte Preta; “Viúva inconsolável”, de Nelson Rodrigues e “Uma boneca ao relento”, de Ivan Lessa. Mas isso não tira o valor da antologia, ao contrário, enriquece-a e provoca a discussão, para quem gosta de uma boa briga.
A leitura das mais de 300 páginas é só prazer, desde “O nascimento da crônica”, de Machado de Assis até a sensacional “Bar ruim é lindo, bicho”, de Antonio Prata, passando por João do Rio, Lima Barreto, José de Alencar, Rubem Braga, Vinicius, Oswald e Mário, Graciliano, Paulo Mendes Campos, Drummond, Nelson Rodrigues, Fernando Sabino, Millôr, Clarice, João Ubaldo, Cony, Ferreira Gullar, Jabor e tantos outros craques da nossa literatura. Confesso que comprei o livro meio desconfiado, ainda “escaldado” pela série “Para Gostar de Ler”, que era “obrigado” a ler na juventude e me deixou alguns traumas. Mas, feridas cicatrizaram: fui resgatado por essa bela obra.
Rachel de Queiroz, em “Talvez o último desejo”, desabafa por todos nós, premidos entre o beijo e o escarro, entre mandar tudo para o inferno e cair de joelhos ante o humano. Em “A Sra. Stevens”, Mário de Andrade nos apresenta uma das suas mais patéticas personagens. Humberto de Campos destrói toda a bucólica ilusão dos casamentos de contos de fadas em “A mosca azul”. Mas, ao contrário, Rubem Braga realiza o sonho de todos os apaixonados em “Os Amantes”. Nelson Rodrigues mais uma vez devassa a alma do brasileiro em “Complexo de vira-latas”. O inimitável Campos de Carvalho retrata toda a desolação de um estrangeiro em “Londres, novembro de 1972” . João Ubaldo faz o desabafo que todo escritor que já viveu situação semelhante gostaria de fazer em “Dialogando com o público leitor” e Arnaldo Jabor faz um terno e cômico relato pessoal em “Meu avô foi um belo retrato do malandro carioca”. Isso só para falar de alguns, não necessariamente os melhores, mas aqueles que mais me encantaram.
Além de extinguir o pouco que me restava de antipatia a crônicas e a seleções de “melhores”, a leitura de AS CEM MELHORES CRÔNICAS BRASILEIRAS me proporcionou horas de verdadeiro prazer, viajando na criatividade e talento dos nossos verdadeiros “heróis”.
Goulart Gomes é autor, dentre outros, de Minimal (Copygraf Editora, 2007).------------------------------------------------Visite: http://www.movimentopoetrix.comhttp://www.goulartgomes.com
Um comentário:
Toda escolha é uma escolha pessoal, óbvio. Esta seleção é muito boa mesmo, mas cada um de nós faria diferente.
Postar um comentário