sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

POEMAS DO MÊS


COTIDIANO

Gláucia Lemos

Pendura a roupa no varal
que seca.
Pendura a dor na corda do perdão.
Pendura o sonho que te faz poeta
que sonho é fogo que se ateia em vão.
Pendura o quadro na parede certa.
Pendura o amor no arame do passado.
E pendura este desejo que te seca,
que ele te sabe ao pão
mais amargado.
Pendura a chave numa argola aberta
Pendura a luta ao prego do cansaço.
E pendura essa fé que te alicerça,
que nada vale que lhe vás
ao encalço.
Pendura a toalha no cabide, reta.
Pendura o tempo em torno do vinho
e pendura o beijo em boca predileta,
que tudo acaba,
e acabarás sozinho.



JARDIM

Gláucia Lemos


As órbitas róseas das begônias fechadas
viajam pelos olhos dos lagartos
e os braços histéricos
das acácias
choram, todo o verão,
suas lágrimas de ouro.

Eróticos antúrios,
fálicos, eretos,
desafiam o pudor
da pudica mulher
que espreita da janela.



Gláucia Lemos é ficcionista bastante premiada, mas é poeta também!
A foto é de kkdraga retirada do Flickr.

4 comentários:

Letícia Losekann Coelho disse...

Maravilhosas as poesias! As palavras fortes, densas...que fazem parceria com a delicadeza!! Amei!
beijos

Anônimo disse...

Cotidiano é incrível, foi o que mais gostei. Bjs.

Carlos Vilarinho disse...

Isso , Gerana! Gláucia tem cada saque que sacode tudo por dentro.
Cotidiano é incrível mesmo.

kkdraga disse...

Adorei o poema, adorei mais ainda por ter minha foto ilustrando-o!!!!
Adoro poesia e costumo "ilustrar" minhas fotos com poemas!!!!
Parabéns!!!! vou ilustrar a foto com seu poema também!!!!