COTIDIANO
Gláucia Lemos
Gláucia Lemos
Pendura a roupa no varal
que seca.
Pendura a dor na corda do perdão.
Pendura o sonho que te faz poeta
que sonho é fogo que se ateia em vão.
Pendura o quadro na parede certa.
Pendura o amor no arame do passado.
E pendura este desejo que te seca,
que ele te sabe ao pão
mais amargado.
Pendura a chave numa argola aberta
Pendura a luta ao prego do cansaço.
E pendura essa fé que te alicerça,
que nada vale que lhe vás
ao encalço.
Pendura a toalha no cabide, reta.
Pendura o tempo em torno do vinho
e pendura o beijo em boca predileta,
que tudo acaba,
e acabarás sozinho.
JARDIM
Gláucia Lemos
As órbitas róseas das begônias fechadas
viajam pelos olhos dos lagartos
e os braços histéricos
das acácias
choram, todo o verão,
suas lágrimas de ouro.
Eróticos antúrios,
fálicos, eretos,
desafiam o pudor
da pudica mulher
que espreita da janela.
Gláucia Lemos é ficcionista bastante premiada, mas é poeta também!
A foto é de kkdraga retirada do Flickr.
4 comentários:
Maravilhosas as poesias! As palavras fortes, densas...que fazem parceria com a delicadeza!! Amei!
beijos
Cotidiano é incrível, foi o que mais gostei. Bjs.
Isso , Gerana! Gláucia tem cada saque que sacode tudo por dentro.
Cotidiano é incrível mesmo.
Adorei o poema, adorei mais ainda por ter minha foto ilustrando-o!!!!
Adoro poesia e costumo "ilustrar" minhas fotos com poemas!!!!
Parabéns!!!! vou ilustrar a foto com seu poema também!!!!
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