quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA - O FILME


Goulart Gomes



Fui assistir, ontem, com um certo receio, o filme O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA, baseado no romance de mesmo título do genial Gabriel García Marquez. E meu receio deveu-se a dois motivos: o primeiro é que poucas foram as adaptações bem sucedidas, para o cinema, dos grandes livros da literatura universal. Em segundo lugar, o fato de que o maravilhoso da história não é trama em si, mas a fantástica narrativa do autor colombiano. O livro – que está entre os dez primeiros da minha lista de 100 (veja em Textos – Artigos) - foi iniciado em 1984, ao término do ano sabático que Gabriel se concedeu, após ganhar o Prêmio Nobel de Literatura e narra a história do amor platônico de Florentino Ariza por Fermina Daza, que se desenrola ao longo de mais de 50 anos, baseada na verdadeira história de amor dos pais do autor. Foram 622 mulheres que passaram pela cama do personagem central, mas nenhuma delas teve o poder de fazê-lo esquecer da mulher que verdadeiramente amava. Enfim, o filme me surpreendeu, conseguindo ser fiel à essência do livro e pela excelência dos atores, entre eles a brasileira Fernanda Montenegro, no papel da mãe de Florentino. Para aqueles que ainda não tiveram o prazer de ler a obra, transcrevo alguns trechos selecionados por mim:
“Mas se alguma coisa haviam aprendido juntos era que a sabedoria nos chega quando já não serve para nada.”

“Vinham dessa época suas teorias um tanto simplistas sobre a relação ente o físico das mulheres e suas aptidões para o amor. Desconfiava do tipo sensual, as que pareciam capazes de comer cru um jacaré-açu, e que costumavam ser as mais passivas na cama. Seu tipo era o contrário: essas rãzinhas sumidas, que ninguém se dava ao trabalho de olhar duas vezes na rua, que pareciam reduzidas a nada quando tiravam a roupa, que davam pena porque seus ossos rangiam ao primeiro impacto, e que no entanto podiam deixar pronto para a lata do lixo o maior dos gargantas...”

“Com ela aprendeu Florentino Ariza o que já padecera muitas vezes sem saber: pode-se estar apaixonado por várias pessoas ao mesmo tempo, por todas com a mesma dor, sem trair nenhuma. Solitário entre a multidão do cais, dissera a si mesmo com um toque de raiva: ‘O coração tem mais quartos que uma pensão de putas.” Estava banhado em lágrimas com a dor dos adeuses. Contudo, mal desaparecera o navio na linha do horizonte e a lembrança de Fermina Daza tinha voltado a ocupar seu espaço total.”

“É incrível como se pode ser tão feliz durante tantos anos, no meio de tanto bate-boca, tantas chateações, porra, sem saber de verdade se isso é amor ou não.”

“’Nós homens somos uns pobres criados dos preconceitos’, ele tinha dito certa vez. ‘Em compensação, quando uma mulher resolve dormir com um homem não há barreira que não salte, nem fortaleza que não derrube, nem consideração moral nenhuma que não esteja disposta a varar de lado a lado: não há Deus que valha’”.
“Pois tinham vivido juntos o suficiente para perceber que o amor era o amor em qualquer tempo e em qualquer parte, mas tanto mais denso ficava quanto mais perto da morte.”




Visite: http://www.movimentopoetrix.comhttp://www.goulartgomes.com/


Goulart Gomes é autor de, entre outros, Minimal (Copygraf Editora, 2007).

9 comentários:

Letícia Losekann Coelho disse...

Li o livro mas ainda não vi o filme! Tenho um pouco de medo de ver os filmes pq as vezes deturpam o que está escrito nos livros...Mas tu está dizendo que vale a pena...Então vou ver o filme sem medo de errar! Boa dica para o final de semana!
beijos

Anônimo disse...

Vou lá assistir o filme. Oxalá não estrague um livro tão perfeito.

Anônimo disse...

Goulart: podemos adorar o filme, mas, veja, o poder da palavra escrita para nós. Dois filmes não ficaram devendo aos respectivos livros: Uma Paixão em Florença, de Somerset Maugham (aliás, há outros dele: O fio da navalha, O destino de um homem, a literatura dele se presta bem para a transposição)e As horas, de Michael Cunningham. Este último me deu muito prazer, até os diálogos eram iguais aos do livro e, você que me conhece sabe, a literatura sempre em primeiro lugar. Mas As horas foi fascinante!

Anônimo disse...

Goulart, fiquei motivada para ver o filme. O livro é dos mais comoventes que já li, sem falar naquela narrativa impar do Gabriel GarciaMarques, que pode escrever tudo, até a Memória das putas tristes - lá dele - sem nunca aborrecer o leitor, sem perder o estilo. Acho que assim que der conta da pilha que está à minha espera, vou reler O Amor nos tempos do cólera.Muito bom seu comentário, grata por ele.

Goulart Gomes disse...

Gerana: também gostei da versão para o cinema de O PERFUME, de Patrick Suskind. Ficou perfeito!

Anônimo disse...

Por acaso, não gostei muito da versão em filme. Não porque não chegue aos calcanhares do livro (nem tem que chegar, são coisas diferentes), mas porque não me deu um pingo da emoção que tive a ler a obra. Leio de um modo cinéfilo; sou um realizador de cinema na minha cabeça e, definitivamente, a minha versão cinematográfica não seria aquela. Não gosto daquela fotografia de cores apasteladas. Não gosto de se ter saltado tão levianamente a preparação do funeral por Florentino Ariza... Enfim, não gostei de quase nada. Mas o cinema é como a literatura: ainda bem que todos sentimos as obras de arte de modo diferente.

Jamille Passos disse...

é realmente inacreditável que alguém que tenha feito um comentário tão preciso e apaixonada da obra em comento possa ter gostado de sua adaptação triste e fria para o cinema (tudo bem que gosto não se discute).

Ter assitido ao filme foi desapontador para mim.Esperava muitíssimamente mais, pois costumo imaginar na minha cabeça a história narrada com personagens reais, como em uma novela.

Todo o cenário maravilhoso, os sentimentos à flor da pele, a narrativa emocionate de Gárcia Márques se perderam por completo nesta obra ínsipta.Nunca antes assisti a uma adaptação que arruinasse mais a obra original do que esta, foi uma total falta de respeito ao autor e aos seus fiés e apaixonados leitores.Não rcomendo o filme a ninguém, pois até atrapalha na hora de reler o livro e quem não o leu com certeza perderá a vontade de fazê-lo depois de assitir essa ridícula "novela mexicana".

Alenquer disse...

Ótimo filme, ótimo livro. Leia-se um e assista ou outro ou, assista o filme e leia-o depois, vai gostar de todo jeito. Gosto de cinema e de literatura e sou "normal". Parabéns a Leitora Crítica pelo post, o fez com propriedade. Já àqueles em dimensão superior: que pena, o mundo ficou menor pra vcs. Abraço a todos.

Anônimo disse...

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