Gerana Damulakis
Na parte I da avaliação anual das leituras, Istambul, livro de Orhan Pamuk foi tido como o de leitura mais gratificante, mas se miro o começo do ano, lembro como J. M. Coetzee foi o autor mais lido nos meses seguintes. E tudo graças a um encontro não marcado com Mirella Márcia Vieira Lima, autora de Confidência Mineira — o Amor na Poesia de Carlos Drummond de Andrade (edusp, 1995). Com Mirella e um amigo que a acompanhava o assunto girou em torno das leituras e ela elogiou muito Desonra (Companhia das Letras, 2000), enquanto eu lembrava de Dostoiévski, o mestre de São Petersburgo (Best Seller, 1997), ambos de Coetzee. Naquele dia eu havia comprado Naufrágios (Best Seller, 2003), de Akira Yoshimura, que acabei lendo de uma sentada, haja vista o arrebatamento que tal tipo de leitura me proporciona, por conta da profundidade emocional dos clássicos japoneses (creio que posso incluir este romance na definição para clássico embora o tempo talvez ainda não permita). Mas estávamos com o Prêmio Nobel de Literatura de 2003 e cabe apontar mais um título, Homem Lento, que a Companhia das Letras editou em 2007. Como quero enfatizar, dada a conversa com Mirella, fiz um levantamento dos romances de Coetzee já traduzidos para nossa língua. Li tudo que todavia não tinha lido: Juventude, A vida dos animais, À espera dos bárbaros — este último suscita uma vontade de fazer um paralelo com O deserto dos tártaros, de Dino Buzzati, e o poema de Kaváfis do qual Coetzee se serviu explicitamente no título. Com a maestria de seu estilo cativante, Cotzee pode contar qualquer história, pois aqui o encantamento vem da maneira de narrar. Isto tudo complementou o que já era conhecido, como o passeio com Dostoiévski, Vida e época de Michael K, Eizabeth Costello e Desonra.
Seguindo, do contrário não acabo e fico a escrever sobre livros...Vou destacar, dando um pulo de fevereiro para dezembro, os mais recentes títulos instigantes: Homem Comum, de Philip Roth e Homem em queda, de Don DeLillo, ambos saídos pela Companhia das Letras, 2007. Agora vou colocar aqui uma curiosidade: quantos romances usando o substantivo “homem” no título! Não é coincidência de tradução; em inglês seus títulos são The falling man, para Homem em queda, e Everyman para Homem comum. Já Slow Man é o título original do livro de Coetzee: Homem lento. Algo mais em comum entre eles? Muito em “comum”, dito de formas diversas — vale um texto, que farei de modo “lento” sobre isto, pensando na nossa “queda”, a inexorável condição do “homem”.
Por fim, um olhar para a ilha britânica, pois é de lá o autor Ian McEwan. Dele resenhei Na praia (Companhia das Letras, 2007), para a Tribuna da Bahia, texto que também está neste blog, mas a sugestão vai para Amsterdam (Rocco, 1999), que por si diz muito sobre a razão que faz McEwan ser considerado um dos mais importantes escritores contemporâneos. Parece que esqueço a literatura brasileira: para provar igual fascinação revelo o quanto foi devastador ler Histórias de literatura e cegueira(Record, 2007), de Julián Fuks, sobre Borges, Cabral e Joyce: vale muito este encontro emocionante com os três mestres da palavra.
4 comentários:
hum...Gostei da dicas que colocaste , li bastante este ano... e já iniciei o ano bem, comecei a ler o livro do Flamorion Ontem, e é tão gostoso que estou quase no final!!
beijos meus
Tita: fico muito contente que meus "afilhados" estão estabelecendo esta ponte com você. Realmente, Flamarion tem muito talento. Assino embaixo.
Para Tita: acabei não colocando algo que pensei. Vou colocar: não só estou contente que meus amigos estejam em contato com você, mas estou também muito contente por termos começado esta troca. Com sinceridade: foi algo de muito legal que aconteceu em 2007.
Fico feliz também com essa troca Gerana! Adoro ler os teus post´s e dos teus afilhados, eles são fantásticos! E ter teus comentários no meu blog é muito importante para mim! :)
beijos
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